domingo, 27 de fevereiro de 2011

As mulheres, de novo

Para os que andam me acusando de ficar escrevendo sobre coisas não canadenses, aqui vai minha resposta. 

Meu penúltimo post tinha uma única ligação com o Canadá: o programa de rádio canadense que revelou o bafafá sobre o The New Yorker, nos EUA. Sim, de fato. Mas o tema do post é importante para os canadenses. 

Evidência disso apareceu na sexta-feira passada, quando um dos articulistas mais interessantes do Globe & Mail (um importante jornal canadense) publicou um texto entitulado: As mulheres são, de fato, melhores que os homens? Recomendo a leitura, mas peço para aqueles que se aventurarem a clicar no link que também atentem para os três vídeos que aparecem no canto esquerdo da tela. O primeiro é sobre o fato de que conjugar carreira e família é mais difícil para mulheres. O segundo é sobre o mesmo tema do vídeo no meu post: porque as mulheres não ocupam mais posições de poder. O terceiro são conselhos para mulheres da CEO mais poderosa do Canadá. 

Isso mostra que meu post, no fundo, no fundo, era bem canadense. 

PS. 1 - Thanks J. for sending the article.
PS. 2 - O escritor do artigo é um cara super interessante. Filho de dois psicanalistas, ele escreveu um livro chamado Growing up Jung. E ele tem sempre artigos que valem a pena. Um dos meus favoritos é um em que ele discute se ele é de fato um feminista

Que venha a neve

O título desse post é minha tradução improvisada da música, "Let it snow". 



Deixa a música ligada, e venha comigo para um passeio na neve.



Com neve, nada de café na varanda...
 

Olhando pela varanda, pra ver como está a situação lá embaixo.
 
 Eu, na entrada do meu prédio, tentando decidir se me arrisco a sair ou não...


O jardim do prédio indica que algumas pessoas já se aventuraram antes de mim,


mas parecem ser todos donos de cachorro, que não tinham muita opção (sim, o amarelinho na neve é o que você está pensando que é...)

 

Daí eu comecei a achar a paisagem bucólica,
 
e J. me mostrou que neve não morde, e os bonecos de neve também amam.


Decidi então sair na rua, e encontrei:
 

Hidrantes cobertos,


Semáforos cobertos,
 

Um caminhão tentando limpar a rua,

Uma pessoa que vai ter dificuldade pra voltar pra casa,
 

Uma pessoa que não se intimidou com a neve, e saiu para dar um trago (ou mais de um),
 

 Outra pessoa que vai ter dificuldade de voltar pra casa,



Uma pessoa sofrendo com tanta neve,
 

Alguém que tirou a bicicleta antes da nevasca cair, e já deve estar em casa,
 

Alguém que achou que o café estava muito quente e decidiu esperar ele esfriar...
 

Alguém que cumpriu a lei e limpou a calçada na frente do seu prédio,
 

Alguém que deixou o gelo se formar na maçaneta da porta de entrada de um prédio comercial (já que as pessoas tem que limpar as calçadas, acho que a lei devia exigir que as pessoas limpassem isso também...)

É isso aí pessoal!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meninas e meninos

Na época da FLIP (a feira literária de Parati), J. fez questão de me mostrar uma frase que Drummond colocou no excelente blog dele: 

"Quando homens escrevem sobre mulheres, é literatura universal. Quando mulheres escrevem sobre mulheres, é literatura para mulheres."

Não lembro o autor da frase, mas disputei imediatamente a afirmação, citando Virginia Woolf como o melhor exemplo de uma mulher que escreve sobre mulheres e é considerada literatura universal. J. tentou me convencer que Virginia Woolf era uma exceção, não a regra. Ainda assim eu resisti.

Semana passada, todavia, a Elizabeth Gilbert veio ajudar J. a me convencer de isso de fato acontecia. Gilbert lançou um livro chamado Comprometida (Committed), que possui um prefácio revelador. Liz Gilbert diz que antes de lançar um livro que virou um megasucesso, ela era uma escritora conhecida por algumas pessoas, predominantemente em círculos literários, e com um grupo fiel de leitores. O mais interessante é que ela escrevia sobre homens, e para homens. Os personagens dela eram todos homens, machões, caubóis, etc. 

Daí ela decidiu escrever Eat, Pray, Love como um processo catártico pós-divórcio. Ela esperava que seu grupo fiéis de leitores perdoassem ela pelo tom autobiográfico, e por mudar o tema para uma mulher, e esperava que o livro fosse devidamente esquecido em pouco tempo. Mas -- como sabemos -- não foi bem isso que aconteceu. O livro virou um megasucesso, especialmente entre as mulheres. Agora Liz Gilbert é percebida como uma autora que escreve chick lit, ou seja, literatura para mulheres. Como sempre, a descrição dela desse processo não é ofensiva, ou rancorosa, ou judgmental. É apenas uma análise bem humorada e curiosa de onde a vida dela foi parar, sem que ela tivesse planejado nada daquilo. Mas, ainda assim, confirma a tese que apresentaram na FLIP e me deixou com outra pulga atrás da orelha. 

Pra completar, ontem ouvi no rádio uma reportagem sobre um boicote a uma das principais revistas norte-americanas, a New Yorker, devido ao fato de que a maior parte dos artigos publicados é escrito por homens. O protesto -- que virou boicote -- começou no facebook e tomou conta da mídia americana (Viu? Eu disse: tudo hoje acontece no facebook. Veja meu post anterior). E o que era uma reclamação contra o New Yorker, virou uma reclamação contra a imprensa em geral. Parece que não é só o New Yorker que não está devidamente balanceando sua seleção de artigos. 


