segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O legado

Minha avó morreu no dia 5 de setembro, mas um pedacinho dela ficou em cada um dos netos.

A., o "primogênito", ficou com a sinceridade cortante, por vezes politicamente incorreta, mas sempre divertida, da minha vó.

M., o segundo mais velho, ganhou o dom da cozinha, preparando banquetes para batalhões (i.e. para a nossa família gregária e numerosa) em panelas enormes, sem se estressar com o vai-e-vem incessante de pessoas passando pela cozinha e dando palpites para o chef a cada cinco minutos.

Eu, a terceira em ordem de nascimento, herdei o espírito protestante da minha avó, que trabalhava de sol a sol sem reclamar (com a diferença de que ela começava as 5 da manhã e eu começo mais tarde um pouquinho....).

C. ficou com o pragmatismo e a praticidade da minha vó: nessa vida não há tempo para questões filosóficas, dúvidas cruéis e dilemas paralisantes. Afinal, resolver os problemas de forma rápida e efetiva é imprescindível para mulheres que trabalham em tempo integral e têm ainda que criar os filhos...

M. guardou a capacidade de ter opiniões fortes e verbalizá-las, doa a quem doer. E juntou isso com a capacidade de ser sempre uma excelente companhia para um copo de cerveja (ou de vinho do porto...), um carteado, ou uma tarde vendo tv no sofá. Uma combinação rara e, se bobear, exclusiva de M. e da Dona Inocência.

S., assim como minha vó, toma conta da gente sem avisar. Quando você chega, sua comida preferida aparece discretamente na mesa, seu suco favorito está lá quando você abre a geladeira, a toalha dobrada surge em cima da cama, quando você pensa em tomar um banho. E assim a coisa vai: tudo para seu conforto, bem-estar e felicidade vai sendo providenciado, sem alarde. Sem uma palavra, sequer.

A segunda C., irmã de P., herdou a religiosidade com os exercícios físicos. Minha avó caminhava na praia todos os dias, as 6 da manhã. E nada - absolutamente nada - conseguia impedir ela de ir. E assim vai C., seguindo os passos da Dona Inocência.

Por fim, P., o caçula dos netos, ficou com a discrição da minha avó. Pessoas de poucas palavras, que dizem só o necessário e, às vezes, só se manifestam quando questionados. Mas ainda assim, ou talvez muito por causa disso, pessoas que vale a pena ouvir.

E junto com tudo isso, Dona Inocência deixou também um legado de frases geniais que
talvez eu consiga coletar e colocar aqui em breve, com um pouco de sorte e muita ajuda daqueles que tem uma memória melhor que a minha.




4 comentários:

Maria Regina disse...

Pois é, Mariana....sua avó continua um pouco em cada um de nós!
Beijos

Unknown disse...

Mariana,

Disse tudo com muita sensibilidade e carinho, aguçando a saudade da vovó. Embora a tristeza não permita ainda, dá uma gana de viver cada minuto com as pessoas queridas, não dá?

Beijo

Anônimo disse...

this is beautiful!

n

A M. disse...

Mári,

Que coisa bonita que você escreveu. Acho que essa é a melhor forma de homenagear a nossa avózinha tão querida e única.
Afinal, embora ela escondesse (e isso acho que a família inteira herdou), a Dona Inocência era um poço de carinho, embora mais low profile.
Um beijo a você e até o próximo carteado ;)!