sexta-feira, 31 de julho de 2009

Cultura Cubana

A cultura cubana é sem dúvida mais próxima da brasileira que a cultura chinesa. Ainda assim, como em todo país, uma viagem permite descobrir pequenas e fascinantes diferenças culturais. Por exemplo, em contraste com os brasileiros, os cubanos me pareceram extremamente pontuais. Os ônibus chegam na hora programada, as pessoas chegam na hora marcada e os shows começam na hora agendada. Tudo parece funcionar de acordo com o relógio. Todavia, quando não tem uma agenda, um calendário ou um compromisso, os cubanos não carregam pressa (na verdade acho que nesses casos eles não carregam nenhuma noção de tempo, e muito menos um relógio).

Assim que cheguei a Cuba, fui no restaurante da esquina comer algo (porque a AirCanada adotou a moda Gol de não servir comida no vôo). Entrei, sentei, e demorou uns vinte minutos pra garçonete vir até minha mesa, perguntando o que eu queria. Pedi o menu. Mais meia hora. Se o menu, que já está pronto, demora meia hora pra chegar, imagine a comida... E antes que alguém sugira que o restaurante estava lotado, devo informá-los que havia três mesas ocupadas, incluíndo a minha. No meio da espera, resolvi ler meu guia. "Visitar Cuba exige muita paciência, bom humor e um gosto por aventura." Pois é. Quem me conhece bem pode imaginar que foram dez longos dias...

Uma segunda característica interessante da cultura cubana é como eles lidam com o calor. Os homens têm mania de levantar a blusa até o peito, deixando só a barriga de fora. Não sei se é um senso estético muito diferente do nosso, ou simplesmente costumes com mais pudores (afinal, se as mulheres não podem andar por aí com o peito à mostra, nada mais justo do que exigir que os homens também não o façam). Mas eu duvido que seja esse o caso, dada a quantidade de minissaias que eu vi (especialmente em repartições públicas) e shorts que, em muitos casos, eram menores que minhas calcinhas. Além das barrigas e coxas de fora, come-se sorvete o dia inteiro para compensar a absoluta falta de ar-condicionado numa ilha onde parece que a temperatura mínima é quarenta graus.

Por fim, cubanos têm alguns conceitos curiosos sobre comidas, que são especialmente relevantes para vegetarianos e diabéticos. Primeiro, pedir algo sem carne significa ou que eles vão cozinhar seu feijão com bacon, e tirar os pedacinhos de bacon antes de servir; ou que eles vão dizer que podem preparar sua omelete sem presunto e te servir uma omelete deliciosamente recheada de infinitos pedacinhos de presunto (e depois de esperar meia hora você pensa
pelo menos três vezes antes de mandar a omelete de volta pra cozinha). Meu guia diz que muitas vezes ele teve conversas inacreditáveis com garçons que diziam que podiam preparar um sanduíche de queijo com presunto, mas não podiam preparar um sanduíche só de queijo. Acho que meu guia ainda teve sorte de ser avisado com antecedência, o que não foi o caso da omelete...

Já os diabéticos precisam enfrentar o conceito cubano de "ter açucar". A primeira vez que perguntei no hotel se havia alguma bebida sem açucar o garçom me respondeu: coca-cola. Eu perguntei se tinha alguma outra coisa, e ele respondeu: refresco de laranja. Achando que era suco natural de laranja misturado com água, pedi um refresco. Cinco minutos depois, eu estava com um copo de Tang na mesa. Descobri, então, que "ter açucar" significa colocar uma colher de açucar em algo.

Fica, portanto, meu recado para todos os diabéticos, vegetarianos, impacientes, mal humorados, e pessoas aversas a qualquer tipo de risco: se vocês decidirem tirar férias, venham para Toronto!


Comidas de Cuba

Na minha última viagem, fui a Cuba. A primeira frase do guia dizia: você não vem a Cuba por causa da comida. De fato. Meu guia do lonely planet alertava para o fato de que as saladas, por exemplo, uma combinação de qualquer coisa crua que eles tenham disponível. Em geral, isso significa rodelas de tomate, pepinos em rodelas, e repolho. Foi essa a primeira salada que comi.

