
sábado, 27 de junho de 2009
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Finalmente, alguém que me entende
"all academics are besieged by doubts as to the relevance or impact of our work. (...) Law-and-development scholars have even greater reason than usual to feel a sense of impotence. Perhaps the only salve for this nagging doubt is to engage in concrete work in developing countries, as many of these scholars do."
Brian Tamanaha, The Lessons of Law and Development Studies, The American Journal of International Law, vol. 89, n. 2 (April 1995), p. 486.
Brian Tamanaha, The Lessons of Law and Development Studies, The American Journal of International Law, vol. 89, n. 2 (April 1995), p. 486.
domingo, 21 de junho de 2009
Comendo e aprendendo
Ninguém precisa ir até a China para descobrir que nossa cultura é diferente da deles. O que você descobre lá é que nossa cultura é diferente nos menores e mais inesperados detalhes. E o momento em que essas diferenças ficam mais evidentes é durante as refeições.
A primeira coisa que chamou minha atenção foi ver como os chineses te servem sem a menor cerimônia. Considerando que todas as refeições são banquetes de mais de vinte pratos, e acrescentando-se a isso o fato de que mais da metade dos pratos são absolutamente irreconhecíveis para ocidentais, ser servido sem ser consultado se torna uma aventura à altura do Indiana Jones.
Essa coisa de ser servida me chamou a atenção por uma razão especial. Em abril, no último mês de aulas, uma aluna chinesa que está fazendo o mestrado em Toronto levou eu e um colega para jantar em um restaurante chinês. Ela disse que tinha gostado muito do curso, e queria nos agradecer. Durante o jantar, todavia, ela passou a noite toda nos servindo, sem nos consultar. Na época, fiquei um pouco ofendida e um pouco confusa com a experiência. Foi só durante a viagem à China que compreendi que esse era o comportamento natural dos anfitriões por lá.
A segunda coisa que chamou minha atenção são as regras, bastante específicas, de onde anfitriões e convidados devem sentar. Umas duas ou três vezes eu cheguei no restaurante, fui sentando, e de repente recebi ordens para ir para o outro lado da mesa. Há vários simbolismos e significados por trás dessas regras, que basicamente dizem quem tem que ficar de costas para a porta ou de frente para a janela, ou uma combinação dos dois. Eu seria incapaz de indicar qualquer regra com precisão, muito menos de reproduzir a explicação que me deram para a existência das mesmas. Mas fica o aviso: se forem à China, aguardem as instruções antes de sentar.
Um terceira coisa interessante que descobri (desta vez lendo as dicas do meu guia sobre como me portar à mesa), é que é falta de educação não deixar comida no prato. Comer tudo indica que seu anfitrião é pobre e na casa dele ou dela não há fartura. A regra vem muito à calhar num contexto em que sempre há um banquete com mais de 20 pratos e as pessoas não param de colocar comida no seu prato sem te consultar.
Por fim, uma das coisas mais intrigrantes de toda a experiência foi descobrir que todos restaurantes têm salas privativas. É basicamente um quartinho com quatro paredes e uma mesa. A princípio, achei bastante estranho ir a uma restaurante e ficar trancada numa sala com a pessoas com quem você está jantando. Porém, depois eu pensei que talvez isso garanta que haja sempre uma janela e uma porta para que todos ficam de costas ou de frente, como mandam as regras. Além disso, é um excelente antídoto contra um outro costume chinês: o de ficar encarando as pessoas. Sempre que vou ao Brasil demoro um tempo para me acostumar com o fato de que as pessoas olham pra você e para suas roupas descaradamente, em qualquer local público (afinal a regra anglo-saxã é evitar contato a qualquer custo, mesmo que seja por olhar). Mas enquanto os brasileiros dão uma olhadelha não discreta, os chineses não se limitam à curta olhadelha. Eles param, e ficam te encarando, por longos minutos. Por causa disso, ao final da viagem, era quase um alívio chegar no restaurante e poder entrar em uma sala longe da vista de todos para cometer todas as minhas gafes mais à vontade!
A primeira coisa que chamou minha atenção foi ver como os chineses te servem sem a menor cerimônia. Considerando que todas as refeições são banquetes de mais de vinte pratos, e acrescentando-se a isso o fato de que mais da metade dos pratos são absolutamente irreconhecíveis para ocidentais, ser servido sem ser consultado se torna uma aventura à altura do Indiana Jones.
