sábado, 6 de março de 2010

Ofensas, ofensas e mais ofensas

Ultimamente tenho simpatizado um pouco mais com o Diogo Mainardi, da Revista Veja. O sujeito está longe de ser brilhante e frequentemente escreve coisas inacuradas, mas inevitavelmente suas colunas geram debates e, principalmente, o tornam alvo de críticas. Meu blog tem gerado esse mesmo efeito ultimamente.

Hoje o pessoal do clube de corrida passou alguns quilômetros discutindo a elegância do uniforme do time de hóquei. O debate foi iniciado pela T., que de tão ofendida pelo meu post deixou dois comentários no blog, além de me mandar mais alguns e-mails. Resolvi perguntar a opinião da nossa fashion designer (sim, temos uma estilista de verdade no clube!). Para meu desapontamento, ela afirma veementemente que sim, as camisas do time canadense (não as do time americano) são atualmente elegantes no Canadá. Ressalva ela que não seriam se o time tivesse perdido a final. Mas, dada a vitória, o uniforme não apenas se torna elegante, mas deve assim permanecer por pelo menos dois anos. A próxima a ser consultada foi uma enfermeira. Informei a ela que estávamos tendo um debate sobre a elegância do uniforme, e ela respondeu prontamente:

- Claro que não é elegante!

A resposta encontrou um olhar fuzilante de T., e foi imediatamente remediada:

- Sim, claro que o uniforme é elegante.

T. está atualmente exigindo uma retratação minha, no blog, de preferência. Eu, como o Diogo Mainardi, continuo insistindo no meu ponto. Acho que apesar do uniforme ter se tornado um símbolo de vitória, e um motivo de orgulho, isso não muda as regras de estética da sociedade civilizada. Pode ser legal, cool ou "in", como definiu a designer. Mas bonito não é.

A segunda crítica veio da minha irmã. Diz ela, em resposta à minha aclamação por uma "revolução da classe média no Brasil":

Apesar de toda a coereência da sua teoria, acho que estudar um assunto é bem diferente de vivenciá-lo. E por isso tendo a concordar com a Regina. Afinal, que tipo de recursos temos a mais num país onde a corrupção impera? Não é comodismo; é uma sucessão de tentativas frustradas.

Faz sentido. A classe média está fazendo uma análise de custo-benefício: tentar mudar o rumo das coisas exige tempo e dinheiro. Quem vai largar seus empregos e afazeres e investir seu próprio dinheiro para tentar mudar a política no país? Talvez alguns poucos altruistas topassem, se houvesse alguma garantia de sucesso. Mas não há. O custo pessoal é muito alto, para um resultado coletivo não só incerto, mas provavelmente muito pequeno. Mas eu não sei quem tentou, quanto tentou, e quantas vezes tentou. Eu não consigo ver a sucessão de tentativas frustadas nos alunos que sentam no meu curso de direito na FGV. Na verdade, eu não consigo ver tentativa nenhuma: consigo ver um bando de meninos e meninas que querem um emprego bem pago. Só isso.
Portanto, eu acho que tem muito comodismo, e acho que não é resultado da uma sucessão de tentativas frustradas.

Mas ainda que alguém consiga me mostrar que a apatia é resultado de tentativas frustradas, a questão central, pra mim, é como quebrar esse ciclo. Portanto, não discordo da minha irmã quando ela apresenta a atitude da classe média como perfeitamente racional (ainda que a gente discorde da possível causa: comodismo ou frustação). Talvez o meu post seja mais um pedido veemente do que um prognóstico, pois eu acredito que se a classe média de fato se mobilizar algo pode mudar. Mas na medida em que a mobilização não é numerosa e significativa, ela acaba sendo frustrada,e gera ainda mais apatia, reforçando o ciclo. Portanto, meu único ponto é que se todo mundo começar a acreditar e começar a agir, a mudança acontece. Estou quase usando a famosa frase da campanha do Obama, "Yes, we can". Portanto, ainda que eu esteja errada nas causas da apatia, mantenho minha conclamação para que a classe média mude de atitude.

Enfim, decidi manter minhas posições controversas, no melhor estilo Diogo Mainardi. Isso me torna um ser ainda mais desprezível do que o atual governo canadense, que tem tendências claramente antidemocráticas. Esse mesmo governo declarou na semana passada (em pronunciamento oficial para a nação) que mudaria a letra do hino nacional. Uma das frases do hino se refere as "teus filhos" ("all thy sons command"), e o primeiro ministro declarou que o governo queria tornar o hino mais neutro. As feministas do país adoraram, mas a maioria do pessoal odiou a idéia. E a pressão foi tanta que o partido conservador teve que se retratar publicamente, o que ficou marcado como a retratação mais rápida do governo deste primeiro ministro, Harper.

Se a pressão continuar, talvez eu até me retrate. Antes isso do que ser processada pelos meus leitores, como o Diogo Mainardi. Mas devo avisar que antes de me retratar vou utilizar uma artimanha do Harper pra acalmar os ânimos e tentar abafar as críticas: vou fazer algo completamente inesperado, como tocar uma música dos Beattles, numa apariçao surpresa em um concerto de um dos violoncelistas mais famosos do mundo, Yo Yo Ma.



No Canadá, a estratégia "amaciou" a percepção que a população tinha do governo de maneira bastante efetiva e favoreceu o partido do Harper, que havia pisado na bola algumas vezes durante o ano. Se funcionou com o eleitorado canadense, deve funcionar também pra "amaciar" os leitores do meu blog. Há, portanto, pelo menos uma coisa que me diferencia do Diogo Mainardi: eu sei usar um pouco de elegância pra manter as coisas em ordem.





2 comentários:

Theresa Miedema disse...

Prado, you're not going to sing, are you? Because I have heard you sing and I am not sure it will add elegance to your blog...

By the way, this post was not quite the type of retraction that I had in mind. (Mostly because it wasn't a retraction at all.) Maybe we can agree that hockey jerseys represent "Canadian elegance" and are "Canadian chic". After all, we are a nation of lumber jacks, Mounties, voyageurs, and hockey players. In a country like Canada, where winter lasts six months or more, surely hockey jerseys have a degree of elegance to them.

Theresa Miedema disse...

I continue my lobby for a retraction...

Here is a link to an analysis of the last four seconds of the Men's Gold Medal Olympic hockey game:
http://www.thestar.com/staticcontent/776280

(Again, you have to copy and past the link into your browser to view the web page.)

Now, aside from the obsessive fascination with Team Canada's victory, the photos in the analysis show many fans in the stands wearing hockey jerseys. (Some jerseys are red, others are white, and all of them have a big maple leaf on them.)

I appeal to the people, the readers of this blog: do all these fans wearing their jerseys look inelegant? Surely they look elegant as they watch Sidney Crosby (#87) score the winning goal! Fellow readers, please support me on this point.