No dia seguinte, num restaurante diferente, checo de novo o menu das saladas. Parece promissor: salada simples, salada de atum, e salada de frango. Pedi uma salada de atum e recebi um prato com rodelas de tomate numa fileira, rodelas de pepino em outra fileira, repolho na terceira fileira, e atum recém retirado da lata da quarta fileira. Parecia uma bandeira sem tempero.

Mas o melhor ainda estava por vir. Um dia, além das opções tradicionais (salada simples, de atum e de frango) encontrei também o putine. Qual a explicação? Acho que batata é legume, então vai na lista de saladas. Depois de várias experiências nada aprazíveis, decidi ficar com minha bandeira sem tempero. Afinal, não se vai a Cuba por causa da comida -- e muito menos por causa do putine...

Ter ou não ter, eis a questão!

Hoje recebi a feliz notícia de que um amigo de Montreal teve seu segundo filho, e uma amiga do Brasil virou tia. Os emails vieram com fotos e tudo. Lindas as crianças e muito sorridentes pais, tios, avós, periquitos e papagaios. Lembrei de uma conversa recente, em que uma amiga minha de Toronto, que recentemente virou mãe, me disse que ter um bebê foi a melhor coisa que ela fez na vida. E não se faça pouco caso, pois ela é uma pessoa que -- ao contrário de muitas que eu conheço -- fez coisas muito interessantes na vida. Só não fiquei mais surpreendida com a afirmação porque há alguns anos li um artigo interessantíssimo de uma feminista que disse que quando ela teve o primeiro filho era ficou muito brava com as feministas. Segundo ela, feminismo fala muito sobre como maternidade é mais um mecanismo de dominação, e fala muito pouco do prazer e da felicidade em ser mãe.

Curiosamente, no fim do dia passei na banca para comprar a The Economist e me deparei com a capa de uma das mais importantes revistas canadenses, a Maclean's, cujo título era Razões para não ter filhos. O principal artigo desta edição (entitulado Sem crianças e sem remorso/perda) fala do crescente número de pessoas, especialmente mulheres, que não querem ser mães. 17% das mulheres canadenses entre 30 e 34 anos não planejam ter filhos. Nos Estados Unidos, 6% das mulheres entre 15 e 44 anos não querem ter crianças.

O artigo mostra como declarar publicamente que você não quer ter filhos deixou de ser um tabu, e passou a ser cada vez mais aceito. Em parte, a revolução se deu por causa da crescente literatura sobre o assunto. O artigo cita uma série de livros interessantes, que eu ainda preciso consultar. Mas o meu preferido, por causa do título é o de uma poeta canadense, que chama Paraíso, pedaço por pedaço. Sugestivo, não?

Isso não quer dizer que as pessoas que tomam essa decisão não enfrentem problemas. Ao contrário. Conheci uma sócia de um escritório de advocacia em São Paulo que tinha decidido não ter filhos e, segundo ela, as pessoas ainda confundem essa decisão com não gostar de crianças. O problema se repete nos Estados Unidos: uma jornalista publicou um artigo no The Guardian discutindo razões para não se ter filhos, e ficou taxada de "baby-hating journalist". Quer dizer que você só ama cachorros se tiver um?

Acho que a pior resposta, todavia, vem daqueles que acreditam que ser mãe é da natureza feminina e toda mulher em algum momento vai sentir "o chamado". Acho que existe gente suficiente por aí pra mostrar que a linha telefônica da mãe natureza anda com defeito... Mas é interessante notar que a tão esperada "ligação" falha mais em alguns casos do que em outros. Por exemplo, as pesquisas mostram que quanto maior o nível educacional, menor a probabilidade de mulheres terem filhos. Renda também é um fator. Alguns sugerem que isso ocorre porque essas mulheres não querem abdicar de suas carreiras, do seu tempo, do seu dinheiro ou da sua liberdade, mas o tópico ainda gera muita controvérsia entre acadêmicos (como quase todo e qualquer tópico...). Outra hipótese é que provavelmente essas mulheres estão super ocupadas e a mãe natureza não quer perder tempo agendando horário com secretárias, ou gastando fortunas em ligações para blackberries.

