Segue uma outra versão da música do post anterior, dado que o mesmo não está disponível no Brasil.
Ao tentar investigar as causas do problema, descobri um monte de coisas interessantes sobre a tecnologias de filtro na internet em diversos países, includindo o Brasil (aqui). Por exemplo, vocês sabiam que quando o video da Cicarelli foi bloqueado devido a um processo da modelo contra o YouTube, o pessoal do Rio ainda conseguia assistir ao vídeo, então bloqueado no resto do país. Isso porque os mecanismos de bloqueio e filtro existem, mas não são 100% efetivos. Fiquei pensando se pessoas em lugares diferentes no Brasil tiveram diferentes experiências com o vídeo do post anterior.
Mas voltando à minha investigação: parece que a EMI (que é parte do grupo Warner Music ) queria cobrar royalties do You Tube, mas o acordo não saiu e vários vídeos de música da EMI (e de todo o grupo) foram tirados do ar em 2008. O vídeo que postei foi bloqueado pela mesma empresa a EMI. Todavia, isso não explica porque eu consigo assistir o vídeo em Toronto, mas o pessoal do Brasil não consegue. Acho que tem algo a ver com um sistema de direitos de propriedade intelectual no qual o vídeo somente fica disponível em países nos quais as distribuidoras conseguem cobrar royalties por cada exibição. Mas ainda preciso investigar isso com mais cuidado.
Há diversos problemas com o sistema de propriedade intelectual que vigora hoje no mundo e eu ainda tenho muito a aprender sobre isso. O pouco que eu sei veio das pesquisas do Centro de Tecnologia e Socidade da FGV. Para os interessados, recomendo especialmente dois dos trabalhos produzidos pelo centro:
Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música
O primeiro inclui uma análise de filtragem de conteúdo (o tema deste post) e o segundo conta uma história interessantíssima de uma indústria de música chamada Tecnobrega que ficou tão popular no Norte do Brasil que começou a movimentar uma quantia significativa de dinheiro. Todavia, eles não eram afiliados à indústria da música, que vive de royalties (ou seja depende de propriedade intelectual, acordos exclusivos e muita propaganda). Portanto, pra conseguir sobreviver, eles criaram um novo modelo de negócios para música:
E o pessoal do Tecnobrega não está sozinho. Um modelo muito similar de negócios é o da trupe Teatro Mágico (veja o site), que conheci por acaso, ao ser apresentada ao cantor principal do grupo, Fernando Anitelli numa festa há muitos anos atrás. Fernando, com todo seu carisma, me disse que tinha uma música no CD dele com meu nome, e me deu uma cópia do CD.
Naquela época, eu estava prestes a embarcar para um mestrado nos Estados Unidos, de onde o Fernando tinha acabado de voltar depois de uma temporada como "músico de pizzaria", como ele mesmo dizia. Ouvi muito o CD e gosto das músicas, mas nunca mais tinha ouvido falar do Fernando.
Um dia, numa visita ao Brasil, me deparei com o projeto dele listado como um dos melhores do ano na Folha de SP. E o mais interessante é que ele tinha sido eleito por votação popular, pois sua produção não entra nos circuitos das grandes gravadaoras e havia sido, portanto, ignorada pelos críticos da Folha. Mas o público corrigiu a falha dos críticos e mostrou que há vida, música e gente interessante fora do mundo limitado -- e muitas vezes injusto -- da indústria fonográfica, e dos direitos de propriedade intelectual que suportam essa indústria. Apesar do sucesso, ele se recusa a assinar um contrato com uma gravadora, e produz música independente, que sobrevive de shows e dos produtos da trupe. As músicas podem ser baixadas gratuitamente na internet e não é vendida. Esse é o segredo no negócio dele.
A música que eu mais gosto do CD chama Zaluzejo (abaixo). O Fernando fez essa música em homenagem à moça que trabalhava na casa dele. Eu acho essa música uma grande celebração da nossa cultura brasileira, cheia de crenças, superstições e gente que, segundo o Fernando, não fala errado, mas sim reinventa as palavras.
E não é só o Brasil que tem esses grandes empreendedores que conseguem revolucionar toda uma indústria, e um regime jurídico, com um violão debaixo do braço. Na Nigéria, o pessoal fez o mesmo com uma câmera na mão, e criou o Nollywood. Mas essa conversa vai ficar para um outro post.
Um comentário:
Oi Mariana,
esse tipo de estratégia musical da trupe é retratada no livro "Long Tail" de Chris Anderson. Para quem se interessar existe a tradução "Cauda Longa".
Seu tio Aires.
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