sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Garçom e a Revolução

Ao ver minha mãe sacar a carteira, o garçom se vira para meu pai:

- Opa! Tá errado. É o homem quem paga, doutô.

Tentando passar o recado sem comprar uma briga, meu pai responde:

- Amigo, hoje começa a grande revolução!

O garçom continua:

- Doutô, vou te falar: a revolução começou faz tempo! Tô cansado de ver um monte de engravatado, todos cheios de si, entrarem aqui pra comer. Quando vem a conta, quem paga é a única mulher da mesa, que tava ali quietinha o tempo todo. É a chefe de todos eles, acredita? Isso quando não é também a dona da empresa! Isso sem falar nesse país, com presidenta mulher, todas as ministras, juizas, etc.

Eu solto um "Pois é.", tentando evitar que o cara enrolasse ainda mais a corda no pescoço. Ao invés de aproveitar a deixa, ele resolve continuar:

- Essa mulherada veio com esse papo de igualdade, mas elas queriam mesmo era superioridade. E olha que passaram a perna na gente, doutô. Olha aí!

Meu pai continuava olhando pro lado, apesar do garçom continuar olhando na sua direção, insistindo numa suposta cumplicidade masculina contra toda essa opressão.

Minha mãe recolhe o cartão e consegue finalmente dar um fim à conversa:

- É. Só os fortes sobreviverão. 

Ele achou que era piada. Aposto que vai perder o emprego para dessas mulheres que ficam por aí tentando afirmar sua superioridade a qualquer custo... 

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