Depois de um único dia de alívio, as temperaturas voltaram a cair no sábado. Fazia menos 28 graus celsius quando saí de manhã para fazer compras. À noite, as coisas não tinham melhorado muito: as temperaturas giravam em torno de menos 25 graus quando meu amigo mexicano (o da foto) chegou na minha casa em estado de choque e me perguntou como alguém, em sã consciência, pode escolher morar em um lugar tão frio.
Diz ele que a maioria dos canadenses não têm muita escolha, afinal nasceram, cresceram e têm suas raízes aqui (graças à inexplicável e incompreensível decisão de seus antepassados de habitar terras tão inóspitas...). Mas trocar o Rio de Janeiro por isso aqui, segundo ele, é totalmente incompreensível.
Minha resposta foi, basicamente, a seguinte: faz muito frio, mas todas as outras coisas boas compensam. Por exemplo, a cidade de Toronto acabou de implementar uma legislação que obriga supermercados a cobrar 5 centavos por cada sacola plástica utilizada. Além disso, há um projeto de lei para proibir adultos de fumar em carros com menores, inspirado por uma lei que já foi aprovada na província de Nova Escócia. E como se não bastasse, as cortes canadenses têm sido especialmente liberais no uso de maconha para propósitos medicinais, enquanto a polícia pega leva com usuários (mas não com traficantes). Por fim, o sistema de saúde é público e gratuito e funciona maravilhosamente bem, garantindo assistência médica de qualidade a ricos e pobres. Na verdade, funciona tão bem que há computadores nas salas de espera de hospitais, para aqueles que estão fazendo consultas poderem checar e-mails gratuitamente (eu mesma usei o serviço!).
Meu amigo não se convence com meus argumentos, e resolve o enigma de outra forma. Segundo ele, construir uma cidade totalmente planejada no meio do nada deve ter mexido com a cabeça das pessoas. Mais do que isso: nascer e crescer nessa cidade significa nascer e crescer com idéia de que você não deve se importar com o lugar onde mora. Portanto, a conclusão dele é que eu só consigo viver em Toronto porque sou candanga.
Talvez ele tenha razão. Brasília é uma das poucas cidades com hospitais públicos de ponta, como o Sarah Kubichek, e com políticas públicas admiráveis. A cidade foi pioneira no programa bolsa escola, que só foi implementado em âmbito nacional depois do sucesso obtido no Distrito Federal. Além disso, é uma das poucas (se não for a única) cidade onde motoristas são obrigados a parar para pedestres cruzando a faixa (e eles efetivamente param!). Além disso, Brasília tem os índices mais altos de desenvolvimento humano (IDH) e qualidade de vida no país.
Enfim, acho que eu concordo que eu só consigo viver em Toronto porque nasci na capital federal. Afinal, quem precisa de praia quando as coisas que realmente importam são de fato prioridade?
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