domingo, 7 de junho de 2009

Rumo à China, sem gripe suína

Embarquei pra China no dia 16 de maio e, em contraste com a viagem para os E.U.A., o vôo foi marcado pela neura com a gripe suína. A propósito, uma amiga me disse que o nome oficial é H1N1, graças às reclamações da indústria de carne suína que teve uma queda radical nas vendas depois que a epidemia começou.

Mas voltemos à neura.

Já na sala de embarque, a atendenfe pede para que todas as pessoas com sintomas de gripe e febre se identifiquem. E ela explica a razão: o governo chinês proibiu o embarque de pessoas potencialmente contaminadas. E esclarece que se alguém tentar passar desapercebido, não vai ser autorizado a desembarcar do avião na China.

Dentro do avião, vem uma nova triagem: ao invés do formulário da alfândega, recebi um formulário com diversas perguntas sobre meu estado de saúde atual e nas últimas duas semanas. O formulário pedia informações detalhadas sobre minha vida como, por exemplo, se eu tinha tido contato com alguém contaminado. E eu pensando: quem em sã consciência vai marcar sim nesse item? Daí eu descubro que tenho que assinar a parte inferior do formulário, declarando que todas as informações prestadas são verdadeiras. E um aviso: haverá sanções para quem fornecer informações falsas, incluindo prisão.

Nesse momento, comecei a refazer mentalmente o trajeto do cara contaminado. Ele decide não ouvir as instruções da atendente e embarca no avião, pensando que vai conseguir passar desapercebido. Daí, ao receber o formulário, ele percebe que acaba se de meter em uma grande confusão, pois agora as escolhas dele são: (i) dizer a verdade e ir direto pra quarentena; ou (ii) mentir e enfrentar o risco de ser descoberto, ir pra quarentena, e depois para a prisão. Difícil sua situação meu amigo...

Quando o avião pousou, o comissário anuncia que devemos permanecer todos sentados, pois as autoridades chinesas vão medir a temperatura de todos os passageiros. Nesse momento, eu tive certeza que o sujeito contaminado tinha definitivamente um problemão, e torci pra que ele tivesse ao menos preenchido o formulário com a verdade, pra pular a prisão...

Minha solidariedade se esvaiu, todavia, assim que eu parei pra pensar como que eles iam medir a temperatura das quatrocentas pessoas no vôo. Iam trazer termômetros, pedir para colocarmos debaixo do braço, esperar cinco minutos? A gente ia passar outras dezesseis horas dentro do avião... Estava eu preocupada com o assunto quanto entra um exército de oficiais chineses com máscaras
, luvas e um aparelho muito estranho, que eles apontavam pra testa das pessoas, puxavam um botão, olhavam no visor e passavam para a próxima pessoa. Calculei que eles estavam gastando 10 segundos por pessoa, o que diminuia o tempo necessário para 4000 segundos (ao invés de 16 horas...). Considerando que havia 20 oficiais no avião, e cada oficial precisava de 200 segundos, conclui que em quatro minutos tudo deveria estar finalizado...

Obviamente, minha conta estava errada, e a coisa toda demorou uns 15 minutos -- o que eu ainda considerei uma boa marca se comparada à minha previsão inicial.

Como o sujeito contaminado já estava sendo enviado pra quarentena, passei a me preocupar com o potencial sujeito que estava com febre por outras razões e ia acabar sendo levado também pra quarentena, além de passar por uma investigação para averiguar se ele não tinha mentido ao preencher o formulário. Estava eu pensando no azarado, enquanto caminhava pelo magnífico aeroporto de Beijing (que é de fato impressionante), quando fui surpreendida por mais um official, me pedindo o formulário da gripe.

Fui pega totalmente de supresa: achei que depois de tantas medidas de segurança, não sobrava mais nada pra checar. Mas os chineses são, de longe, mais espertos que eu. Eles tentaram evitar que o cara contaminado e com febre embarcasse. Caso ele tivesse embarcado, tinha evitado que ele desembarcasse. E tinham levado junto pra quarentena o sujeito que estava com febre, ainda que o mesmo não estivesse com gripe. Agora, no último posto de checagem, o official ia pegar o sujeito contaminado que não estava com febre, mas tinha ficado com medo de mentir no formulário. Enfim, a conclusão é que eu só vou adquirir gripe suína na China se algum sujeito contaminado, ainda sem febre, mentiu no formulário.

Em suma, risco de morte bem menor do que em Nova Iorque. Isso significa que eu não vou ter uma desculpa pra ir a nenhuma festa cool nessa viagem….





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