Apesar da aparente evolução sobre o tópico não ter filhos, ainda há tabus à solta por aí. A campanha anti-aborto nos Estados Unidos reune uma série de mulheres que dizem ter se arrependido de ter feito um aborto, mas o mesmo não acontece do outro lado. Ainda não chegamos no ponto em que se aceita que as pessoas digam que se arrependeram de ter tido filhos. A única pessoa que tentou, uma psicanalista francesa, foi duramente criticada. 40 Razões para Não ter Filhos foi traduzido para o português e eu tive a oportunidade de ler o livro numa das minhas visitas à Livraria da Travessa no ano passado, durante o lançamento do livro mais recente da Danusa Leão. Os fãs da Danusa que me desculpem, mas o livro da psicanalista estava infinitamente mais interessante...

Segundo a autora, não há credibilidade em escrever um livro argumentando que alguém não deve ter filhos, se você não teve filhos. E de fato ela parece ter razão: a feminista poderia ter descrito maternidade em um livro entitulado "Paraíso, pedaço por pedaço", como fez a poeta canadense sem filhos. Ou seja, é muito fácil descrever a sua vida como paraíso, com ou sem filhos. A questão é se alguém tem coragem de dizer que podemos também ser infelizes com eles, depois de termos sido felizes sem eles. Fazer isso requer não só coragem, mas também dinheiro para pagar muitos anos de terapia para seus filhos. Acho que a única coisa que eu criticaria no livro da psicanalista é o título. Ficaria muito melhor -- caso o Vargas Lllosa me permita -- entitulá-lo "Paraíso na outra esquina".








domingo, 12 de julho de 2009

Aprendendo a ignorar

Esses dias achei um caderno antigo, com rascunhos de crônicas, anotações para o doutorado, e reflexões sobre a vida em geral. Em uma dessas reflexões eu me perguntava porque estudar.

Para os que estão se perguntando porque eu estava escrevendo sobre isso, eu explico: estudantes de doutorado fazem qualquer coisa -- qualquer coisa! -- para evitar trabalhar na tese. Alguns limpam a casa duas vezes por dia. Eu escrevia sobre tópicos que não tinham nada a ver com minha tese, e que provavelmente não iam me arranjar um emprego.

Acho que para qualquer pessoa que fez completou o segundo grau e foi para a faculdade essa pergunta não faz o menor sentido. Porém, quando você decide, depois de cinco anos de faculdade, embarcar em um mestrado de um ou dois anos, e depois um doutorado de cinco anos, essa pergunta praticamente martela na sua cabeça o dia todo, todos os dias.

Um belo dia, eu resolvi tentar respondê-la, na minha busca desesperada por desculpas para não trabalhar na tese. E a resposta que eu arrajei foi a seguinte: até o fim da faculdade, o processo de aprendizado é basicamente acúmulo de informação. O professor (ou professora) organiza o conteúdo, te explica em sala de aula, e sua função como estudante é assimilar e entender as informações que seu professor selecionou. No mestrado e no doutorado também há acúmulo de informação (e de papel!), mas a principal função do exercício é aprender a administrar todas as informações que recebemos nesse processo.

O título do post é parte de uma letra de música que capta bem a idéia. Você lê milhares de livros, artigos, relatórios e websites. Conversa com a orientadora. Volta pra casa com uma quantidade insana de informações. Daí você precisa selecionar o que fica e o que você joga fora. Escrever uma tese, mais do que qualquer outra coisa, é aprender a ignorar. Sem isso, não tem tese ou dissertação.

