Diante desse texto de Vinícius de Moraes, desisti de tentar descrever a sensação de voltar ao país:
"Vejo de minha janela uma nesga do mar verde-azul de Copacabana e me penetra uma infinita doçura. Estou de volta à minha terra... A máquina de escrever conta-me uma antiga história, canta-me uma antiga música no bater de seu teclado. Estou de volta à minha terra, respiro a brisa marinha que me afaga a pele, seu aroma vem da infância. Retomo o diálogo com a minha gente. Uma empregada mulata assoma ao parapeito defronte, o busto vazando do decote, há toalhas coloridas secando sobre o abismo vertical dos apartamentos,dá-me uma vertigem. Que doçura!
Sinto borboletas no estômago, deve ter sido o tutu com torresmo de ontem misturado ao camarão à baiana de anteontem misturado à galinha ao molho pardo de trasanteontem misturada aos quindins, papos de anjo, doces de coco do primeiro dia. Digiro o Brasil. Qual o canard au sang, qual loup flambé au fenouil, qual pâté Strasbourgeois, qual nada! A calda dourada da baba de moça infiltra-se entre as papilas gustativas, elas desmaiam de prazer, tudo desagua em lentas lavas untuosas num amoroso mar de suco gástrico...
É a brazuca! -- disse-me Antônio Carlos Jobim balançando a cabeça com ar convicto, enquanto empinava o seu VW em direção ao Arpoador."
Trecho do livro Pois Sou bom Cozinheiro: receitas, histórias e sabores da vida de Vinícus de Moraes, p. 82.
P.S. - Obrigada, prima, por esse delicioso presente!
Um comentário:
chegar de madrugada e devorar dois pratos de feijoada - com caipirinha! e nos dias seguintes ter gil a fazer medalhão de filé mignon, strogonof, bolo de cenoura e também um tio a fazer carangueijada ... só mesmo no brazil!
Postar um comentário