Essa coisa de ser servida me chamou a atenção por uma razão especial. Em abril, no último mês de aulas, uma aluna chinesa que está fazendo o mestrado em Toronto levou eu e um colega para jantar em um restaurante chinês. Ela disse que tinha gostado muito do curso, e queria nos agradecer. Durante o jantar, todavia, ela passou a noite toda nos servindo, sem nos consultar. Na época, fiquei um pouco ofendida e um pouco confusa com a experiência. Foi só durante a viagem à China que compreendi que esse era o comportamento natural dos anfitriões por lá.
A segunda coisa que chamou minha atenção são as regras, bastante específicas, de onde anfitriões e convidados devem sentar. Umas duas ou três vezes eu cheguei no restaurante, fui sentando, e de repente recebi ordens para ir para o outro lado da mesa. Há vários simbolismos e significados por trás dessas regras, que basicamente dizem quem tem que ficar de costas para a porta ou de frente para a janela, ou uma combinação dos dois. Eu seria incapaz de indicar qualquer regra com precisão, muito menos de reproduzir a explicação que me deram para a existência das mesmas. Mas fica o aviso: se forem à China, aguardem as instruções antes de sentar.
Um terceira coisa interessante que descobri (desta vez lendo as dicas do meu guia sobre como me portar à mesa), é que é falta de educação não deixar comida no prato. Comer tudo indica que seu anfitrião é pobre e na casa dele ou dela não há fartura. A regra vem muito à calhar num contexto em que sempre há um banquete com mais de 20 pratos e as pessoas não param de colocar comida no seu prato sem te consultar.
Por fim, uma das coisas mais intrigrantes de toda a experiência foi descobrir que todos restaurantes têm salas privativas. É basicamente um quartinho com quatro paredes e uma mesa. A princípio, achei bastante estranho ir a uma restaurante e ficar trancada numa sala com a pessoas com quem você está jantando. Porém, depois eu pensei que talvez isso garanta que haja sempre uma janela e uma porta para que todos ficam de costas ou de frente, como mandam as regras. Além disso, é um excelente antídoto contra um outro costume chinês: o de ficar encarando as pessoas. Sempre que vou ao Brasil demoro um tempo para me acostumar com o fato de que as pessoas olham pra você e para suas roupas descaradamente, em qualquer local público (afinal a regra anglo-saxã é evitar contato a qualquer custo, mesmo que seja por olhar). Mas enquanto os brasileiros dão uma olhadelha não discreta, os chineses não se limitam à curta olhadelha. Eles param, e ficam te encarando, por longos minutos. Por causa disso, ao final da viagem, era quase um alívio chegar no restaurante e poder entrar em uma sala longe da vista de todos para cometer todas as minhas gafes mais à vontade!
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Meu Brasil brasileiro vai à China junto comigo

Estou eu do outro lado do mundo, com 12 horas de diferença no fuso horário e, de repente, quando menos espero, dou de cara com os brazucas. Sem negar sua natureza gregária, eles vêm sempre em bandos, falando muito e principalmente discutindo tudo. Param na frente da bilheteria para discutir se vão entrar ou não. Quando decidem que vão entrar, engatam em um longo processo deliberativo para decidir quem vai pagar e quem deve quanto pra quem. Depois que entram, dicutem incessantemente se devem contratar um guia real (uma pessoa) ou um guia eletrônico (uma fitinha que vai narrando todas as informações relevantes, enquanto vc visita o lugar).
Meu passeio na cidade proibida foi incessamente interrompido por encontros com os mais diversos grupos de brazucas, o que já foi inesperado. Mas o mais inesperado foi encontrar a bandeira brasileira ao lado da chinesa em absolutamente todos os postes de luz em volta da Tiananmen square (conhecida em português como Praça Celestial), assim que saí da cidade proibida.


Explicação? Nosso Presidente estava fazendo uma visita oficial à China! Muita coincidência...
A maior coincidência, todavia, é que eu e o Lula estavamos lá pela mesma razão: nós dois queríamos estreitar laços com a China, pra promover desenvolvimento no Brasil. Enquanto o Lula estreitava os laços comerciais, eu estreitava os laços acadêmicos.
Apesar do propósito ser o mesmo, nossas visões de desenvolvimento são absolutamente opostas. Eu acho que reformas institucionais são a principal forma de deslanchar o processo (e queria entender como funcionam as instituições chinesas e como elas promovem desenvolvimento). Em contrapartida, nosso Presidente estava promovendo uma agenda de desenvolvimento através do comércio internacional e do fortalecimento das relações sul-sul (ou seja ,entre países em desenvolvimento) e do G-20.
