No fim de semana passado, tive a oportunidade de assistir dois filmes no festival brasileiro de cinema de Toronto. Flores Raras é uma história de amor entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Olga é outra história de amor entre uma revolucionária comunista alemã, Olga Benário, e Luiz Carlos Prestes.
As histórias tem muito em comum. Nos dois casos, duas estrangeiras vem ao Brasil com um propósito definido e acabam se apaixonando por brasileiros. Olga veio a mando do partido comunista numa missão para proteger Prestes, enquanto Bishop veio espairecer, buscando inspiração para voltar a escrever. O país, ou as respectivas paixões, incentivam a poetisa a voltar a escrever, e fazem a durona comunista amolecer. O resultado, nos dois casos, são histórias de amor conturbadas, sem finais felizes.
O pano de fundo são as reviravoltas políticas tão comuns na história do país. Vargas declara estado de sítio na época de Olga e o golpe militar de 64 acontece durante a estadia de Bishop. Nas duas histórias, as estrangeiras se apaixonam por pessoas profundamente envolvidas com a cena política, mas de lados opostos. Enquanto Prestes tentava derrubar o regime, através de uma revolução comunista, Lota tinha fortes laços com Carlos Lacerda, o governador do Rio que apoiou o golpe.
Outra semelhança é que ambos os filmes são baseados em livros. Flores Raras foi feito a partir da biografia romanceada de Carmen de Oliveira, enquanto Olga é baseado no fascinante livro de Fernando Morais.
As semelhanças, todavia, param aí. O relato das duas histórias é feito de forma bastante distinta nos dois filmes. Ambos os diretores estão focados na história de amor, mas enquanto Bruno Barreto celebra e trabalha em cima da complexidade das personagens e da relação entre elas, Jayme Monjardim faz exatamente o contrário.
Com diálogo artificiais e
engessados, o diretor de Olga
tenta retratar comunistas como idiotas robotizados, sem dar qualquer informação sobre o contexto político da época. Para tornar as coisas piores, o tom artificial dos diálogos em Olga não é abandonado nem no momento em que eles se apaixonam e viram protagonistas de um verdadeiro dramalhão mexicano. A quantidade de minutos usados
na cena em que o regime nazista se apropria do bebê de Olga é, com
certeza, um dos maiores desperdícios de película da história do cinema.
Como se a história não fosse dramática o suficiente, o diretor decide
jogar um pacote inteiro de açucar dentro da lata de leite condensado.
Flores Raras, em contraste, não ignora a realidade política do país, mas o faz sem abandonar o foco na vida pessoal das protagonistas. A cena mais marcante do filme, para mim, é o
anúncio do golpe militar no rádio. Após ouvir a notícia, Bishop se dirige à janela e, para sua surpresa, vê que as
pessoas estão na praia, se bronzeando e tomando sol, como se nada
tivesse acontecido. Mas a surpresa maior vem quando ela descobre que Lota celebrou o golpe no gabinete do governador. O tema torna-se então um ponto de conflito entre as duas.
A estética também não podia ser mais diferente. Enquanto Flores Raras tem
uma fotografia belíssima, com cortes e cenas estéticamente
impressionantes, Olga tem um figurino que deixa a desejar, em um cenário
que, de tão exagerado, parece falso. A neve de mentira apenas deixa as coisas ainda piores para o espectador.
As diferenças não deveriam ser uma grande surpresa. Enquanto Bruno Barreto é um renomado diretor, com uma filmografia respeitável, Jayme Monjardim faz novelas para TV. Portanto, Olga não passa de uma novela com duas horas de duração. Recomendo, no caso de Olga, deixar o filme de lado. Vale mais a leitura do livro de Fernando de Morais. O filme Flores Raras, em contraste, vale a pena assistir. Assim que eu terminar de ler o livro de Carmen de Oliveira volto aqui para dizer se vale a pena também.
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