sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A outra caixa

O último post foi sobre o CD que eu achei abrindo as caixas da mudança. Esse é sobre um CD que eu achei em outra caixa, minha memória. Essa caixa não é você quem decide quando abrir. Alguém abre ela e joga na sua frente e você é sugado para dentro de um túnel do tempo. Quando menos espera, está em outro lugar. 

Foi essa a sensação que tive quando cliquei no link do vídeo abaixo, que minha tia tinha postado no facebook para celebrar o aniversário de 51 anos da Paula Toller:



Voltei para Brasília. Estava lembrando do segundo grau no Sigma e da Paula Toller novinha até ela decidir dar aquela nota longuíssima (1'52''). A nota me trouxe de volta para 2013 e para a Paula Toller com os cabelos e as sombrancelhas da mesma cor. Sim, aquela nota arruinou minha viagem no tempo.

Daí eu fui procurar a versão original da música, e encontrei também a Paula Toller que eu conheci em Brasília: cabelo descolorido com água oxigenada e sombrancelha preta, junto com os dois outros membros da trupe.

 

Voltei pro Sigma. Lembrei do uniforme verde de educação física. De passar a tarde no telefone com as amigas. De ir ao ParkShopping no fim de semana. E de me preocupar com coisas que hoje em dia não me preocupam mais, como calças bag, ombreiras e minhas espinhas...

E daí eu vejo o comentário do adolescente, José Vicente, debaixo desse vídeo: "Daria tudo pra ter meus dezesseis anos nos anos 80 e não em 2012..."  

Daí fui transportada para um universo paralelo, onde encontrei o José Vicente. Ele me dizia:

- Daria tudo pra ter meus dezesseis anos nos anos 80 e não em 2012...  
- Foram bons tempos, José Vicente. 
- Eu sei! Imagina, poder crescer ouvindo essas músicas, dizia ele apontado pra a Paula Toller no iPhone.
- Sim, as bandas eram inacreditáveis. Não me entenda mal. Mas imagine passar um único dia sem o privilégio de ter seu próprio telefone (ao invés de ter um com fio, no meio da sala, com direito a toda a família ouvindo suas conversas), de ter google (ao invés de ter que consultar as páginas amarelas, mapas, pessoas), e não ter que escrever os trabalhos da escola à mão, em uma folha de papel almaço, depois de uma longa visita à biblioteca.
- É, ia ser difícil....
- Foi uma época ótima, mas estou mais feliz com Google, meu celular e a Paula Toller lindíssima e com o cabelo e sombrancelhas devidamente pintados.

Fechei a caixa da memória, coloquei ela de volta na estante. E espero que quando eu completar 51 anos, tenhamos todos Google Glasses para assistir uma Paula Toller ainda mais bonita...
 

domingo, 18 de agosto de 2013

Attaboy

A melhor parte da mudança é abrir uma caixa e achar um CD que você tinha comprado e ouvido sem parar durante dois meses, até se mudar:


Essa vai ser a trilha sonora até a próxima mudança.

sábado, 10 de agosto de 2013

Instituições ou Morte!


Essa semana, meu primo me mandou a seguinte notícia que ele leu na UOL: "Sarney tem bactéria resistente a antibióticos e amostra é enviada aos EUA para análise". Mandou também o comentário do cidadão, que meu primo considerou piedoso: "Rezamos para que
você consiga se livrar desse parasita!! Força, bactéria!". 


Eu ri. Afinal, todos queremos nos livrar do Sarney, mas o parasita continua onipresente na vida política brasileira. Como bem colocou o macaco Simão na Folha de hoje: "Tão dizendo que tem um Sarney na bactéria! A bactéria é o sarneizossaurus! foram tentados os antibióticos: Collormicina, Lulomicina, Dilmicina, FHcina e até Barbosamicina."

Mas a questão não é engraçada. Na verdade, é trágica: vivemos em um país em que morte é a única forma de nos livrarmos de figuras indesejadas na política. E ainda assim, as vezes mesmo a morte não resolve o problema: veja o caso do ACM, que perdeu o filho para um infarto, mas deixou o neto para preservar seu legado. 

Com frequência ouço as pessoas dizerem que a culpa é dos brasileiros, que não sabem votar, não lembram em quem votaram na última eleição, etc, etc. Mas o buraco é mais embaixo. Eleger pessoas de caráter questionável e desprovidas de competência e boas intenções não é um privilégio nosso. Pense no Nixxon, nos Estados Unidos. Ou se vocês
quiserem falar de membros do congresso, vale lembrar o caso de Cunningham, acusado em 2005 de receber dinheiro para testemunhar a favor de empresas contratadas pelo governo e acusadas de fraude. 

