sexta-feira, 18 de abril de 2014

Esteriótipos (III): Os Italianos


A Itália é f**a (no sentido ruim do termo). Estive lá três vezes. E todas as vezes a impressão foi péssima. E não estou sozinha em achar isso. Parece que tem mais gente que concorda comigo:

 


E a versão ao vivo e a cores é muito pior do que o filminho. 

Em uma visita anterior, tive uma experiência horrível com todos os meios de transporte possíveis. Os ônibus são totalmente disfuncionais (como mostra o vídeo), os taxistas te enganam, e depois de viver na pele a incompetência completa e absoluta da Allitalia em um vôo doméstico, prometi nunca mais reclamar do Brasil (leia aqui). 

Nessa visita, tive o desprazer de interagir com a cultura burocrática da Itália. Esqueci meu laptop no raio-x do aeroporto de Florença. Noto a burrada assim que chego em Londres. Entro no website: o setor de achado e perdidos funciona de 8 as 9am e das 4 as 5pm (sim, você não leu errado. É isso mesmo. Não me pergunte o que fazem o resto do dia). Ligo as 7am de Londres, 8am em Florença:

- Departamento de Achados e Perdidos;
- Bom dia. Ontem eu esqueci meu laptop no aparelho de Raio-X da segurança do aeroporto. Vocês acharam, por acaso, algum laptop?
- A senhora pode por gentileza descrever o laptop?
- (Descrevo o modelo, marca, tamanho) e está em com uma capa preta. 
- Qual o número na capa?
- Vocês acharam meu computador?
- Minha senhora, qual o número na capa?
- Oi? 
- Minha senhora, tem um número na capa. Preciso saber qual esse número.
- Meu senhor, o "número" na capa é um símbolo da marca da empresa que produz a capa. Eu não lembro qual é o número. Qual a relevância do número na capa?
- Senhora, eu preciso me certificar que o computador pertence a senhora. 

Eu pensando: claro que você precisa se certificar disso. Vai que uma pessoa aleatória resolve te ligar de Londres as 7 da manhã, te dando a descrição exata do computador que você tem em mãos? Vai que essa pessoa descobriu -- sabe-se lá como -- qual a marca e tudo. E agora está tentado se apropriar indevidamente do objeto. Você, obviamente, precisa impedi-la de cometer essa infração! Claro!

Nota de esclarecimento: o "número" na capa era um símbolo de infinito (logomarca da empresa que produz a capa), e o sujeito achou que era um 8.... 

- Okay. Eu posso comprovar que eu sou a dona porque eu tenho a senha. 
- Qual a senha?
- Oi?
- Qual a senha?
- Olha, o senhor vai me desculpar, mas não vou te passar minha senha. Há arquivos e dados pessoais dentro desse computador.  Não posso correr o risco de um estranho acessar os arquivos.
- Tudo bem. Todavia, a senhora vai precisar digitar a senha quando vier buscar o computador.
- Meu senhor, eu estou em Londres. Portanto, um amigo meu vai buscar o computador pra mim. 
- Bom, nesse caso, a senhora precisa escrever uma carta delegando a ele autoridade para retirar o computador. A carta precisa ser acompanhada de uma cópia do seu passaporte e ele vai precisar trazer o passaporte dele. E vamos pedir para que ele digite a senha. 

Resposta que eu dei: okay.

Resposta que eu queria ter dado: senhor, será que o senhor não está levando muito a sério sua função? Caso não tenha notado, o senhor trabalha em um mero departamento de achados e perdidos em um pequeno aeroporto, que funciona apenas duas horas por dia.

Resposta que eu certamente não deveria ter dado: Mais alguma coisa? A assinatura não precisa ser registrada em cartório, com reconhecimento de firma? Se eu aparecer com um documento com uma simples assinatura sua síndrome de pequena autoridade não vai ter um chilique? Tem certeza?

E foi assim eu descrobri que a burocracia italiana é muito pior do que reza a lenda. Meu amigo, que fez a gentileza de buscar o computador, arrematou: 

- Você deu sorte deles efetivamente funcionarem no horário que eles anunciam no website. Muitas vezes não tive essa sorte. Mas obviamente cheguei lá com toda a papelada exigida e eles não sabiam do que se tratava, tiveram que chamar seis pessoas até conseguirem achar o computador, e ninguém me pediu senha nenhuma. Checar os documentos? Que documentos?

Qual a explicação para tanta incompetência? Muita gente acredita que a religião explica boa parte disso. Os países protestantes são mais eficiente, funcionais e ricos porque os princípios religiosos deles são mais condizentes com o sistema capitalista. Eu , todavia, estou começando a acreditar na hipótese contrária: a burocracia não é ruim porque eles são católicos. Acho que eles são católicos porque a burocracia é ruim. Qualquer um acaba virando católico se for obrigado a interagir com esse tipo de burocracia regularmente. Não há cristo que aguente....


domingo, 6 de abril de 2014

Esteriótipos (II): Os Noruegueses


Logo antes de eu embarcar para Oslo, na Noruega, saiu um longo artigo no The Guardian, questionando a idéia de que os países nórdicos são uma sociedade perfeita (leia aqui).  O artigo é baseado em um livro, intitulado The Almost Nearly Perfect People.