Ou seja, deveria haver uma progressão natural no sistema educacional, na qual começamos com um processo intenso de acúmulo de informações. Progressivamente a ênfase passaria para a administração dessa informação, e isso se tornaria o foco no nível do mestrado e do doutorado. É óbvio que isso deveria ocorrer progressivamente. Se o processo todo foi só de acúmulo de informação até o fim da faculdade não se vai produzir teses e dissertações de qualidade. E quem me conhece bem sabe que aqui eu podia ficar horas e horas reclamando das universidades brasileiras, mas vou poupá-los hoje (afinal é domingo...).

Agora, anos depois, relendo meu diário, eu acho que não foi uma má resposta. A única pergunta que fica é até que ponto qualquer sistema de acúmulo de informação é adequado com as revoluções relacionadas a tecnologia da informação. No mundo de google e wikipedia, você pode achar tudo (ou quase tudo) na internet. Com seu Iphone ou Blackberry você pode fazer isso onde e quando quiser. Portanto, o acúmulo de informação não é mais tão necessário quanto saber selecionar o que é importante, ignorar o que é inútil, e saber diferenciar fontes seguras de fontes que precisam ser investigadas com cuidado. Portanto, talvez devéssemos iniciar o processo de aprender a ignorar muito mais cedo.

Entretanto, só aprender a ignorar não é o fim da história. Há um terceiro passo aqui, que é aprender a usar essa informação. Acho que num nível muito básico, a informação serve para entendermos melhor o mundo e o que ocorre à nossa volta. Sem isso, o processo de aprendizado se torna pífio. E eu dou um exemplo. Segundo um prêmio nobel de física que deu aula no Brasil na década de 50, os alunos são muito bons em decorar fórmulas e conceitos, mas não têm a capacidade de compreender a informação que estão recebendo. Os alunos sabem recitar de cor os conceitos, mas não sabem pra que eles servem.

O mesmo acontece nas faculdades de direito: os alunos sabem recitar o que é uma enfiteuse, e memorizaram o artigo do código civil que fala de enfiteuse, mas eles não sabem te explicar para que serve uma enfiteuse. Não sabem analisar qual a função de uma enfiteuse, e como aquela definição adotada pelo código civil impacta na vida das pessoas. Eles não aprendem a pensar, por exemplo, que há diversas maneiras distintas de regular indenizações por quebra de contratos e que, dependendo da regra adotada pelo código civil, as pessoas vão quebrar contratos com maior ou menor frequência. Em contrapartida, esse é um exercício que eu faço na minha primeira aula do ano aqui no Canadá. Todos os anos, eu e os alunos temos uma longa discussão sobre as vantagens e desvantagens econômicas e sociais de deixar os contratos mais flexíveis. E essa preocupação governa todo o curso. Assim, meu alunos aprendem as regras vigentes no direito e sabem usar esse conhecimento para melhor entender o mundo em que vivem (e as vezes pra tentar mudar as coisas).

E eu acabei reclamando do Brasil apesar de ter prometido que não ia fazê-lo. Acho que é inevitável: ao sair do Brasil, eu aprendi a selecionar a usar as informações que eu recebo. E o contraste não é só gritante, mas os problemas do sistema educacional brasileiro ficam muito visíveis depois dessa experiência. Eu só fico me perguntando se a gente precisa mandar todo mundo pro exterior pra conseguir mudar alguma coisa...










Imagem do Dia

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ted Talks Traduzidas!

Hoje eu descobri que a minha série favorita de palestras agora têm tradução para o português. Isso significa que agora eu posso dividir com vocês minha palestra favorita, sobre desenvolvimento.

Entre as não traduzidas, tem uma palestra interessantíssima sobre amor. Estão procurando voluntários para traduzi-la, caso vocês estejam com tempo livre.

E quem quiser assistir mais coisas, é só dar uma fuçada no site. É melhor que YouTube...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os lagos da China

Visitei dois lagos na China, ambos dentro de universidades.