E, para não deixar o Canadá de fora, a cidade de Toronto conta atualmente com um prefeito que é, para dizer o mínimo, indesejável. Os escândalos de Rob Ford são muitos. Primeiro, o prefeito usou um ônibus urbano para transportar seu time de futebol. Depois, o prefeito foi acusado de usar cartas oficiais para solicitar contribuições para o mesmo time de futebol. Por causa disso, foi condenado por conflito de interesse e removido do cargo, mas venceu o caso na decisão final de judiciário. Isso foi seguido de acusações de alcoolismo, incluindo um episódio de bebedeira em um jantar oficial. As acusações mais recentes são que o prefeito é viciado em crack, foi traficante quando era jovem, e mandou matar uma pessoa que supostamente estavam com um vídeo mostrando o envolvimento dele com drogas. Em suma, Rob Ford não é flor que se cheire. 


O histórico de Ford não é ruim apenas no âmbito pessoal. As propostas que ele apresentou para governar a cidade de Toronto seguem o mesmo padrão da vida pessoal dele: altamente questionáveis.  

Primeiro, ele propôs reduzir o orçamento das bibliotecas e eventos artísticos na cidade, mas a proposta foi vetada pelo conselho municipal. Depois, ele propôs uma linha de metrô em um subúrbio distante (onde a maioria dos seus eleitores mora...), e a proposta foi inicialmente vetada pelo conselho municipal. O veto foi baseado em um relatório da secretaria de transportes indicando que, com o mesmo orçamento para uma única linha de metrô servindo uma única vizinhança, era possível (e preferível) construir linhas de bonde de superfície, o que eles chamam aqui de light rail, servindo tanto essa vizinhança quanto muitas outras. Ou seja, pelo mesmo preço era possível expandir o transporte público para vários pontos da cidade, não apenas um único. Recentemente, a proposta foi reconsiderada, e o conselho aprovou a construção do metrô no subúrbio sob uma condição: o prefeito precisa angariar fundos para o projeto de alguma outra fonte. Não se sabe onde e como ele vai levantar esse dinheiro. Por fim, Ford decidiu propor a construção de um cassino na cidade, gerando empregos e aumentando a arrecadação de impostos da prefeitura. Depois de muita controvérsia, a proposta foi vetada pelo conselho municipal. 

Esses exemplos mostram que todo país ou cidade corre o risco de eleger políticos incompetentes e com princípios e valores moralmente questionáveis. A questão é o que acontece quando se percebe que uma pessoa que não deveria estar ocupando um cargo eletivo está lá? Nos dois casos norte-americanos que citei, os dois renunciaram aos cargos. No caso Canadense, tentaram tirar o Rob Ford da prefeitura, mas o judiciário não deixou. Ainda assim, a longa lista de projetos dele vetados pelo conselho municipal mostra que, apesar dele continuar no poder, ele não consegue governar como gostaria. Ou seja, o estrago que Ford poderia causar na cidade é minimizado por instituições que estão lá para controlar loucos e desvairados que são eleitos de quando em quando. Tanto é verdade, que logo no início do mandato de Ford, seu irmão e principal assessor (!) queria que o prefeito pudesse vetar decisões do conselho municipal. Basta dar uma olhada no parágrafo anterior para entender o por quê da proposta. A sorte é que, como muitas outras idéias dele, essa ficou a ver navios. 


Em suma, não se trata de saber votar ou não saber votar (em especial se considerarmos o fato de que o sistema de lista aberta no Brasil tira o poder do eleitor de determinar quem de fato será eleito com aquele voto). Idiotas e criminosos existem no mundo todo e muitos deles estão votando, enquanto outros estão concorrendo para cargos eletivos. Não dá, portanto, para evitar a eleição dessas pessoas em um sistema democrático. O que dá para fazer é criar instituições que controlem quem foi eleito. Ou seja, é preciso haver mecanismos institucionais que permitam a retirada dessas pessoas do cargo, quando necessário. E o exemplo Canadense mostra que é preciso também ter instituições para controlar essas pessoas, para que elas não façam um estrago muito grande se continuarem no poder. 

É por isso que a conversa sobre reforma política no Brasil precisa ser retomada. Precisamos de novas instituições. Sem isso, vamos continuar aqui torcendo para que o Sarney não consiga matar a bactéria....