terça-feira, 19 de junho de 2012

Não Entendo Esses Americanos

O aeroporto da cidade do México fede. Tem cheiro de vômito. Eu não sei se eles usam algum produto de limpeza muito questionável, ou se eu dei azar de chegar na ala do check-in no exato momento que alguém tinha tido um acidente (que não estava visível). Mas o ponto é que eu estava com pressa para fazer o check-in e sair dali para um local mais arejado o mais rápido possível.
Não havia fila e eu fui direto para o balcão. O sujeito pegou meu passaporte e, antes de perguntar meu destino, começou a bater-papo com sua colega no balcão ao lado, que estava à toa e recebeu muito bem o convite para conversar. Eles estavam falando muito rápido para eu entender o que discutiam, mas claramente não era trabalho, pelas risadas dele e pelos gestos exagerados dela em resposta. Comecei a perder a paciência e fuzilar o sujeito com meu olhar, mas ele estava tão ocupado com a conversa que não notou.
Daí tirei minha caderneta da bolsa e comecei a anotar o nome dele, visível no crachá, para reclamar com a companhia. Ele imediatamente percebeu o que eu estava fazendo e prontamente se desobrou em gentilezas, tentando ser simpático. Mas era tarde demais. Minha paciência já tinha se exaurido há um tempo e eu fiz questão de cortá-lo a cada investida. Ser gentil agora não iria me dissuadir da idéia de reclamar com a companhia aérea sobre a falta de profissionalismo dele.
E daí ele tentou sua última cartada: imprimiu meu cartão de embarque e me mostrou que eu estava na classe executiva. Por um momento, ponderei minha ameaça de reclamação. Talvez eu até tivesse deixado o incidente passar batido depois dessa, exceto pelo fato que o sujeito estava tão preocupado em me agradar que esqueceu de checar para onde eu ia. Ele imprimiu apenas o cartão de embarque do primeiro destino, Texas, sem minha conexão para o destino final, Toronto. Ou seja, se eu não checasse isso, ia perder minha conexão com certeza… Depois de fuzilar ele com meu olhar novamente, pensando que tinha muita gente desempregada no México que faria aquilo muito melhor que ele, sai o mais rápido que pude daquela sala fedida, para bem longe da presença daquele sujeito incompetente.
Daí eu chego nos Estados Unidos e a interação é o exato oposto. Os funcionários da companhia não olham pra mim, nem se olham entre si. Ninguém fala com ninguém. Nenhum sorriso. Nenhuma gentileza. Tudo rápido e eficiente, mas sem valor nutricional para a alma. É como fast food. Tudo bem que a cultura Mexicana gera ineficiência – sendo o imbecil do check-in o exemplo extremo – mas devo conceder que é bastante agradável ser tratado com um pouco de cortesia e um sorriso de vez em quando.
E foi por isso que eu me assustei quando pedi comida no vôo de Texas para Toronto e a aeromoça discretamente acenou com a mão, em um gesto meio furtivo, falando para eu colocar o cartão de crédito de volta na bolsa. 


Parenteses para aqueles que não viajam há algum tempo: as empresas aéreas americanas não servem mais nada no vôo, a não ser na primeira classe. Se você estiver com fome, tem que comprar os snacks horríveis que eles têm. Como dizem em ingles, “they added insult to the injury”. Não bastava servir comida ruim. Agora a comida é pior do que era antes, e você ainda tem que pagar por ela! 


Os precavidos forram o estômago antes de embarcar, mas como eu não tive tempo pra comer algo no aeroporto, entre as conexões, só me restou a opção da comida paga do avião. E lá estava eu me preparando para pagar quando a aeromoça americana decide me dar a comida horrenda de graça.
Eu passei o resto do vôo especulando o que teria levado aquela senhora a me fazer aquela gentileza (ainda que seja comida horrenda, eu estava com tanta fome que classifica como gentileza…). Essas eram as hipóteses:
1)    Eu lembrava ela de algum parente com qual ela perdeu o contato há anos. Talvez uma filha que fugiu de casa para virar hippie. Ou uma neta, que se perdeu no mundo das drogas e nunca mais deu sinal de vida.
2)    Eu era a única pessoa no avião com o computador aberto e pilhas de papéis empilhadas, visivelmente estressada. Em contraste, a maioria dos passageiros estava indo ou voltando de férias, assistindo filmes nos seus iPads, lendo seus livros no Kindle, ou usando o método antiquado -- e já quase em completo desuso -- de entretenimento: falar com a pessoa no assento do lado. Talvez ela tenha ficado com pena de mim, ou se identificado comigo – afinal nós éramos as únicas pessoas dando duro ali.
3)    Eu fui a última pessoa que ela serviu, e ela fez a gentileza porque as três coisas que eu tinha escolhido no menu não estavam disponíveis. Daí tive que me conformar com o que tinha e ela resolveu me dar um brinde, como cortesia da empresa.
Ou seja, não sei se ela fez isso por ela (1), por mim (2), ou pela empresa (3), mas o fato é que todas as minhas tentativas de interagir com ela depois disso, para agradecer a comida, ela reagia como se não soubesse do que eu estava falando. Ou seja, a reação dela não correspondia com nenhuma das hipóteses.
São nesses momentos que eu me sinto bastante latino-americana. Talvez eu possa não gostar delas, mas ao menos eu sei as regras de interação e como elas funcionam. E o bom da interação latino-americana é que o objetivo é sempre muito claro. O exemplo do atendente mexicano ilustra bem isso: ele queria ganhar minha simpatia e evitar o problema com o chefe. Outro exemplo foi um comissário de bordo brasileiro que me trouxe um sundae com calda de morango diretamente da primeira classe. Por que? Porque eu era a única brasileira em um vôo de Israel para Nova Iorque e o mineiro ficou tão feliz de encontrar uma candanga, no meio de tantos gringos, que resolveu confraternizar… Enfim, seja pela razão que for, com os latino-americanos você com certeza vai ficar sabendo qual é a razão e porque você está ganhando algo de graça...
Mas, ao contrário dos latino-americanos, a aeromoça norte-americana me deixou lá sem saber o que estava acontecendo! Só depois da diarréia que eu tive no dia seguinte ao vôo, encontrei uma melhor hipótese: a comida que ela me deu era a pior opção, dentre tudo que havia de horrendo naquele vôo. Portanto, ela não apenas se sentiu envergonhada de me cobrar, mas ela também não achou que tinha me feito favor algum de me servir aquilo.
E depois de passar uma semana com diarréia, eu decidi que assumir minha "brasilidade" é a melhor arma contra esse capitalismo selvagem norte-americano. Vou levar meu frango com farofa – sem salmonela – no próximo vôo e se algum americano reclamar, eu rodo a baiana na cabeça deles!

3 comentários:

VGG disse...

Quanta revolta! Não se preocupe, o serviço de bordo nos meus vôos vai ser melhor...

Anônimo disse...

Mariana, estou numa idade que, se o avião chegar ao seu destino sem pane, sem nenhum insano tendo ataque de pânico ou surtando, vou achar tudo ok.....

Anônimo disse...

Tempere um galeto com limão, sal, pimenta do reino e o massageie e besunte com manteiga amassada com alho e ervas (salsa, tomilho, óregano, o que você quiser). Asse em forno médio-alto, e no meio do processo, recolha a manteiga da assadeira e vire o animal para ele dourar uniforme. Faça uma puta farofa de mandioca com cebola frita no azeite, essa manteiga misturada, ovo e mais salsa fresca. Corte em pedaços e aperte tudo num tapiuer pequenininho pra não fazer volume na bolsa.