domingo, 28 de fevereiro de 2010

Depressão, drogas e dopamina

Um novo estudo tem causado polêmica na comunidade científica: alguns pesquisadores, intrigados com fato de que uma doença tão debilitante como depressão possa afetar tantas pessoas, resolveram perguntar se a doença tinha algum benefício. A razão para a pergunta é simples: a teoria da evolução de Darwin sugere que indivíduos menos aptos perecem, enquanto os mais saudáveis sobrevivem. Com depressão, no entanto, a seleção natural não parece ter ocorrido. Uma possível explicação, que levou à especulação desses cientistas, é que deve haver algum benefício na doença que nós desconhecemos.

A resposta deles é sim, há um lado positivo da depressão.
A depressão cria uma ciclo de reflexão (ruminações) que aprimora o uso das capacidades analíticas do cérebro, permitindo que a pessoa analize os problemas com mais clareza e maior profundidade. Apesar da conclusão se aplicar apenas a depressões episódicas (ou seja, eventos depressivos causados por fatores de stress, como uma morte na família ou um divórcio), a pesquisa é de extrema importância. Ela sugere que para grande parte das pessoas diagnosticadas com depressão, o uso de medicamentos talvez seja o tratamento menos recomendado. Em contraste, fazer terapia parece ser muito mais efetivo para esses pacientes.

Segue um trecho do artigo que divulgou o resultado das pesquisas:

"Às vezes os sintomas podem sair do controle. O problema, todavia, é que nossa sociedade passou a ver depressão como algo que deve ser evitado e medicado imediatamente em qualquer hipótese. Nós tentamos tão arduamente remover o estima associado à depressão que acabamos estigmatizando a tristeza também. Para Thompson, essa nova teoria sobre depressão tem um efeito direto na prática da medicina. Recentemente, Thompson tem reduzido a prescrição de medicação para seus pacientes, porque ele acredita que em alguns casos os remédios podem atrapalhar a recuperação dos pacientes, ao tornar mais difícil que esses pacientes resolvam seus dilemas sociais. Ele relata um episódio em que uma paciente entrou no seu consultorio e pediu para que ele reduzisse a dosagem da medicação. Ele perguntou se a medicação estava funcionando, e ela respondeu algo que ele nunca esqueceu:

"Sim, o remédio está funcionando maravilhosamente bem. Estou me sentindo muito melhor. Mas eu ainda estou casada com o mesmo alcóolatra filho da puta. A única diferença é que agora eu tolero ele."

Ou seja, a conclusão do artigo é que em casos como esse a medicação está tratando da febre (sintoma) e não da infecção (causa do problema). Para pessoas como essa, terapia seria uma melhor solução.

Esses pesquisadores entram para uma lista longa de pessoas nos Estados Unidos que estão atualmente preocupadas com uso excessivo (e em alguns casos desnecessário) de medicamentos pela comunidade médica. Uma outra pessoa que adota o mesmo discurso é essa cientista que investiga como o cérebro funciona quando estamos apaixonados.



Eu já tinha colocado um link para esse vídeo no blog, mas agora vai o link com a versão com legendas, que foi recentemente disponibilizada na internet (aperte o botão "view subtitles" e escolha portuguese). A conclusão geral é que talvez os anti-depressivos impeçam pessoas com depressão episódica não só de resolver seus problemas, mas também reduzem as chances delas se apaixonarem (porque suprime a dopamina no cérebro, que é responsável por sentimentos relacionados a paixão e afeto). E como diz a Helen Fisher, um mundo sem amor é um lugar horrível pra se viver.

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