O programa de rádio chamou editores das principais publicações canadenses, bem como acadêmicos, para avaliar o problema. O resumo da história é o seguinte: apesar do número de escritoras mulheres ser o mesmo (ou maior) que o número de escritores homens, elas se promovem menos, são menos agressivas em tentar "vender" seus artigos, muitas saem do mercado de trabalho quando têm filhos e depois têm dificuldade de voltar. Ou seja, todos falaram que para publicar um mesmo número de artigos de homens e mulheres, eles precisam fazer um esforço muito maior para achar mulheres, pois seus artigos não estão naturalmente chegando nas editorias para serem avaliados.


Fiquei pensando até que ponto o problema que se manifesta da literatura também não ocorre nessas revistas. Ou seja, as mulheres não se importam de ler um artigo escrito por um homem, mas os homens acham que uma autora mulher vai escrever sobre coisas para mulheres. Ninguém chegou a sugerir isso durante o programa, mas chamaram a atenção para o fato de que os esteriótipos frequentemente governam as revistas, ainda que não tenham qualquer fundamento. Por exemplo, a vasta maioria de compradores de carros são mulheres. Além disso, quando se está comprando carro para a família, a opinião da mulher é sempre determinante do modelo que vai ser escolhido. Ainda assim, as propagandas de carro se concentram em revistas masculinas, e são predominantemente desenhadas para um público masculino.Por que? Porque as pessoas ainda acham que carro é coisa de homem...


Moral da história: mulheres compram carros e escrevem literatura universal, mas o mundo que não quer ver, pois algumas pessoas ainda acreditam que há "coisas de mulher". Não sei se dá para fazer muito contra esses esteriótipos, mas pelo menos dá para as mulheres mudarem o comportamento delas, abandonando o pressuposto de que elas não podem se promover ou ser agressivas na busca de oportunidades. Sem uma mudança radical na forma como nós nos comportamos, não vamos conseguir mudar nada disso tão cedo. 

E não sou só eu que penso isso:




P.S. - Esse post é dedicado a S. que -- diferentemente da maioria das mulheres -- decidiu ir pedir um aumento de salário na semana passada e descobriu que se a gente ficar sentada esperando que as pessoas reconheçam nosso valor, não vamos chegar a lugar nenhum! 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A culpa é do facebook!

Meus assíduos leitores (meu pai, minha mãe e minha irmã) andam me perguntando porque eu não escrevo mais no blog. Difícil responder a essa pergunta...

A tentação é sempre de dizer que ando muito ocupada, com muitas coisas para fazer, etc, etc. Eu podia até me gabar do fato de que terminei de escrever um livro com um colega essa semana, What Makes Poor Countries Poor?. Porém, estamos trabalhando nesse livro há dois anos e ele nunca me impediu de escrever no blog. Portanto, no fundo no fundo, eu sei que eu não ando mais ocupada do que andava antes.

Pensei em acusar esse espírito/duende/ente que a Elizabeth Gilbert chama de inspiração (veja o vídeo no meu post anterior). Mas sinceramente eu não sou muito fã dessas explicações metafísicas ou sobrenaturais, e em geral eu não dou muita credibilidade pra quem se utiliza delas. Portanto, vou tentar evitar a hipocrisia (hoje, pelo menos...).

Encontrei a resposta quando parei de procurá-la. Depois de falar com minha família no telefone, me sentindo um pouco pressionada pelas perguntas sobre o blog, sentei e abri o blogger.com. De repente, me peguei imediatamente abrindo minha página no facebook. E depois de perder 20 minutos no site, me dei conta de que esse era o problema. Toda vez que eu sento pra escrever no blog, acabo entrando no facebook e lá se foi a meia hora livre que eu tinha...

O facebook é o orkut do momento, e é impossível não entrar no site umas duas ou três vezes por semana, pra saber o que está acontecendo. Tá todo mundo lá. E, diferentemente do orkut, uma boa parte das pessoas anda falando e discutindo coisas interessantes. Por exemplo, na semana passada entrei em um debate sobre índices de criminalidade em transições democráticas com um colega do Egito. Estávamos discutindo até que ponto a experiência da América Latina pode oferecer lições para o Oriente Médio. Pessoas do Egito, da América Latina, do Canadá e dos Estados Unidos participaram da discussão. E eu aprendi muitas coisas com eles. 


E tem também o componente fofoca. Para as pessoas mais próximas, é um modo de ver o que está acontecendo na vida delas, sem ter que ligar, mandar email, ou marcar uma cerveja. Para as pessoas mais distantes, que eu não vejo há tempos, o facebook mostra o que andam fazendo, quem casou, quem teve bebê, e quem ficou muito malhado(a) apesar de ser bastante rechonchudo(a) na época da faculdade (os que passaram pelo processo inverso não andam colocando as fotos, eu acho...).

O componente fofoca, todavia, é limitado. Ao menos pra mim. Depois de dois meses de fascinação com o orkut, fiquei entediada e parei de entrar no site. Deixei meu perfil lá, caso algum colega antigo me procure. Mas nem lembro minha senha. O elemento não-fofoca do facebook, todavia, permite um tipo de interação muito mais interessante e potencialmente mais duradouro. Por isso ando tão entretida com o site. 


Mas vamos dar tempo ao tempo. Antes de vocês acharem que vou abandonar o blog, precisamos ver se eu não vou me encher do site do facebook também. Ou quiçá eu consiga reconciliar ambos e passar menos tempo trabalhando agora que terminei o livro!