Todo mundo acha que quando as aulas acabam, eu fico em casa de pernas para o ar. Quisera eu que fosse assim. Quando as aulas acabam, normalmente eu tenho uma tonelada de trabalho pra fazer, pois todos os meus projetos de pesquisa estão atrasados e, além disso, tenho que preparar papers para conferências. Mas antes disso, eu preciso corrigir todas a provas e trabalhos dos meus alunos. E é isso que estou fazendo desde sexta-feira passada.
Alguns dos meus colegas dizem que essa é a pior parte do trabalho. A idéia é que corrigir provas é extremamente entediante porque você fica lendo a mesma coisa milhares de vezes e não aprende nada novo. Em contraste, preparar aulas, dar aulas ou fazer pesquisa sempre traz alguma coisa nova, algo que você não sabia. Ou seja, sempre tem algo intelectualmente estimulante. Acho que o que meus colegas argumentariam é que corrigir provas não tem absolutamente nada de estimulante.
Eu não sei se eu concordo. Acho que todas as partes do trabalho tem coisas boas e coisas ruins. No caso das provas, por exemplo, eu sempre acho interessante ver se os meus alunos entenderam o que eu estava tentando explicar na sala de aula. E é curioso ver como minha impressão de sucesso nem sempre corresponde com a realidade. Às vezes, eu saio da sala de aula achando que dei uma das melhores aulas do semestre. Fui clara, expliquei tudo coerentemente, e respondi todas as perguntas. Daí chega na prova e eu vejo que ninguém entendeu absolutamente nada do que eu estava falando.
Outras vezes, eu acho que minha aula foi o pior desastre da história da humanidade. A apresentação foi confusa, eu não tinha certeza do que estava falando, e os alunos tinham perguntas que eu não sabia responder. Daí é uma surpresa completa ver que o tópico daquela aula confusa e desastrosa ficou extremamente claro pra todo mundo e as respostas estão excelentes.
Enfim, dar aula é como criar filhos: você faz o melhor que pode e torce pra dar tudo certo, se lembrando que você tem muito pouco controle sobre o resultado. Há, todavia, uma diferença: com filhos você não precisa tentar explicar o que deu certo e o que deu errado no processo. Mas como professor universitário, você precisa. Para eu ganhar estabilidade no meu cargo, preciso preparar um dossiê de ensino (e outro de pesquisa), no qual eu tenho que explicar qual é minha filosofia de ensino, e como eu implemento essa filosofia na sala de aula. Ou seja, eu preciso explicar como que eu acho que se dá o processo de aprendizado, e como eu criei métodos para efetivamente ajudar meus alunos a absorver o conteúdo da matéria.
E, sinceramente, eu não sei qual é minha filosofia de ensino. E quando eu olho para as provas que eu estou corrigindo, eu tenho certeza absoluta de que eu não tenho qualquer controle sobre o meu "método". Ou seja, meu método funciona, mas eu não sei nem quando nem porque.
Corrigir provas é, portanto, uma janelinha que me permite olhar para essa caixa preta que é o processo de aprendizado e ficar ao mesmo tempo maravilhada e perplexa com ele. As provas são, na verdade, o único momento em que eu consigo ter algo de concreto para avaliar o que deu certo. Por isso que eu discordo dos meus colegas: acho que há muito de estimulante nas provas. Talvez meus colegas fiquem entediados porque eles sabem de fato o que estão fazendo. Quem sabe depois que eu preparar meu dossiê de ensino eu consiga chegar nesse estágio iluminado de ter total e completo controle do que meus alunos estão aprendendo na sala de aula e consiga prever exatamente o que vou ler nas provas. Acho que daí eu vou, de fato, ficar entediada. Vou, portanto, aproveitar ao máximo meus últimos dias nesse lugar divertido onde ler provas é super interessante.
Em qualquer caso, vale ressaltar: por mais estimulantes que sejam as provas pra mim, isso não se parece nada com férias, definitivamente.
Um comentário:
Marking papers is really a nightmare though. For every good paper there are at least five that are frustrating, disappointing and a nightmare to go through. On top of that, badly written assignments make it even harder to leave comments on why the person got the bad grade.
Off to pick up my students' final papers (and then off to a spa).
N
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