O email tem um propósito claro: me convencer a trabalhar um pouco menos e aproveitar um pouco mais a vida, nem que seja em pequenas doses. O email me fez, de fato, parar de trabalhar durante um tempo. Mas ao invés de ir comer um cheesecake diet e tomar um café espresso sem açúcar na esquina, eu parei pra pensar sobre felicidade.
Eu tinha escrito um post sobre isso, argumentando que o segredo da felicidade era a capacidade de ignorar a realidade. Talvez entrar em um café no meio da tarde pra comer bolo de fubá seja uma forma de esquecer a realidade, daí o momento de felicidade...
Mas o texto também me lembrou de um estudo interessante, feito em uma universidade norte-americana, que mostra que a felicidade é fugaz. Passamos boa parte da nossa vida planejando o momento em que vamos "sossegar". O plano é conseguir um bom emprego, casar e ter filhos. O pesquisador mostrava que cada pequeno passo em direção a essa conquista gerava um pequeno momento de felicidade ao longo do caminho. Porém, ao conseguir tudo isso, a pessoa não encontrava aquele estado permanente de felicidade que esperava. Ao contrário.
A conclusão que eu tiro dessa pesquisa é que estamos em busca de algo que não existe: um estado permanente de felicidade. Ou melhor, segundo minha teoria, tal estado só seria atingido se você conseguir ignorar completamente a realidade. Como isso seria uma façanha, na melhor das hipóteses vamos ter apenas pequenos momentos de felicidade, que vão desaparecer em pouco tempo. Portanto, depois que você consegue o emprego, casa e tem filhos, provavelmente sua felicidade, como sugere a autora do texto, vai ser resumir a um bolo de fubá... E se você quiser que a felicidade seja um pouco mais duradoura, peça dois pedaços!
Depois de toda essa elocubração, decidi voltar ao trabalho, porque terminar o meu paper ia certamente me dar um momento muito maior de felicidade do que um cheesecake diet.
P.S.: A pesquisa que eu mencionei e todo o histórico da produção acadêmica sobre o assunto pode ser lido aqui. Uma parte interessante do artigo é quando ele menciona um estudo que mostra que artigos acadêmicos são lidos, em média, por sete pessoas, incluindo a mãe do autor. Depois de ler isso, pensei que eu deveria ter ido comer o cheesecake...
Felicidade Tem Preço
Por Cristiane Segatto
Fazer uma pausa no meio da tarde para tomar um café num jardim precioso é um privilégio. Um privilégio acessível, digamos assim. Cada um de nós pode abrir espaços na rotina para encaixar pequenos prazeres. Basta querer. Não acredito na felicidade plena, total, irrestrita. Acredito nos pequenos nacos de felicidade que andam espalhados por aí. A grande arte é saber agarrá-los.
Acho que a vida fica mais leve quando a gente é capaz de criar umas brechas por onde a felicidade pode se esgueirar e nos surpreender. Para ser feliz é preciso dar chance à sorte. Foi o que eu fiz quando passei na frente daquele café. De fora, ele parecia uma floricultura. A placa discreta não dava muitas pistas sobre o que eu encontraria ali. Resolvi arriscar. E me dei muito bem. No fundo do quintal comprido e florido, encontrei uma casa de tijolinhos com uma varanda acolhedora.
Se estivesse com meu laptop, teria escrito essa coluna lá mesmo. Ao ar livre, debaixo de uma árvore forrada de flores brancas e ouvindo o barulhinho da água correndo num canto do jardim. Amo o jornalismo, mas não sou muito fã de redações. Gosto de estar do lado de fora delas - trabalhando na rua ou escrevendo minhas matérias num canto sossegado, longe do agito improdutivo.
A fórmula da felicidade não existe, mas cada um de nós sabe o que nos aproxima dela. Essa é uma habilidade tão particular que parece não ter muita relação com ambiente cultural e condição sócio-econômica. Sempre acreditei que a felicidade não tem preço, mas nesta semana li um estudo que me fez repensar algumas das minhas crenças.
Ontem (01/07) foi divulgado um artigo científico baseado nos resultados do maior estudo já realizado no mundo sobre a relação entre renda e bem-estar. A pesquisa conduzida pelo Instituto Gallup foi realizada com 136 mil moradores de cidades e vilarejos remotos de 132 países. Os voluntários foram entrevistados por telefone nas áreas urbanas e pessoalmente nas regiões distantes e menos desenvolvidas. Os pesquisadores concluíram que o dinheiro pode, sim, comprar a felicidade. Pelo menos um determinado tipo de felicidade. Aquela que está relacionada à satisfação em relação às condições de vida.
"Tudo depende da forma como definimos felicidade", diz Ed Diener, professor de psicologia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e coordenador do estudo. "Se levarmos em consideração a satisfação do sujeito em relação à vida (como ele avalia sua vida de uma forma geral), há uma forte relação entre renda e felicidade", diz Diener. Quanto mais elevada é a condição econômica do país e das famílias, mais elevados são os índices declarados de satisfação em relação à vida. Faz sentido. Se o sujeito tem emprego, moradia decente, saúde, descanso e lazer, maior é a probabilidade de que ele se sinta satisfeito.
