domingo, 9 de maio de 2010

Dia das Mães

Sou péssima pra comprar presentes. Não faço a menor idéia do que comprar e sempre acabo dando livros. Acho que minha absoluta incapacidade de escolher presentes está ligada ao fato de que eu não sei fazer compras. Portanto, todo mundo que me conhece sabe que eu nunca apareço com um presentinho casual (aquele do tipo "vi isso em uma loja e achei a sua cara"). Raramente vou em lojas e quando eu vou -- normalmente por absoluta necessidade -- não consigo ficar olhando coisas e achando "presentinhos" para pessoas. Portanto, a não ser que você queira ganhar um livro, não me convide para sua festa de aniversário...

Há ocasiões, todavia, em que não dá pra escapar. Natal, por exemplo, exige presentes. Por sorte, minha família é pragmática e decidiu substituir o troca-troca de presentes por um amigo oculto. Portanto, o que poderia ser um pesadelo na face da terra pra mim (i.e. ter que escolher presentes pra todo mundo da família, sem poder entrar em uma livraria e sair com 25 livros), se tornou uma atividade bastante simples. Após o sorteio, usamos um website para divulgar nossa "wish list" e basta ver o que seu amigo oculto pediu e comprar. E voilá. Simples assim.

(um pequeno parênteses pra declarar que apesar das divergências, ou talvez por causa delas, minha família é o máximo!)

Entretanto, há ocasiões em que não dá mesmo pra escapar, como dia das mães. Aqui não tem amigo oculto pra me salvar. Minha salvação, nos últimos anos, tem sido uma parceria estratégica com minha pequena grande irmã (nota de rodapé: o título pequena grande irmã se deve ao fato de que minha irmã é mais nova -- daí o pequena -- e é uma versão aprimorada de mim -- daí o grande). Nessa parceria, concordamos em dividir o valor de um presente comum que, obviamente, é minha irmã quem escolhe. E assim fica todo mundo feliz. Minha mãe ganha um presente bom. Minha irmã fica feliz porque juntando forças conseguimos comprar um presente mais caro e melhor do que os presentes que compraríamos sozinhas. E eu fico extremamente agradecida com o fato de que eu não tenho que passar pelo desespero de encontrar um presente e também não entulho a estante da minha mãe com mais um livro.

O problema é que esse ano não conseguimos coordenar nada. Acho que tanto eu quanto minha irmã estamos tão ocupadas que nem deu sequer tempo de cogitar a possibilidade de uma potencial parceria. E eu fiquei aqui, sozinha, com a tarefa de pensar em um presente legal pra minha mãe. E eu queria evitar dar o quinquagésimo sexto livro pra ela. Fiz uma lista de potencial coisas. Pensei que talvez ela gostasse de uma cesta de café da manhã, alguma roupa, ou quem sabe um bichinho de estimação. Mas acordei na quinta-feira e me deparei com uma lista do que não comprar estampada na segunda página do jornal. E a lista incluia tudo que eu havia pensado, e tudo que eu potencialmente poderia pensar, caso desistisse de comprar o que tinha pensado.

O colunista Vinay Menon, do Toronto Star, sempre tem coisas interessantes pra dizer. Portanto, por mais que eu esteja sem tempo, sempre dou uma olhada na coluna dele. E justo na quinta-feira, quando eu estava me preparando pra comprar o presente, ele vem com uma lista de 10 presentes que nenhuma mãe no mundo iria gostar. A lista começava com equipamentos de ginástica, o que não seria nunca um presente adequado pra minha mãe, que tem aversão a esportes. Pulei para o segundo: cesta de café da manhã. Como não? O colunista explicava que essa era uma tradição que fazia sentido quando as mulheres estavam sozinhas encarregadas das tarefas domésticas, incluindo cozinhar. A cesta era, portanto, a libertação dos escravos, ainda que por algumas horas do dia somente. Hoje em dia, todavia, com as tarefas da casa sendo igualitariamente divididas entre homens, mulheres e crianças, o ritual perdeu o significado. Além disso, o colunista questiona a qualidade do café, dos biscoitos e das frutas dessas cestas. E, de fato, acho que várias mães prefeririam ter preparado o café pessoalmente. Risquei a cesta da minha lista.