Nota de rodapé para quem tem interesse no assunto: vale esclarecer que há evidência empírica favorável à minha visão, i.e. sustentando que são as instituições e não o comércio internacional os principais motores de desenvolvimento econômicos.
Apesar das nossas divergências sobre como promover desenvolvimento, foi ainda assim uma enorme coincidência. Só faltou uma chance de deliberar sobre isso com o Presidente, como deliberam os brazucas sobre absolutamente tudo em tudo quanto é lugar.
domingo, 14 de junho de 2009
Coisa de Cinema

A viagem à China me lembrou de dois filmes que assisti recentemente. Primeiro, o trajeto do avião foi completamente inesperado: ao invés de dar meia volta ao mundo, voamos sobre o pólo norte, passando por uma parte do Canadá que eu só conheço por fotos e filmes. Essa região chama territórios do norte (Northern Territories).
Há algumas semanas assisti um filme no festival de documentários de Toronto (hotdocs) chamado Experimental Eskimos. O filme mostra exatamente a vida dos povos nesses territórios do norte. Hoje em dia é politicamente incorreto chamá-los de esquimós. A palavra correta é Inuit. Independente da terminologia, todos devem ter uma imagem que representa a vida destes povos há algumas décadas: eles constroem iglus, tem charretes de neve puxadas por cachorros, e comem peixe cru, que eles pescam fazendo um buraco na neve e pescando naquele circulo que dá acesso à água, debaixo da camada de gelo. Devo informá-los que as coisas mudaram muito nos territórios do norte. Quem quiser se atualizar, assista o filme.
Um dos diálogos mais interessantes do filme foi um garoto de 11 anos da comunidade Inuit que havia sido “adotado” por uma família em Ottawa. Na entrevista, ele descrevia sua experiência ao chegar à cidade:
Garoto: - Eu vi muitas coisas das quais só tinha ouvido falar.
Entrevistador: - Tipo o que?
Garotro: - Tipo árvores.
A resposta fazia referência ao fato de que os territórios do norte ficam acima da chamada linha das árvores. Há um momento em que, devido ao frio, e à composição do solo, a vegetação deixa de existir. Os Inutis, na verdade, comem (ou comiam) peixe porque não há vegetais no território deles. Não há árvores, grama, ou flores. É só um mundão de neve, água, e pedra. Foi uma experiência inesquecível voar sobre os territórios do norte. A beleza dessa região é indescritível. Em contraste, a história deste povo -- em parte contada no filme -- não é tão linda. Se tiverem uma chance, recomendo tanto a viagem quanto o filme.
A segunda experiência foi a visita à Cidade Proibida em Beijing, onde vivia o imperador. A cidade é retratada no filme o Último Imperador, que também é excelente. O contraste da Cidade Proibida com os territórios do norte é que lá foi tudo construído por humanos, enquanto nos territórios é tudo beleza natural. Porém, a magnitude e a beleza da cidade é comparável àquela imensão branca acima da linha das árvores.





Enquanto Experimental Eskimos dá uma dimensão de como é uma vida de subordinação (ao governo Canadense) nesse território sem limites, o Último Imperador dá uma dimensão de como era uma vida sem subordinação (afinal, ninguém manda no imperador) dentro daquela clausura.
A cidade basicamente se divide em duas metades: as acomodações pessoais do imperador, que vivia com sua esposa e comcubinas, e a parte dos prédios públicos. A parte que eu mais gostei da cidade proibida foi a visita ao jardim privado do imperador.



Um dos imperadores decidiu construir um jardim para espairecer depois de um dia cansativo de trabalho, e afirmou que todo homem deveria ter seu próprio jardim para relaxar depois de um dia devotado às questões de interesse público. Fiquei pensando que talvez as invasões das áreas verdes nos terrenos do Lago Norte em Brasília (nos quais a pessoas cercaram terrenos públicos e tornam eles parte de suas casas), deve vir daí. Depois de um dia cansativo de trabalho, todo burocrata tem direito e espairecer no seu jardim privado, já dizia o imperador chinês. E, considerando que o burocrata dedicou seu dia ao interesse público, nada mais justo que o terreno do jardim seja público!
domingo, 7 de junho de 2009
No lugar certo, na hora errada...
