Saiu no New York Times hoje que agora há bastante evidência científica provando a importância de contato físico. Tocar outras pessoas é uma forma -- importante -- de comunicação. Tocar e ser tocado muda o modo como as pessoas pensam e se comportam. Por exemplo, alunos que são tocados pela professora nas costas ou no braço são duas vezes mais propensos a participar da aula do que os outros alunos. Da mesma forma, quando um médico toca um paciente, este tem a impressão de que a consulta durou o dobro do tempo se comparada à impressão daqueles que não foram tocados.
Eu não apenas tinha relatado aqui com canadenses são aversos ao contato físico, mas como eles também tinham resolvido a necessidade de ter contato (que acho que é natural e biológica) com um amplo mercado de serviços profissionais de massagem. O problema é que, de acordo com esses estudos que saíram no NYT hoje, massagens de uma pessoa próxima não apenas diminui a dor, mas também reduz a depressão e fortalece a relação. Portanto, quando se contrata uma massagem profissional, os canadenses se livram da dor, mas perdem dois importantes benefícios do contato humano. Portanto, ainda que os canadenses tenham achado uma solução, ela é -- na melhor das hipóteses -- imperfeita.
Eu estava, portanto, certa sobre isso. Mas parece que eu estava errada sobre o assassinato no Recife que aconteceu durante o carnaval. As provas colhidas até agora indicam que o marido e o sogro da menina foram os assassinos.
Apesar dos acertos e erros, o blog não deixou de gerar controvérsia. Minha mãe colocou o seguinte comentário no meu post sobre o assassino de João Hélio:
Discordo do ítem dois. A proteção a esse sujeito que fez o que fez em liberdade e ainda cometeu delito dentro do Abrigo onde cumpria reclusão pode ser legal , mas é uma afronta ao cidadão comum que trabalha, paga impostos e que, muitas vezes necessita de segurança , não tem.
Explico: Em janeiro , uma mulher foi assassinada pelo ex-marido, depois de ter prestado queixa e feito BO na delegacia mais de 5 vezes. Alguém ofereceu proteção?
Minha resposta: acho que o sentimento e a revolta do cidadão comum é válida e justificada. É, de fato, uma afronta. A questão é se a falta de proteção ao cidadão comum serve como justificativa para não proteger o sujeito. A resposta é não. O argumento da minha mãe, na verdade, é que temos que oferecer proteção pra todo mundo. Se esse sujeito tem direito a proteção, todos nós temos também (e a mulher assassinada pelo marido deveria ter tido também). E isso não é nada mais que um Estado de Direito. Portanto, concordo com minha mãe que temos um Estado de Direito imperfeito quando algumas pessoas têm direito a proteção, enquanto outras não têm. Mas ter alguma proteção é melhor do que não ter nenhuma (ou seja, é melhor do que viver numa terra de ninguém, como o velho oeste). Isso, todavia, não é suficiente e não devemos nos acomodar com o pouco que temos. Nesse aspecto, concordo com minha mãe!
Retomando a conversa no bar com minha família, meu tio apresentou o seguinte argumento: só tem direitos humanos no Brasil pra criminoso. Para a classe média honesta que trabalha e paga impostos (como a mulher assassinada pelo marido) não tem nada. Eu concordo que grande parte da atuação das ONGs é para proteção da população mais pobre, que não apenas é a parte da população mais propensa a se envolver com atividades criminosas, mas é também a parte da população mais propensa a sofrer abusos e violações de direitos humanos. Portanto, concordo com meu tio que os esforços para proteção de direitos humanos estão focados em uma parte da população. O ponto de discordância é que enquanto ele acha isso um absurdo, eu não acho. ONGs tem recursos limitados, e parte de fazer bom uso desses recursos é focar a atuação deles onde eles podem ser mais efetivos. Basta ver a quantidade de gente inocente que morre no Rio quando a polícia entra na favela atirando. Grande parte da classe média brasileira nunca teve que lidar com tiroteios na porta ou dentro de suas casas, porque a polícia não entra em condomínios da barra ou nas ruas de Ipanema atirando. Reconheço que a classe média tem que lidar com umas balas perdidas aqui e acolá de vez em quando, mas o índices de morte por bala perdida não se compara ao índices de homicídios nas favelas. Há, portanto, problema nos dois lados: mas de um lado o problema toma dimensões muito maiores, e por isso exige ação muito mais enfática.
Assim como a minha mãe, meu tio apresenta o seguinte argumento: o cidadão comum se sente afrontado quando vê uma ONG protegendo um criminoso, quando o trabalhador que paga impostos não têm proteção alguma. De novo, minha resposta é a mesma: isso não é um argumento para tirar a proteção dos direitos humanos de criminosos, mas sim para garantir que todo mundo têm direito a essa proteção.
A pergunta que fica é porque a classe média -- que tem muito mais recursos humanos e financeiros que as populações carentes -- não está se organizando pra demandar que essa proteção exista e seja efetiva para todos. Eu não tenho resposta a essa pergunta, mas acho que a classe média ia se beneficiar muito se parasse de tentar se diferenciar das classes baixas com esse discurso de "nós temos mais direito a isso do que eles", e tentasse juntar forças com ONGs e "o pessoal de direitos humanos" para lutar por um estado de direito efetivo pra todo mundo no país.
E eu tenho quase absoluta certeza que eu estou certa sobre isso também...
3 comentários:
Alguma coisa saiu errada na decisão judicial que permitia proteção ao menor.Ela foi retirada. Veja vc que até a justiça por aqui é confusa!
Nós todos ( independente da classe
a que pertencemos ) estamos sem saber em quem confiar ou pedir proteção ! À deriva! Mas valeu a reflexão!
Apesar de toda a coereência da sua teoria, acho que estudar um assunto é bem diferente de vivenciá-lo. E por isso tendo a concordar com a Regina. Afinal, que tipo de recursos temos a mais num país onde a corrupção impera? Não é comodismo; é uma sucessão de tentativas frustradas.
Mari, a classe média é muito ruidosa, muito organizada e letrada, já li não sei qts protestos registrados por aqui,logo, logo todos acreditaremos que somos as vítimas do sistema.
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