Sobre os Noruegueses, o autor do livro apontava  para o fortalecimento da extra direita no país, além do fato de que o país promovia o uso de recursos renováveis com o dinheiro do petróleo que vende para o resto do mundo. Ou seja, um bando de hipócritas conservadores esse noruegueses.

No dia anterior ao meu vôo, o The Guardian publica a resposta ao artigo (leia aqui). A resposta do norueguês é chata e pouco interessante (e talvez a razão seja porque o sujeito é um professor universitário). Ele basicamente fala que a sociedade sociedade civil tem ativamente se manifestado contra essa tendência direitista, em especial contra o novo governo. O professor acusa o autor do livro que ignorar estudos sobre o assunto.
A resposta? Meu livro não é um estudo acadêmico, mas sim uma coletânea de impressões de um viajante. 

O sujeito da finlândia decide então compartilhar suas impressões de viajante: somos uma sociedade em que bons alunos viram médicos, enquanto na Inglaterra, de acordo com as pessoas com quem conversei, vocês ainda estão mais preocupados em saber de qual família vêm os alunos do que olhar para as notas que eles conseguiram. Além disso, diz o finlandês, quando saí para um pub numa sexta-feira a noite em Londres, achei que nossas bebeiras não são muito diferentes das inglesas. 

O autor do livro se defende falando que usou as estatísticas da OCDE e do FMI. O sujeito da Dinamarca então responde: quer olhar para estatísticas? Então considere que nós somos um dos mais educados, menos corruptos e mais produtivos países do mundo. Além disso, somos os mais felizes, o que mostra que os anti-depressivos que estamos tomando de fato funcionam!

Durante a minha visita, eu achei que os esteriótipos são verdadeiros. A Noruega é uma sociedade muito igualitária e civilizada. Mas a versão ao vivo e a cores é melhor que a versão que eu tinha imaginado. Eles são bastante simples, quase rudimentares, como não podia deixar de ser, com o passado Viking. 

Daí você vê aquela decoração que lembra a IKEA, mas é ainda mais sofisticada, e você pensa: há muita beleza nessa simplicidade.  E isso também vêm desde da época Viking: os barcos que eles construíam não eram apenas funcionais e duradouros, mas eram verdadeiras obras-primas.

Mas não se engane: apesar da sofisticação, há muito do esteriotípico Viking no sangue deles. Por exemplo, o país inteiro é viciado em livros, filmes e séries de TV sobre assassinatos, crime e sangue. 

E além de sublimar o lado Viking com ficção, eles também se rebeldiam de verdade. O governo criou um monopólio estatal para controlar a venda e consumo de bebidas alcóolicas. Resultado: a maioria das pessoas produz bebida alcóolica em casa, a partir da fermentação da batata. E eles, com suas roupas e hábitos pouco sofisticados, sentados em uma sala com uma das decorações masi sofisticadas do mundo, falam que fazem isso com o maior orgulho. 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Música do Dia

Achei um dos meus pianistas favoritos tocando Chico Buarque.


Conclusão: não é preciso ganhar na mega sena para ganhar o dia.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Esteriótipos (I): Os Ingleses

O blog está meio às moscas porque ando viajando muito. Sinto como se tivesse ganhado a sorte grande: cada semana um país diferente. Maior parte das viagens à trabalho. Portanto, os gastos são mínimos e a diversão é muita. 

Meu itinenário em fevereiro:
1) primeiro fim de semana: Noruega;
2) segundo fim de semana: Itália;
3) terceito fim de semana: Nova Iorque;
4) quarto de semana: Portugal (passei a semana toda lá. Portanto, foram dois fins de semana);

Daí entra março e as viagens não param: assim que voltei de Portugal, fui para Berlim. 

Se alguém me dissesse, nos anos em que eu estava cursando meu doutorado, que seguir carreira acadêmica era forma mais efetiva de viajar de graça e comer muito bem, eu não acreditaria. Pois, cá estou...

Além de comer muito bem nessas viagens, estou aprendendo muito. Em especial sobre esteriótipos. Uma parte dos esteriótipos é verdadeira, mas não pelas razões que pensávamos. 

Tome, por exemplo, os ingleses. Eles, de fato, falam muito sobre o tempo. Mas não fazem isso porque são uns chatos e não tem nada mais interessante para conversar. Ao contrário do que reza a lenda, descobri que, na Inglaterra, o tempo é tão imprevisível que é impossível não pensar no assunto. E, assim como os ingleses, os estrangeiros não estão imunes. Meu tio, que esteve aqui no ano passado, tinha dois comentários sobre a viagem: (1) amei Londres; (2) chove várias vezes, mas você entra em um café, espera um pouco e a chuva passa.

De fato, chove uma média de três vezes por dia, às vezes com intervalos super ensolarados. Para vocês terem um idéia da instabilidade: tem dias em que eu acordo e está chovendo; entro no banho e, dez minutos depois, quando saí do banho,  já parou de chover; enquanto eu preparo meu café e saio de casa, abre o sol; caminho feliz da vida até o escritório; assim que entro no meu escritório começa a chover de novo. Se entre 7 e 9 da manhã já aconteceu tudo isso, imagina o resto do dia. 

E se considerarmos os agitados pubs, que se enchem de grupos falantes e animados quase todas as noites, e o Monty Python aí sim é que temos a certeza de que os ingleses não são nada chatos. Muito pelo contrário!