Um dos lagos ficava dentro da Tsinghua University:



O lago não é lá grandes coisas, mas ele ficou famoso porque tem um poema dedicado a ele (cuja versão em inglês está no final do post). Segundo meus guias turísticos, alunos da faculdade de direito da Tsinghua, o poema foi escrito pelo famoso poeta Zhu Ziqing na década de 20 ou 30 e hoje é leitura obrigatória em todas as escolas da China. Turistas de todo o país vêm visitar o lago.

O outro lago foi na Peking University, e chama literalmente lago sem nome.



Meu tour guide dessa vez foi um colega de Yale que, assim como eu, está se matando para conseguir tenure por lá (mas ainda assim achou um tempinho para fazer um tour comigo pelo campus).



Minha conclusão é que esses chineses entendem das coisas: enquanto o Imperador tem um jardim privado, os acadêmicos ganham um lago.


The Lotus Pool by Moonlight
By Zhu Ziqing (1898-1948)

I have felt quite upset recently. Tonight, when I was sitting in the yard enjoying the cool, it occurred to me that the Lotus Pond, which I pass by everyday, must assume quite a different look in such moonlit night. A full moon was rising high in the sky; the laughter of children playing outside had died away; in the room, my wife was patting the son, Run-er, sleepily humming a cradle song. Shrugging on an overcoat, quietly, I made my way out, closing the door behind me.

Alongside the Lotus Pond runs a small cinder footpath. It is peaceful and secluded here, a place not frequented by pedestrians even in the daytime; now at night, it looks more solitary, in a lush, shady ambience of trees all around the pond. On the side where the path is, there are willows, interlaced with some others whose names I do not know. The foliage, which, in a moonless night, would loom somewhat frighteningly dark, looks very nice tonight, although the moonlight is not more than a thin, grayish veil.

All over this winding stretch of water, what meets the eye is a silken field of leaves, reaching rather high above the surface, like the skirts of dancing girls in all their grace. Here and there, layers of leaves are dotted with white lotus blossoms, some in demure bloom, others in shy bud, like scattering pearls, or twinkling stars, or beauties just out of the bath. A breeze stirs, sending over breaths of fragrance, like faint singing drifting from a distant building. At this moment, a tiny thrill shoots through the leaves and flowers, like a streak of lightning, straight across the forest of lotuses. The leaves, which have been standing shoulder to shoulder, are caught trembling in an emerald heave of the pond. Underneath, the exquisite water is covered from view, and none can tell its colour; yet the leaves on top project themselves all the more attractively.

The moon sheds her liquid light silently over the leaves and flowers, which, in the floating transparency of a bluish haze from the pond, look as if they had just been bathed in milk, or like a dream wrapped in a gauzy hood. Although it is a full moon, shining through a film of clouds, the light is not at its brightest; it is, however, just right for me - a profound sleep is indispensable, yet a snatched doze also has a savour of its own. The moon light is streaming down through the foliage, casting bushy shadows on the ground from high above, dark and checkered, like an army of ghosts; whereas the benign figures of the drooping willows, here and there, look like paintings on the lotus leaves. The moonlight is not spread evenly over the pond, but rather in a harmonious rhythm of light and shade, like a famous melody played on a violin.

Around the pond, far and near, high and low, are trees. Most of them are willows. Only on the path side can two or three gaps be seen through the heavy fringe, as if specially reserved for the moon. The shadowy shapes of the leafage at first sight seem diffused into a mass of mist, against which, however, the charm of those willow trees is still discernible. Over the trees appear some distant mountains, but merely in sketchy silhouette. Through the branches are also a couple of lamps, as listless as sleepy eyes. The most lively creatures here, for the moment, must be the cicadas in the trees and the frogs in the pond. But the liveliness is theirs, I have nothing.

Suddenly, something like lotus-gathering crosses my mind. It used to be celebrated as a folk festival in the South, probably dating very far back in history, most popular in the period of Six Dynasties. We can pick up some outlines of this activity in the poetry. Then I recall those lines in Ballad of Xizhou Island:

Gathering the lotus, I am in the South Pond,
The lilies in autumn reach over my head;
Lowering my head I toy with the lotus seeds.
Look, they are as fresh as the water underneath.

