segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Confissões de uma (pseudo) corredora (2): iRun

Não dá pra deixar a morte do Steve Jobs passar em branco. Ele mudou nossas vidas, e mudou para melhor. A mídia não pára de falar sobre a influência que ele teve em nossa sociedade e sobre como ele mudou o mundo. Mas acho que pouca gente está parando para fazer uma pergunta mais pessoal: como o Steve Jobs mudou a sua vida? E acho que essa pergunta é tão importante quanto as anteriores. Por causa disso, decidi escrever um post sobre como ele mudou a minha vida.  
Antes, todavia, uma ressalva. Eu não vou fingir aqui que o sujeito é um santo ou deveria ser endeusado do jeito que está sendo. Na verdade, no meio de tantas manifestações do gênero, achei bastante refrescante esse artigo aqui, que nos lembra de algumas coisas pouco elogiáveis e nada admiráveis da personalidade de Jobs (veja um resumo em português aqui).

Feita a ressalva, acho que eu – assim como uma boa parte das pessoas no mundo -- pode dizer que Steve Jobs mudou um pouquinho minha vida. Eu pessoalmente acho que, se não fosse pelo Steve Jobs, hoje eu não estaria correndo. 
Comecei a correr mais ou menos na época em que ganhei meu primeiro iPod. O iPod shuffle. Eu saia, com ele pendurado no meu pescoço, ouvindo música durante a corrida. Raramente eu usava – ou uso – o Ipod quando não estou correndo. Não sinto muita necessidade de ficar ouvindo o tempo inteiro. Mas quando estou correndo, música te distrai. Bastante.


No início eu ouvia o que tinha na minha coleção de CDs: muita música brasileira. Marisa Monte, Cássia Eller, Zélia Duncan, etc. Daí eu comecei a notar que minha disposição pra correr aumentava com as músicas mais dançantes e diminuia com as músicas mais calmas. Fui ver se minha impressão tinha algum respaldo científico e pra minha surpresa, descobri que alguns cientistas tinham feito experiências com isso. A performance de pessoas que estava ouvindo música era superior à performance das pessoas que não estavam. Esse link explica as diversas razões e uma delas é, de fato, simplesmente distrair você o suficiente pra você não pensar no cansaço, dores musculares e quantos kilometros ainda faltam.

Além disso, as pesquisas mostravam que minha intuição estava certa: quando a música estava sincronizada com o ritmo de corrida, a performance era ainda melhor. Fiquei empolgada com a aplicação prática desta descoberta: se eu achasse a música certa pra minha corrida (com o mesmo ritmo da minha passada), viraria uma estrela das pistas. Foi isso que fez o recordista mundial dos 10,000 metros, um etíope. A música dele chama Scatman.

O problema é que eu não sabia como me beneficiar dessa informação. Eu não conheço música (em especial música de discoteca) e não compro CDs o suficiente para ter em estoque músicas das quais eu gosto. Mas o Steve Jobs já tinha pensado numa solução: a loja do iTunes vende playlists de corrida prontas. Ou seja, você podia comprar músicas de correr pra baixar no seu iPod. E cada uma custava um dólar. Ou seja, não era um preço exorbitante ou inacessível para um serviço que pra mim era extremamente valioso. Enfim, com dez dólares consegui encher meu iPod de músicas que tornaram minhas corridas muito mais empolgantes, sem eu ter que me familiarizar com o mundo da música. Com frequência, não fazia idéia do que ou quem estava tocando no meu iPod, mas funcionava. Acho que sem aquele iPod shuffle talvez esse projeto de começar a correr tivesse terminado algumas semanas depois de começar, como a vasta maioria dos projetos na minha vida…
Para os que estão curiosos pra saber qual a "minha" música, aqui vai (e como vcs podem perceber, as batidas são bem mais espaçadas do que as batidas do campeão olímpico):

Daí meu iPod shuffle morreu. Depois de uns dois anos de uso, a bateria acabou. E o Steve não gosta de fazer produtos que as pessoas possam substituir as baterias. Ele prefere que você jogue fora o produto antigo e compre um novo. Da Apple, claro. Recentemente li um livro que mostra como essa e outras políticas da Apple era tudo o que as empresas deveriam evitar, segundo o bom-senso empresarial. Mas o Steve Jobs, teimoso e assertivo como ele é, insistiu em fazer o que levou outras empresas à falência antes. E por alguma razão que ninguém entende, deu certo. Para aqueles que acham o sujeito um gênio dos negócios, recomendo muitíssimo ler esse livro: Everything is Obvious: Once You Know the Answer (para um resumo excelente em português, veja isso). Vocês vai ver que o Steve Jobs parece mais um “lucky bastard” do que um gênio dos negócios na descrição do autor.
Todavia, eu confesso. Eu fui uma das pessoas que contribuiu para o sucesso da políticas questionáveis da Apple. Com a morte do meu primeiro iPod, passei para o segundo. O iPod Nano. 

E esse iPod me apresentou um maravilhoso mundo novo: os podcasts. Tinha um monte de gente, com um monte de coisa interessante pra dizer, gravando essas coisas e colocando na internet. E você pode baixar e ouvir isso sem pagar nada. Eu lembro de várias corridas nas quais eu estava ouvindo Slate Magazine, que tem um podcast tão interessante quanto a revista eletrônica deles. Passei muito anos ouvindo Slate, até que um colega me recomendou This American Life, que é um modelo bem diferente da Slate, mas é super interessante também.Hoje eles dominam minha lista de Podcasts.
Isso inaugurou uma nova era na minha vida. A corrida não era mais sobre performance. Eu não queria mais imitar os etíopes que ganhavam medalhas nas olimpíadas. Ao invés disso, a corrida se tornou aquele momento do dia em eu ouvia pessoas interessantes falando sobre temas atuais, com análises instigantes. Acho que com o iPod Nano e meus podcasts, eu deixei de me preocupar em correr rápido e passei a me preocupar com nada. Eu ia correr feliz da vida, pois era a hora do dia em que eu podia relaxar, me distrair e me divertir muito.

Provavelemente não foi apenas o iPod que fez as corridas ficarem mais fáceis, mas o fato de que meu corpo tinha se acostumado com as corridas e estava mais adaptado a uma rotina regular de exercícios. Mas ainda assim acho que o iPod Nano e os podcasts desempenharam um papel importante. Eu lembro algumas vezes de cair na gargalhada no meio da rua com alguma piada. Os transeuntes te olham com espanto, devo confessar. Mas eu estava rindo muito pra me importar com que eles estavam pensando. Lembro também de chegar em casa e decidir dar mais uma volta no quarteirão correndo, só porque eu queria terminar de ouvir um determinado podcast. Enfim, acho que a dinâmica mudou muito com o iPod Nano.
Recentemente, com a morte do Nano, voltei para o shuffle (thanks J. for the present!).


E entrei de novo em uma nova fase. Ainda mantenho meus podcasts, em especial o This American Life. Mas comecei também a comprar audiolivros (Audiobooks em ingles). Não vou me estender, todavia, dado que já falei do assunto no post em inglês
Qual o próximo passo? iPhone! Assim vou ouvir de tudo um pouco, enquanto meu GPS mede a distância da corrida e me avisa quando as pessoas estão torcendo por mim no facebook. Ou quem sabe eu vou usar o Iphone pra começar a gravar meu próprios pensamentos e escrever um livro enquanto eu corro? Nunca se sabe. O que eu sei é que a vida é bem melhor com todos esses brinquedinhos. 
Fica aqui meu muito obrigada, Steve!

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