Terceiro item: coisas para o lar. O colunista nem se deu ao trabalho de explicar. E eu nem me dei ao trabalho de questionar. Até eu sei que esse é um péssimo presente. Quarto item: um bilhete de loteria. O colunista explicou que as chances de uma pessoa ganhar são mínimas. E minha família já aprendeu isso no Natal passado. Ainda que minha mãe tenha colocado um comentário esperançoso no post sobre o bilhete de loteria, acho que ela não ia ficar feliz com um presente de dois reais... Quinto item: peças de roupas estranhas e aleatórias. De fato, o colunista tem razão. Se eu tentar comprar roupas para minha mãe, não há descrição melhor do que vou conseguir comprar. Algo estranho. Mais do que isso: algo absolutamente aleatório. Mais um item fora da minha lista. Sexto item: um cartão eletrônico. Segundo o colunista, não há nada pior. Pra mim não há nada pior do que não achar nada pra dar de presente, e ainda não poder mandar um cartão eletrônico no dia das mães, simplesmente porque eu não sou organizada o suficiente pra lembrar de mandar o cartão de verdade com antecedência. Decido que talvez ligar seja uma melhor idéia, mas ainda falta o diabo do presente...

E agora faltavam somente quatro items na lista do colunista e apenas um na minha lista, o animalzinho de estimação. O colunista elimina sais de banho e ferramentas de jardinagem no sétimo e oitavo itens, e eu pulei a explicação porque minha mãe não tem um jardim ou uma banheira. Nono item, animal de estimação. Pronto. Lá se ia o último item da minha lista. E a explicação do colunista fazia sentido: depois de dar tanto trabalho pra sua mãe, você quer dar ainda mais trabalho pra ela agora, quando ela conseguiu se livrar de você? Bom ponto. E essa é a mesma razão pela qual ele descartou plantas, como o décimo item da lista. Depois do trabalho todo que a gente dá como crianças, mesmo regar uma plantinha todo dia ia ser meio que um presente de grego...

Depois de ler a coluna, não sabia se sentia alívio ou desespero. Por um lado, o colunista me salvou de fazer uma burrada. Por outro, estava eu, há três dias da data, sem nenhum presente pra dar pra minha mãe. E o mais irônico é que dois dias antes eu tinha recebido uma caixa pelo correio, com vários presentes que minha mãe mandou. Diferentemente de mim, minha mãe sabe comprar presentes. Ao invés de cestas de café com coisas ruins, ela me mandou café brasileiro e deliciosas sobremesas de banana para diabéticos. A caixa tinha também peças não aleatórias de roupa que cairam como uma luva em mim e combinam com várias peças do meu guarda-roupa (que é na maior parte responsabilidade, ou devo dizer mérito, da minha mãe). Ao invés de "coisas do lar", minha mãe me manda toalhas lindíssimas, porque ela sabe que as últimas que ela me deu estão usadas e ela também sabe que eu não saí pra comprar toalhas novas. Ela ainda me mandou um sapato extremamente confortável, que é perfeito pra eu ir trabalhar, pois minha mãe sabe que não há sais de banho ou kit de beleza para os pés que substitua um bom sapato. Por fim, minha mãe fez uma seleção super legal de revistas com um monte de matérias interessantes sobre o que está acontecendo no Brasil. Ficar sabendo dos debates brasileiros, em especial os que envolvem políticas públicas bate, de longe, qualquer livro...

Decidi que qualquer tentativa de retribuir o presente ia ser em vão. Portanto, minha mãe vai ganhar: (i) mais um livro, (ii) toda minha admiração por essa capacidade incrível de escolher presentes e tomar conta de mim apesar dos 10.000 quilômetros de distância e (iii) um post para que ela saiba que se eu soubesse como fazer isso ela também estaria recebendo uma caixa cheia de presentes agora...


5 comentários:

Maria Regina disse...

Oi Mariana....

Obrigada por ser lembrada no seu blog.Este já é um presente !!! Vc também foi lembrada no almoço das mães. Sua tia Zezé preocupadissima em tirar foto dos pratos para enviar a vc.Aguarde!

Beijos
Sua Mãe

Theresa Miedema disse...

A blog post...the gift that keeps on giving. Good job, Prado.

Dona Regina, obrigada por café brasileiro. Mariana me fez uma xícara de café brasileiro. Foi excelente.

Anônimo disse...

irmã querida, obrigada mais uma vez pelo "pequena grande irmã".
certamente mamãe ficou muito feliz com seu post em homenagem a ela!
mas não pense duas vezes da próxima vez: mande um email pra mim e a gente compra um presente bem legal...
beijocas

Maria Regina disse...

Theresa:
Agora, só falta apreciar outra bebida brasileira: a cachaça!!
Fico feliz que tenha gostado do café brasileiro!

Maria Regina

Maria Regina disse...

Oi Mariana:

O livro chegou! Adorei o filme , vou gostar do livro, com certeza!

Beijos
Sua Mãe