Esse post fecha minha série sobre esteriótipos. Faltava apenas um post sobre esteriótipos equivocados. Minha aula sobre nossos equívocos veio de uma visita inesquecível à terrinha.
Assim que coloquei meu pés em terras portuguesas, descobri que absolutamente ninguém em Portugal fala "ora pois". Mas o mais interessante não é isso, e sim a elegância e generosidade com que eles nos acolhem, apesar da infâme piada. Afinal, não custaria nada fazer chacota do bando de brasileiros que grosseiramente chega lá repetindo isso a torto e a direito, sem antes checar se é de fato verdade. E eu, infelizmente, fui uma dessas pessoas. Entretanto, a reação deles me surpreendeu. Ao invés de se portar como nós nos portaríamos -- fazendo piada dos outros --, os portugueses gentilmente me informaram que eles não usam essa expressão, mas queriam entender a origem dessa lenda urbana. Imaginam eles que faça parte de um português arcaico que acabou por sobreviver mais tempo entre os imigrantes no Brasil, mas desapareceu por lá. Eu não consegui descobrir, infelizmente.
E esse episódio ilustra bem o quanto nossa impressão de Portugal é equivocada. Ao contrário dos boatos que correm por aí, descobri em Portugal um povo inteligente, muito pouco literal, e falando um português que parecia pura literatura. Acho que o fato de que eu convivi apenas com pessoas do meio acadêmico durante minha estadia deve ter contribuído para isso. Ainda assim, acho que vale registrar isso aqui.
Quando perguntei sobre os boatos que os brasileiros espalham sobre portugueses sendo muito literais, a resposta foi: "é compreensível que haja ressentimento por causa da relação colonial. Nós não temos motivo para nutrir isso. Portanto, olhamos para seu país como iguais, e esperamos ser tratados como tais, ainda que isso não ocorra sempre. E nosso sentimento é, por vezes, de preocupação -- está o Brasil indo na direção certa? -- mas, na maior parte das vezes, com admiração. As novelas, a música e a literatura brasileira nos encantam."
E para provar isso, fica aqui, para quem ainda não viu, o relato emocionante de um escritor português sobre os(as) brasileiros(as) na FLIP, a feira literária de Parati
Portanto, além da minha declaração de amor, deixo aqui meu agradecimento a Portugal. Por ter me recebido de braços abertos, pela generosidade e interesse em nossa cultura, pela paciência com nosso "ressentimento" e por responder com tanta elegância as nossas grosserias.
Portugal me ensinou muito sobre a vida e sobre a nossa história comum. E ainda tenho muito a aprender com os portugueses. Por isso, de todos os lugares que visitei, esse é o lugar aonde quero voltar muitas vezes. E não acreditem nas más línguas que ficam criando falsos esteriótipos e andam dizendo por aí que eu só quero voltar por causa do pastéis de belém!
Um comentário:
Seus comentários fizeram aumentar minha vontade de viajar por todos os cantos da terrinha! Só o sotaque dos lusitanos já é uma melodia para mim. Imagino como será, então, ouvir um fado, comer bacalhau, tudo com o indispensável VINHO PORTUGUÊS!
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