If there were somebody gathering lotuses tonight, she could tell that the lilies here are high enough to reach over her head; but one would certainly miss the sight of the water. So my memories drift back to the South after all. Deep in my thoughts, I looked up, just to find myself at the door of my own house. Gently I pushed the door open and walked in. Not a sound inside, my wife had been fast asleep for quite a while.




quarta-feira, 1 de julho de 2009

Música do Dia

Her Morning Elegance

Pobreza e personas non-grata na America Latina

Nesse verão visitei dois dos países mais pobres daAmérica Latina: Cuba e o Paraguai. Ver pobreza não é chocante pra quem vem do Brasil, afinal vemos isso por todos os lados por aqui. O chocante foi ver tipos de pobreza tão diferentes da brasileira.

No Paraguai, por exemplo, mesmo as áreas mais ricas e sofisticadas tem rédios, lojas e carros que não considerariamos de luxo aqui no Brasil. Os bairros mais ricos e as pessoas mais afoturnadas por lá parecem ter o nivel de vida da classe média-baixa brasileira. E a pobreza não está presente somente na vida privada. Ao visitar o Congresso paraguaio, vi que prédio tinha sido financiado pelo governo de Taiwan (sabe-se la em troca do que…) e ao sair pela porta da frente do Congresso, me deparei com uma favela do outro lado da rua. Literalmente, havia porcos comendo lixo na frente do Congresso nacional.

Cuba, por outro lado, tem uma pobreza de infraestrutura. Na parte mais antiga da cidade, os prédios da década de 50 não foram reformados desde então. A mesmo coisa para ruas e calçadas. Varios carros dessa época ainda estão circulando. Fora dos locais turísticos, não há ar condicionado, e mesmo no museu de arte cubana o ar condicionado estava quebrado há três meses. Não havia previsão de concerto (fiquei com medo dos quadros e dos vigias do museu derreterem naquele calor infernal das salas de exposição). Outras tecnologias como computadores e internet também não são de fácil acesso (nem para turistas). Os celulares chegaram a pouco tempo na ilha e faz alguns meses que os Cubanos foram autorizados a comprá-los.

A pobreza material de Cuba, todavia, contrasta com a pobreza humana do Paraguai (e do Brasil em grande parte) . Os pobres do Paraguai moram mal, se vestem mal, se alimentam mal, têm baixa escolaridade, têm doencas, são privados de assistência médica e sofrem muito com tudo isso. Em contraste, o povo de Cuba mora mal, e não tem roupas sofisticadas, mas eles têm o que vestir, o que comer e -- o que mais impressiona -- têm altíssima escolaridade e muita saúde. De fato, os níveis de escolaridade e saúde de Cuba são tão altos quanto os dos Estados Unidos, que é a maior economia mundial e investe bilhões de dólares na população para conseguir esses resultados. Minha conclusao foi que em Cuba está tudo caindo aos pedaços, menos as pessoas.

Ninguém sai de uma experiência dessa sem questionar um pouco o que é pobreza. O Banco Mundial classifica os países pela renda per capita, o que torna Cuba um dos paises mais pobres do globo. O Paraguai também não se sai muito bem nesse quesito. A ONU, por sua vez, considera além da renda os níveis de saúde e educação, e aí Cuba não fica tão mal. Ia ficar melhor ainda se a ONU não considerasse renda... Mas tem um pessoal que desenvolveu um índice de felicidade nacional e apesar deles não terem medido Cuba ou o Paraguai eu tenho impressão que as pessoas são mais felizes com saúde e podendo ler, do que com acesso a bens materiais de todo tipo. Mas ainda que a gente abdique da idéia de felicidade, acho que todo mundo concorda que ter saúde, comida e acesso a informação é mais importante que ter camisetas da moda, tênis de marca e carro do ano.