Saí em quase todas as fotos da conferência. Juro que não foi de propósito...
Rumo à China, sem gripe suína
Embarquei pra China no dia 16 de maio e, em contraste com a viagem para os E.U.A., o vôo foi marcado pela neura com a gripe suína. A propósito, uma amiga me disse que o nome oficial é H1N1, graças às reclamações da indústria de carne suína que teve uma queda radical nas vendas depois que a epidemia começou.
Mas voltemos à neura.
Já na sala de embarque, a atendenfe pede para que todas as pessoas com sintomas de gripe e febre se identifiquem. E ela explica a razão: o governo chinês proibiu o embarque de pessoas potencialmente contaminadas. E esclarece que se alguém tentar passar desapercebido, não vai ser autorizado a desembarcar do avião na China.
Dentro do avião, vem uma nova triagem: ao invés do formulário da alfândega, recebi um formulário com diversas perguntas sobre meu estado de saúde atual e nas últimas duas semanas. O formulário pedia informações detalhadas sobre minha vida como, por exemplo, se eu tinha tido contato com alguém contaminado. E eu pensando: quem em sã consciência vai marcar sim nesse item? Daí eu descubro que tenho que assinar a parte inferior do formulário, declarando que todas as informações prestadas são verdadeiras. E um aviso: haverá sanções para quem fornecer informações falsas, incluindo prisão.
Nesse momento, comecei a refazer mentalmente o trajeto do cara contaminado. Ele decide não ouvir as instruções da atendente e embarca no avião, pensando que vai conseguir passar desapercebido. Daí, ao receber o formulário, ele percebe que acaba se de meter em uma grande confusão, pois agora as escolhas dele são: (i) dizer a verdade e ir direto pra quarentena; ou (ii) mentir e enfrentar o risco de ser descoberto, ir pra quarentena, e depois para a prisão. Difícil sua situação meu amigo...
Quando o avião pousou, o comissário anuncia que devemos permanecer todos sentados, pois as autoridades chinesas vão medir a temperatura de todos os passageiros. Nesse momento, eu tive certeza que o sujeito contaminado tinha definitivamente um problemão, e torci pra que ele tivesse ao menos preenchido o formulário com a verdade, pra pular a prisão...
Minha solidariedade se esvaiu, todavia, assim que eu parei pra pensar como que eles iam medir a temperatura das quatrocentas pessoas no vôo. Iam trazer termômetros, pedir para colocarmos debaixo do braço, esperar cinco minutos? A gente ia passar outras dezesseis horas dentro do avião... Estava eu preocupada com o assunto quanto entra um exército de oficiais chineses com máscaras, luvas e um aparelho muito estranho, que eles apontavam pra testa das pessoas, puxavam um botão, olhavam no visor e passavam para a próxima pessoa. Calculei que eles estavam gastando 10 segundos por pessoa, o que diminuia o tempo necessário para 4000 segundos (ao invés de 16 horas...). Considerando que havia 20 oficiais no avião, e cada oficial precisava de 200 segundos, conclui que em quatro minutos tudo deveria estar finalizado...
Obviamente, minha conta estava errada, e a coisa toda demorou uns 15 minutos -- o que eu ainda considerei uma boa marca se comparada à minha previsão inicial.
Como o sujeito contaminado já estava sendo enviado pra quarentena, passei a me preocupar com o potencial sujeito que estava com febre por outras razões e ia acabar sendo levado também pra quarentena, além de passar por uma investigação para averiguar se ele não tinha mentido ao preencher o formulário. Estava eu pensando no azarado, enquanto caminhava pelo magnífico aeroporto de Beijing (que é de fato impressionante), quando fui surpreendida por mais um official, me pedindo o formulário da gripe.
Fui pega totalmente de supresa: achei que depois de tantas medidas de segurança, não sobrava mais nada pra checar. Mas os chineses são, de longe, mais espertos que eu. Eles tentaram evitar que o cara contaminado e com febre embarcasse. Caso ele tivesse embarcado, tinha evitado que ele desembarcasse. E tinham levado junto pra quarentena o sujeito que estava com febre, ainda que o mesmo não estivesse com gripe. Agora, no último posto de checagem, o official ia pegar o sujeito contaminado que não estava com febre, mas tinha ficado com medo de mentir no formulário. Enfim, a conclusão é que eu só vou adquirir gripe suína na China se algum sujeito contaminado, ainda sem febre, mentiu no formulário.
