domingo, 4 de janeiro de 2009

Pequenas diferenças culturais

A viagem de volta foi um exemplo dos contrastes entre as culturas americana e canadense.

A fila de imigração nos EUA estava gigantesca e eu vi que ia perder o vôo para Toronto. Perguntei para o oficial da imigração se eu podia passar na frente da fila para não perder meu vôo e ele simplesmente disse: - "Não".

Quando eu finalmente consegui passar pela imigração, fui ao balcão da empresa para avisá-los que tinha perdido meu vôo. Resposta: - "Use os computadores". Só faltaram acrescentar: estamos reduzindo o contato humano ao mínimo possível, para evitar problemas. Se fossem perguntados sobre que tipo de problemas, responderiam: aqueles normalmente gerados por contato humano, claro...

Os computadores gentilmente disseram que eu tinha sido realocada para o vôo da tarde. Fiquei quatro horas nas desconfortáveis cadeiras do aeroporto. Quando chegou a hora do embarque, eu, toda ansiosa por um assento mais confortável, fui informada por um sujeito de uniforme que não estava naquele vôo. Meu argumento para sujeito: - "Mas o computador me falou que eu estou nesse vôo." O sujeito repete que eu não estou naquele vôo.

Eu, como boa latina, começo a perder as estribeiras, falar alto, e dizer que eu alguém tinha que resolver meu problema. Em cinco minutos estou com meu cartão de embarque na mão. Entro feliz e contente no avião da Embraer e fico plantada lá mais duas horas porque a segurança do aeroporto decidiu retirar todas as malas do avião para fazer uma nova inspeção.

Chegando em Toronto, começaram os contrastes. O procedimento de imigração é até covardia comparar. Primeiro, não tem fila para canadenses e fila para estrangeiros. Vai todo mundo junto. A pessoa encarregada, com um sorriso, te encaminha para a fila mais curta e em cinco minutos estou falando com o oficial, que olha meus papéis, carimba tudo, e com um sorriso me diz "Welcome Back". Nada de duas horas de fila com pessoas que não olham na sua cara e não querem falar com você!

Daí, descobri que minhas duas malas tinham sido extraviadas, junto com as malas de metade das pessoas no meu vôo.
Nota de esclarecimento: todas as vezes que eu vim com empresas aéreas americanas para o Canadá eles extraviaram minhas malas. Todas! Inclusive quando eu me mudei.

E qual não foi minha surpresa ao chegar ao balcão para reclamar da bagagem extraviada e, ao invés de ouvir um "fala com meu computador", encontrar um sujeito que me olhou na minha cara, me explicou delicadamente o procedimento a ser seguido, me deu um formulário para preencher, perguntou se eu tinha alguma dúvida, e se despediu com um sorriso.

E quando saí do aeroporto tive uma experiência que resume bem o espírito de Toronto: peguei um táxi até em casa, que ficou preso no trânsito porque havia um protesto pacífico com grupos de apoio e repúdio a Israel. Apesar da temperatura, uma multidão carregava bandeiras de Israel e da autoridade palestina. O taxista, indiano, veio reclamando que a polícia não devia fechar o trânsito para esses protestos porque atrapalhava a vida dele e dos outros taxistas. E eu, brazuca, admirando todo aquele sol brilhando na neve branquinha que tinha caído no dia anterior e pensando que era um dia perfeito para voltar pra casa...

2 comentários:

Anônimo disse...

E para demonstrar as pequenas diferenças de classes sociais no Brasil, voltei de SP para Brasília num magnífico leito sobre rodas! Ao entrar no bus, as 23 camas já estão impecavelmente arrumadas. Têm até cabeceira com 1 metro de altura, que isola a cabeça do passageiro do chulé do seu colega posterior. Ao contrário das empresas aéreas, é fornecido um cobertor, não uma simples mantinha fuleira. Todas as camas são isoladas também no sentido lateral, por dois corredores (são 3 fileiras de camas). Duas das 6 pessoas, que embarcaram comigo, se decepcionaram, porque esperavam viajar lado a lado, colocando a conversa em dia.
Enquanto isso, nordestinos que viajam 2 a 3 dias para rever parentes, utilizam ônibuis piratas - mais baratos e sem condições básicas de trafegarem. Muitos compram uma passagem (1 lugar)e levam crianças no colo. Claro que o bus não tem toilete nem ar condicionado.

Cláudio.

Anônimo disse...

Ótimo texto. Sua irmã tem razão: vc pode ser cronista. O terceiro parágrafo é ilário.

Um beijo,

Augusto