O mais interessante da experiência, todavia, foi descobrir as causas da pobreza nesses dois países. O embargo norte-americano teve um impacto negativo considerável na economia cubana. E o discurso anti-americano é muito forte na ilha, desde a época da revolução (uma visita ao museu da revolução foi bastante reveladora nesse sentido). Mas encontrar gente no mundo que odeie os americanos não é novidade. O que foi revelador foi descobrir que o grande causador da pobreza no Paraguai foi o Brasil. Pouco antes da Guerra do Paraguai, Francisco Solanos Lopez estava promovendo uma política agressiva de desenvolvimento, financiando a industrialização no país e fazendo investimentos pesados em educação. Uma aliança de países liderada pelo Brasil decidiu entrar em guerra para "garantir sua hegemonia na região" (i.e. para impedir que o Paraguai se desenvolvesse e se tornasse um império). O resultado foi desastroso para o Paraguai: metade da população foi morta, o país viveu dez anos sobre ocupação militar, perdeu uma parte significativa de seu território, e ainda teve que pagar uma pesada indenização. O resultado? Hoje eles são um dos países mais pobres da América Latina. E os culpados? Somos nós, brasileiros.

Enfim, ao visitar o Paraguai eu me senti como um Americano em Cuba. E, devo confessar, não foi uma sensação agradável. Afinal, ver pobreza e se preocupar com pessoas pobres é uma coisa, mas ser o causador de todos esses males é algo completamente diferente. Além disso, assim como os Cubanos os Paraguaios não se acanham em dizer que nós somos os culpados or grande parte dos problemas deles hoje. Nesse sentido, a pobreza nesses dois países é muito diferente da pobreza no Brasil, já que os pobres por aqui não parecem estar procurando culpados. Afinal, "Deus quis assim". Isso não quer dizer que não sejamos (nós, classes média e alta) culpados também na nossa própria terra. Basta ver o histórico das políticas desenvolvimentistas no Brasil, desde o primeiro governo de Getúlio até o fim da ditadura militar, para ver quem saiu ganhando. Como diz um economista indiano famoso, chamado Amartya Sen: "there is much evidence in history that acute inequalities often survive precisely by making allies out of the deprived (...) It can be a serious error to take the absence of protests and questioning of inequality as evidence of the absence of that inequality (or of the nonviability of that question)".

Como eu digo para meus alunos no Rio: os pobres nas favelas estão armados e poderiam a qualquer momento descer do morro e matar todos nós, promovendo o equivalente da revolução cubana. E o fato de que não haja riscos disso ocorrer agora, não significa que isso nunca vai acontecer. E ainda que não aconteça, pode ainda chegar o dia em que eles vão perceber quem ganha e quem perde nessa sociedade desigual em que vivemos, e deixem transparecer em toda e qualquer conversa nossa responsabilidade pela miséria alheia, como fazem os Paraguaios. Nesse dia, vamos descobrir que somos diferentes do Cubanos e dos Paraguaios em pelo menos uma coisa: nosso maior problema somos nós mesmos.













In history class, in seventh grade (or as we like to say in Canada, grade seven) we learned the story of the American Revolution — from the British perspective. Turns out you were all a bunch of ungrateful tax cheats. And you weren’t very nice to the Loyalists. What I miss most about Canada is getting the truth about the United States.

— MALCOLM GLADWELL, a staff writer for The New Yorker and the author, most recently, of “Outliers: The Story of Success”

O aniversário do Canadá

Hoje é Canada Day , o dia em que se celebra a promulgação do British North America Act de 1867, que transformou o Canadá em um país (ou um reino) composto por quatro províncias. Para celebrar a data, o New York Times convidou onze canadenses vivendo nos Estados Unidos para escrever sobre o que eles mais sentem falta. Vale a pena ler o artigo todo, mas seguem abaixo algumas coisas que chamaram minha atenção.

