Foi só eu falar bem do Brasil, que os brazucas se encarregaram de estragar meu entusiasmo com o país. Hoje tive duas interações com brasileiros que deixaram marcada em mim a impressão de que ainda estamos longe de ter um país que mereça qualquer elogio.
Todos sabem que o Brasil funciona segundo um sistema disfuncional em que ninguém chega na hora e ninguém faz questão de chegar, e o sistema se auto-reforça, deixando aqueles que querem pontualidade (como eu) desesperados.
Hoje não foi diferente. Marquei de jantar com uma amiga minha brasileira que está em São Francisco, depois da minha conferência. Minha conferência terminou às 6pm e eu liguei pra ela. Ela disse que estava a caminho de Palo Alto, e ela e o grupo que estava com ela me encontrariam no restaurante 6:45pm. Falei que eu não chegaria no restaurante até 7pm, pois ainda precisava voltar para o hotel, o que demoraria uns 40 minutos e depois precisava caminhar até o restaurante. Falei que chegaria por volta de 7pm. Ela disse que tudo bem.
Quando cheguei no hotel, encontrei outro brasileiro, que também estava na conferência. Ele se aproximou e eu falei que não podia falar com ele, pois tinha marcado um jantar. Ele falou que queria falar comigo sobre o artigo dele, e anunciou que me acompanharia até a porta. Do saguão do hotel até a porta foram exatamente dez passos, contados. Obviamente, durante o percurso, ele não conseguiu sequer começar a falar sobre o assunto. Daí ele parou na porta, e começou um longo e elaborado discurso sobre o artigo dele. E eu não conseguia parar de me perguntar se ele não tinha processado a informação que eu tinha dado: eu tinha um jantar marcado, e precisava ir embora. Passados três minutos do monólogo, eu interrompi. Preciso ir. Ele falou: - claro. Não quero te segurar, mas.... E começou a falar do paper de novo.
Eu sinceramente não entendo porque os brasileiros não conseguem deixar as conversas para depois. Eu tinha que sair. Eu visivelmente estava com pressa, e estava prestando mais atenção no meu relógio do que naquilo que ele estava falando. Ainda assim, ele insistia e não me deixava ir embora. Se a conversa é tão importante, porque ele não fala podemos marcar de conversar outro dia? Porque essa coisa patológica de impor a conversa quando a outra pessoa precisa ir embora? Eu me senti sequestrada.
Quando eu decretei que estava indo, virei as costas e fui embora (o que deve ter sido considerado extremamente rude, mas eu não tive outra opção). Mas daí eu tive minha segunda decepção. Apesar de chegar no restaurante 5 minutos depois de 7pm, minha amiga e o grupo não estavam lá. Ligue para o celular. Ela me avisa que vai chegar em 15 minutos. Considerando que ela havia anunciado que estaria no restaurante as 6:45pm, isso significa que ela estava meia hora atrasada. E eu me perguntando porque ela não fez uma estimativa mais precisa do tempo que vai demorar pra ela chegar no restaurante, de maneira que eu pudesse gastar mais dez minutos com o outro brazuca falando sobre o artigo dele? E se ela planejava chegar mais cedo, mas se atrasou, porque não em liga as 5 para as 7pm para avisar?
Daí eu entendi porque o primeiro brazuca estava me segurando: se ele estivesse no Brasil ele sabia que a segunda brazuca ia se atrasar. Eu, por vez, não estaria desesperada para sair do hotel a tempo para chegar no restaurante na hora marcada, porque eu também saberia que a outra brazuca não ia chegar no horário. E assim tudo ia funcionar perfeitamente, pois todas as partes envolvidas estão agindo com base na pressuposição de que todos vão se atrasar.
Mas não foi isso que aconteceu. Depois de largar o primeiro brazuca falando sozinho para chegar a tempo no restaurante, eu liguei para a segunda brazuca pra saber porque ela não estava no restaurante. E a conversa não foi agradável, dado que eu não estava feliz com o fato de que eu estava no restaurante no horário que eu anunciei (ou quase) e ela chegaria meia hora depois do horário que ela anunciou.
E tudo isso aconteceu na Califórnia, onde eu deveria estar livre das brazucadas brazucas. Mas não consegui escapar. Esse tipo de comportamento me irrita muito, como eu acho que esse post deixou claro. E acho que é um motivo para deixar de me orgulhar do país, mais uma vez...
Um comentário:
Mari, nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Isso não é brasilidade, é falta de consideração.
Eu chego atrasada como boa brasileira que assimilou o hábito, mas tb como boa brasileira que sou, meus social skills sempre acionam o meu desconfiômetro quando a outra parte é pontual e/ou não-brasileira. Não é difícil perceber e se esforçar, seja para chegar na hora seja para esclarecer que não conseguiremos chegar na hora marcada.
Bjs
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