
A viagem à China me lembrou de dois filmes que assisti recentemente. Primeiro, o trajeto do avião foi completamente inesperado: ao invés de dar meia volta ao mundo, voamos sobre o pólo norte, passando por uma parte do Canadá que eu só conheço por fotos e filmes. Essa região chama territórios do norte (Northern Territories).
Há algumas semanas assisti um filme no festival de documentários de Toronto (hotdocs) chamado Experimental Eskimos. O filme mostra exatamente a vida dos povos nesses territórios do norte. Hoje em dia é politicamente incorreto chamá-los de esquimós. A palavra correta é Inuit. Independente da terminologia, todos devem ter uma imagem que representa a vida destes povos há algumas décadas: eles constroem iglus, tem charretes de neve puxadas por cachorros, e comem peixe cru, que eles pescam fazendo um buraco na neve e pescando naquele circulo que dá acesso à água, debaixo da camada de gelo. Devo informá-los que as coisas mudaram muito nos territórios do norte. Quem quiser se atualizar, assista o filme.
Um dos diálogos mais interessantes do filme foi um garoto de 11 anos da comunidade Inuit que havia sido “adotado” por uma família em Ottawa. Na entrevista, ele descrevia sua experiência ao chegar à cidade:
Garoto: - Eu vi muitas coisas das quais só tinha ouvido falar.
Entrevistador: - Tipo o que?
Garotro: - Tipo árvores.
A resposta fazia referência ao fato de que os territórios do norte ficam acima da chamada linha das árvores. Há um momento em que, devido ao frio, e à composição do solo, a vegetação deixa de existir. Os Inutis, na verdade, comem (ou comiam) peixe porque não há vegetais no território deles. Não há árvores, grama, ou flores. É só um mundão de neve, água, e pedra. Foi uma experiência inesquecível voar sobre os territórios do norte. A beleza dessa região é indescritível. Em contraste, a história deste povo -- em parte contada no filme -- não é tão linda. Se tiverem uma chance, recomendo tanto a viagem quanto o filme.
A segunda experiência foi a visita à Cidade Proibida em Beijing, onde vivia o imperador. A cidade é retratada no filme o Último Imperador, que também é excelente. O contraste da Cidade Proibida com os territórios do norte é que lá foi tudo construído por humanos, enquanto nos territórios é tudo beleza natural. Porém, a magnitude e a beleza da cidade é comparável àquela imensão branca acima da linha das árvores.





Enquanto Experimental Eskimos dá uma dimensão de como é uma vida de subordinação (ao governo Canadense) nesse território sem limites, o Último Imperador dá uma dimensão de como era uma vida sem subordinação (afinal, ninguém manda no imperador) dentro daquela clausura.
A cidade basicamente se divide em duas metades: as acomodações pessoais do imperador, que vivia com sua esposa e comcubinas, e a parte dos prédios públicos. A parte que eu mais gostei da cidade proibida foi a visita ao jardim privado do imperador.



Um dos imperadores decidiu construir um jardim para espairecer depois de um dia cansativo de trabalho, e afirmou que todo homem deveria ter seu próprio jardim para relaxar depois de um dia devotado às questões de interesse público. Fiquei pensando que talvez as invasões das áreas verdes nos terrenos do Lago Norte em Brasília (nos quais a pessoas cercaram terrenos públicos e tornam eles parte de suas casas), deve vir daí. Depois de um dia cansativo de trabalho, todo burocrata tem direito e espairecer no seu jardim privado, já dizia o imperador chinês. E, considerando que o burocrata dedicou seu dia ao interesse público, nada mais justo que o terreno do jardim seja público!
2 comentários:
Sugiro promovermos intercâmbio entre habitantes do norte canadense e povos da amazônia.
Creio que a única coisa em comum é a utilização de peixe como base da alimentação.
Me disseram que os Xavantes também promover um programa de adoção de índigenas por famílias brancas, para que eles fossem aculturados e depois voltassem para a tribo para serem líderes políticos. A única diferença é que o programa brasileiro deu certo, pq foi iniciativa dos próprios xavantes. Há um documentário sobre o assunto, mas eu nao seu o nome.
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