Um dos canadenses convidados pergunta, de onde veio esse nome? De 1867 a 1982, esse dia chamava-se Dominion Day, porque o ato de 1867 criava um "federal dominion" de quatro províncias. Em 1982, foi promulgado o Canada Act que eliminou os resquícios de controle da Inglaterra, e promulgou a Constituição Canadense. Daí passou a chamar Canada Day.

Daí ele pergunta, porque não chamam de Dia da Independência? Porque é difícil identificar o momento em que isso ocorreu: de 1867 a 1982 o governo da Inglaterra foi progressivamente concedendo mais poderes para o Canadá, mas foi provavelmente o processo de independência mais longo da história...

Esse outro deu uma descrição muito acurada dos Canadenses, que eu traduzi mal e porcamente:

"O aniversário do Canadá vem e vai sem muito alarde todos os anos. Sempre há promoções na lojas e o feriado, claro. Mas não têm muita pompa e circunstância na celebração canadense. O Canadá não é muito bom em encher os postes com bandeiras, e jogar papeizinhos pelas janelas dos prédios. Também não tem acrobacias aéreas, show de fogos, desfiles com bandas, e toda a pompa militar.

Os Canadenense preferem ficar na deles. Nós economizamos dinheiro e não cruzamos a rua fora da faixa (é ilegal, hein?). Nós ficamos parados quando a luz está vermelha para pedestres, ainda que não tenha um único carro na rua. Nós esperamos pela luz verde, indicando que é a nossa vez de passar. Daí nós enfiamos nossas cabeças dentro dos cachecóis, com um único olho de fora, quase fechado, tentando vencer a força do vento, cuidadosamente, discretamente, modestamente."

Um terceiro diz, "O que eu mais sinto falta? Do seguro saúde gratuito e universal."

Um quarto responde à acusação de que não há comida típica canadense indicando que há Coffee Crisps. Eu não faço a menor idéia do que isso seja, mas eu posso garantir que tem uma comida típica canadense que eu adoro: poutine. Segue a receita no final do post, que eu tirei de um site qualquer.

Uma canadense de poucas palavras diz apenas que ela sente saudades do u in color, afinal no Canada se usa o inglês britânico (colour).

E é bom lembrar que os laços com a Inglaterra não terminam aí. A rainha da Inglaterra ainda é a rainha e a Chefe de Estado do Canadá, como todas as notas de dólar canadense fazer questão de nos lembrar. Apesar do vínculo, para minha sorte, os canadenses parecem menos preocupados com as fofocas sobre os príncipes do que os ingleses. Mas talvez isso explique porque não dá para chamar o dia de Independence Day...

Um outro diz que sente falta da neve, que nos Estados Unidos é como o sistema de saúde: esporádica, não confiável, e é distribuída de forma desigual entre a população do país.

Por fim, um dos depoimentos que eu mais gostei foi a dona de uma livraria que disse que sentia falta da literatura canadense. Eu concordo que a literatura Canadense é muito diferente da americana. Para os curiosos, recomendo essas cinco palestras de uma das maiores escritoras Canadenses, Margaret Atwood sobre o livro mais recente dela, Payback. São cinco horas de palestra, mas já que não tem parada militar e show de fogos de artifício, podemos comemorar ouvindo isso. E eu garanto: vale muito a pena.

Happy Canada Day!


"Veja, aqui, como preparar uma poutine simples, "de microondas":

Ingredientes:

3 batatas grandes
óleo para fritar
1 xícara de molho de tomate pronto (sabor "pizza")
1 cubo de caldo de bacon
molho inglês
1 xícara de queijo muzzarela ralado grosso ou picado


Preparo:

Corte as batatas em palito, frite normalmente e escorra em papel-toalha.

Enquanto isto, aqueça no microondas o molho de tomate, misturando o caldo de bacon e uma colher, de chá, de molho inglês.

Distribua as batatas fritas em 4 pratos fundos ou tigelas. Regue com o molho de tomate, aquecido. Espalhe, por cima, o queijo ralado. Leve ao microondas até derreter o queijo.

Sirva em seguida."