Em suma, risco de morte bem menor do que em Nova Iorque. Isso significa que eu não vou ter uma desculpa pra ir a nenhuma festa cool nessa viagem….
Mas voltemos à neura.
Já na sala de embarque, a atendenfe pede para que todas as pessoas com sintomas de gripe e febre se identifiquem. E ela explica a razão: o governo chinês proibiu o embarque de pessoas potencialmente contaminadas. E esclarece que se alguém tentar passar desapercebido, não vai ser autorizado a desembarcar do avião na China.
Dentro do avião, vem uma nova triagem: ao invés do formulário da alfândega, recebi um formulário com diversas perguntas sobre meu estado de saúde atual e nas últimas duas semanas. O formulário pedia informações detalhadas sobre minha vida como, por exemplo, se eu tinha tido contato com alguém contaminado. E eu pensando: quem em sã consciência vai marcar sim nesse item? Daí eu descubro que tenho que assinar a parte inferior do formulário, declarando que todas as informações prestadas são verdadeiras. E um aviso: haverá sanções para quem fornecer informações falsas, incluindo prisão.
Nesse momento, comecei a refazer mentalmente o trajeto do cara contaminado. Ele decide não ouvir as instruções da atendente e embarca no avião, pensando que vai conseguir passar desapercebido. Daí, ao receber o formulário, ele percebe que acaba se de meter em uma grande confusão, pois agora as escolhas dele são: (i) dizer a verdade e ir direto pra quarentena; ou (ii) mentir e enfrentar o risco de ser descoberto, ir pra quarentena, e depois para a prisão. Difícil sua situação meu amigo...
Quando o avião pousou, o comissário anuncia que devemos permanecer todos sentados, pois as autoridades chinesas vão medir a temperatura de todos os passageiros. Nesse momento, eu tive certeza que o sujeito contaminado tinha definitivamente um problemão, e torci pra que ele tivesse ao menos preenchido o formulário com a verdade, pra pular a prisão...
Minha solidariedade se esvaiu, todavia, assim que eu parei pra pensar como que eles iam medir a temperatura das quatrocentas pessoas no vôo. Iam trazer termômetros, pedir para colocarmos debaixo do braço, esperar cinco minutos? A gente ia passar outras dezesseis horas dentro do avião... Estava eu preocupada com o assunto quanto entra um exército de oficiais chineses com máscaras, luvas e um aparelho muito estranho, que eles apontavam pra testa das pessoas, puxavam um botão, olhavam no visor e passavam para a próxima pessoa. Calculei que eles estavam gastando 10 segundos por pessoa, o que diminuia o tempo necessário para 4000 segundos (ao invés de 16 horas...). Considerando que havia 20 oficiais no avião, e cada oficial precisava de 200 segundos, conclui que em quatro minutos tudo deveria estar finalizado...
Obviamente, minha conta estava errada, e a coisa toda demorou uns 15 minutos -- o que eu ainda considerei uma boa marca se comparada à minha previsão inicial.
Como o sujeito contaminado já estava sendo enviado pra quarentena, passei a me preocupar com o potencial sujeito que estava com febre por outras razões e ia acabar sendo levado também pra quarentena, além de passar por uma investigação para averiguar se ele não tinha mentido ao preencher o formulário. Estava eu pensando no azarado, enquanto caminhava pelo magnífico aeroporto de Beijing (que é de fato impressionante), quando fui surpreendida por mais um official, me pedindo o formulário da gripe.
Fui pega totalmente de supresa: achei que depois de tantas medidas de segurança, não sobrava mais nada pra checar. Mas os chineses são, de longe, mais espertos que eu. Eles tentaram evitar que o cara contaminado e com febre embarcasse. Caso ele tivesse embarcado, tinha evitado que ele desembarcasse. E tinham levado junto pra quarentena o sujeito que estava com febre, ainda que o mesmo não estivesse com gripe. Agora, no último posto de checagem, o official ia pegar o sujeito contaminado que não estava com febre, mas tinha ficado com medo de mentir no formulário. Enfim, a conclusão é que eu só vou adquirir gripe suína na China se algum sujeito contaminado, ainda sem febre, mentiu no formulário.
Em suma, risco de morte bem menor do que em Nova Iorque. Isso significa que eu não vou ter uma desculpa pra ir a nenhuma festa cool nessa viagem….
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