O dinheiro parece ter pouca relação com um outro tipo de felicidade. Aquela relacionada aos sentimentos positivos, como sentir-se respeitado, ter suporte social, autonomia e um trabalho desafiador.
"O dinheiro faz as pessoas felizes. O efeito da renda sobre a satisfação em relação à vida é muito forte e universal", diz Diener. "Mas o dinheiro faz as pessoas se sentirem mais satisfeitas do que as faz se sentirem bem. Os sentimentos positivos são menos influenciados pelo dinheiro e mais afetados pelas coisas que as pessoas fazem no dia a dia."
Uma análise de grande parte dos dados da pesquisa será publicada na edição deste mês do Journal of Personality and Social Psychology. Os Estados Unidos, país com a maior renda per capita entre as nações analisadas, aparece em 16o no ranking de satisfação em relação à vida e em 26o na lista dos países cujos habitantes têm mais sentimentos positivos.
O Brasil participou da pesquisa, mas não foi incluído entre os dezoito países analisados no artigo científico de Diener. Mas é possível encontrar no site do Instituto Gallup várias informações sobre os brasileiros (e compará-las com os cidadãos de outros países). Se você quiser se divertir com esse brinquedinho, basta acessar o link. É preciso preencher um cadastro, mas o acesso é gratuito.
Os dados contrariam o estereótipo de que o povo brasileiro é mais feliz que a média internacional. Durante a pesquisa, 20% dos brasileiros disseram ter sentido tristeza no dia anterior. É o mesmo índice encontrado na Inglaterra, quase o mesmo verificado nos Estados Unidos (21%) e no Canadá (21%). É um índice melhor do que o apurado em Portugal (30%) e na Bolívia (33%).
O Brasil saiu-se melhor quando a pergunta era: "Você sentiu amor ontem?". Entre os brasileiros, 82% responderam sim. Um pouco mais do que nos Estados Unidos (80%), na Dinamarca (80%) e em Portugal (79%).
Esses dados sugerem que felicidade tem menos a ver com PIB e mais com postura pessoal em relação à existência. O sujeito pode ser milionário e escolher levar uma vida sem graça. Pode ser pobre e escolher a riqueza dos pequenos momentos felizes. "O dinheiro nos faz sentir bem, mas a ação dele é limitada", diz a psicóloga Barbara Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. "Sentimentos positivos, como a capacidade de se divertir, podem fazer muito mais por nós".
Quanto mais emoções positivas uma pessoa sente a cada dia, diz Barbara, mais acentuada é sua capacidade de se recuperar de situações difíceis ou estressantes. "Pequenos momentos de prazer fazem florescer as emoções positivas. Elas nos tornam mais abertos", diz ela. "E essa abertura para o mundo nos ajuda a construir recursos que favorecem a recuperação diante da adversidade, nos mantém longe da depressão e nos permite continuar a crescer."
É por isso que Barbara diz que é tão importante cultivar "micromomentos de prazer". Há um ano, escrevi uma coluna sobre a importância deles. De lá para cá, assim como na maior parte da minha vida, venho tentando abrir espaços para que esses micromomentos aconteçam.
Celebrar a vida mais vezes, com direito a bolo de fubá naquele cafezinho charmoso, está nos meus planos. Para quem quiser conhecê-lo, ele se chama Flores na Varanda e fica na Rua Camilo, 455, na Vila Romana. Não interprete essa recomendação como propaganda. Os donos do lugar não me conhecem e nem imaginam que estive lá. A dica é de coração. Acho que os meus leitores (pelo menos os que moram em São Paulo) merecem viver uns minutinhos de felicidade naquele lugar. Quem mora em outros estados e no Exterior pode me contar o que anda fazendo para ser feliz. Quem sabe, uma hora dessas, não apareço por aí? Minhas férias estão chegando...E eu sigo firme e forte no meu propósito de ser um pouquinho feliz a cada dia.
Um comentário:
I'm not sure what the big fuss about happiness is. It is only the most recent couple of generations in history that have laid claim to a "happy life". For me, happiness is a transient emotion. If a person was happy all the time, would he or she even know it, since he or she would have nothing with which to compare it? I don't think we are supposed to have entirely happy lives, although we are meant to have happiness sprinkled into our life experiences.
Personally, I believe in seeking a contented and peace-filled life. I also believe in living a joyful life, but joy is different from happiness. Happiness is an emotion; joy is a choice to be thankful and content in one's circumstances.
But if I had to identify some of the many things that make me happy, I would say: a warm, purring cat on a cold winter's night; hitting mile 26 of a marathon; my mom's pancakes; and my old stuffed bunny, with which I used to defend myself against the attacks of my brother. These things make me happy until some of the harsher realities of life catch up to me, and then I reach for joy. So I say to you rejoice in all circumstances! It's no trouble for me to say it again: Rejoice!
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