Hoje eu descobri que os jardins do Canadá tem dois tipos de plantas: perenes e sazonais. As perenes são as plantas típicas do Canadá, que coseguem hibernar por seis meses ou mais e florescem de novo quando o gelo derrete e a primavera finalmente dá o ar da graça. Já as sazonais são aquelas importadas dos trópicos. Não sobrevivem ao inverno. Portanto, elas morrem e são substituídas por uma nova leva de plantas sazonais, compradas em alguma floricultura, na próxima primavera.
Manter uma planta viva para mim é um trabalho hercúleo. A lista de plantas que eu matei provavelmente serviria para me condenar a muitos anos de prisão se houvesse um tratado internacional ou alguma lei protegendo o direito das plantas à vida. A acusação não poderia ser de homicídio doloso porque eu nunca tive a intenção de matar as plantas. Mas certamente poderia ser acusada de homicídio culposo, pois eu sabia que eu não tinha habilidade para cuidar de plantas quando adquiri as mesmas. Ou seja, eu claramente assumi o risco de matá-las.
Daí vem esse povo canadense me dizer que eles não apenas conseguem manter as plantas vivas, mas depois de todo cuidado, carinho e investimento feito nelas, eles simplesmente largam as plantas lá fora para congelarem nesse inverno desumano.
Eu não sei vocês, leitores, mas pra mim tem muitas coisas erradas com isso.
Primeiro, acabei de ler um livro do Dan Ariely sobre como a gente valoriza mais do que as outras pessoas as coisas que possuimos e das quais cuidamos. Por exemplo, se eu vou comprar uma mesa, o preço que estou disposta a pagar por ela é menor do que o preço pelo qual eu estaria disposta a vend6e-la. E isso ocorre simplesmente porque a partir do momento em que eu me torno proprietária, a mesa passa a valer muito mais pra mim do que valia antes, apesar de se o mesmo objeto. Se eu tiver construído a mesa a coisa fica ainda pior: vou colocar um preço ainda mais alto nela. E daí vem esse povo todo comprar plantas, colocar adubo, regar todos os dias, se certificar que a quantidade de luz está certa, ver a planta florescer e crescer. E daí eles simplesmente deixam ela morrer! Não sei o que estão ensinando para as crianças na escola aqui, mas os experimentos de economia comportamental dizem que a maioria das pessoas não iria topar uma empreitada dessas.
Segundo, acho uma sacanagem com a planta. Ela tá lá feliz e contente debaixo do Equador. Daí você promete pra ela uma vida muito melhor, dizendo que ela vai para um país cheio de adubo, com pessoas que tomam conta dela todos os dias. E quando a planta chega aqui, usufrui dessa vida maravilhosa por cinco meses, só para descobrir sua sentença de morte. Se essa planta tivesse lido o Pequeno Príncipe, tenho certeza que ela estaria lá, olhando as temperaturas cairem e te dizendo: "você se torna responsável por tudo aquilo que cativa"...
Por fim, gente que desapego é esse? Não tenho estrutura emocional pra isso. Não
sei se o povo aqui é budista, ou tem alguma outra religião que permite
esse desprendimento, mas eu ia precisar de muita terapia pra deixar uma
planta para a qual eu me dediquei tanto morrer assim.
Me disseram que esse é o preço que se tem que pagar por flores aqui no Canadá. Pois eu me recuso a lidar com os custos financeiros, ambientais e emocionais disso. Estou, a partir de agora, em busca de plantas perenes somente. Afinal, alguém precisa ser sã nesse país.
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