segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Batendo records

Toronto anda batendo vários records ultimamente.

Se não nevar hoje, até meia noite, vai ser a primeira vez desde 1847 que não houve neve em Toronto no mês de novembro.

Toronto também bateu um outro record nos últimos anos: se tornou o maior mercado para apartamentos da América do Norte. Isso significa que há mais prédios de apartamentos sendo construídos em Toronto do que em Chicago, Nova Iorque ou Los Angeles.

(E vale notar uma curiosidade: aqui no Canadá, eles chamam os apartmentos de "condos". A palavra "apartment" é usada só para imoveis que você pode alugar, mas não comprar).

E para manter a reputação de uma cidade recordista, Toronto também criou um dos maiores e mais ambiciosos projetos de desenvolvimento urbano do mundo. Além do tamanho, o projeto de revitalização de uma região pobre da cidade, chamada Regent Park, tem uma série de inovações interessantes. Em projetos similares de revitalização nos Estados Unidos e na Inglaterra, a população pobre foi desalojada, indenizada, e teve que se mudar para outro lugar. Já em Regent Park toda a população pobre está recebendo uma garantia de que eles poderam retornar para os novos imóveis quando a construção de casas populares terminar. E o projeto é construir também "condos" para classe média e alta, criando o que eles chamam de uma vizinhança mista, com gente rica e pobre. Além disso, o projeto tem uma série de inovações tecnológicas para tornar o consumo de energia mais eficiente e menos poluidor. E, ao que tudo indica, vai ser um grande sucesso.

Enquanto isso, no Brasil, a gente anda expulsando gente na iniciativa privada que está tentando desenvolver projetos similares nas favelas do Rio. E fazemos isso enquanto mantemos nosso record de um dos países com as taxas mais altas de violência do mundo. Tudo isso me faz pensar se o melhor do Brasil é, de fato, o brasileiro.

domingo, 29 de novembro de 2009

N&N: melhores momentos

Essa semana tive a visita de dois bons amigos, e nobres colegas de profissão. Em homenagem a eles, decidi fazer um post com nossos melhores momentos nos últimos anos.

Melhor momento 1: explorando o melhor de Nova Iorque.

Tudo começa com um excelente almoço:





Seguido de uma visita ao Museu de Arte Moderna:




Depois de caminharmos pela cidade, tivemos um jantar italiano delicioso:



Seguido de um saque tasting com sobremesa, em um restaurante japonês:



Melhor momento 2: Um dia como outro qualquer na vida de N&N.

Tudo começa com bom humor e bom café



O café é seguido de um pouco de trabalho nos infinitos papers e artigos e etc.(que não se documenta nunca porque nesses momentos estamos ocupados, trabalhando).

Daí vem o almoço, em um delicioso restaurante indiano.




E depois de mais trabalho duro durante a tarde, termina-se o dia em boa companhia e com um bom drink (ou talvez dois...):




Melhor momento 3: As frases de N.

Para quem perdeu o post anterior sobre isso, vale a pena ler. Para quem já leu, vale a pena reler. Segue uma nova série de frases, que acabaram de entrar na minha coleção.

"Brazil is not perfect, but is very human." (em resposta às minhas eternas reclamações...)

"Life is painful, so you might as well accept that and move on" (provavelmente eu ainda estava falando mal do Brasil e a N estava tentando mudar o assunto para algo mais interessante...)

"Relationships become part of you and make you wiser" (eu devia estar reclamando da estrutura das relações pessoais no Brasil...)

"You are just reacting to your Brazilian experience and expressing your resentment with it" (em resposta às minhas reclamações sobre Cuba)

"Professional success sometimes is a symptom of personal misery" (provavelmente em resposta ao meu comentário de que o Brasil ia ser mais desenvolvido se as pessoas jogassem menos futebol, assistissem menos TV, e lessem mais livros. Ou era simplesmente um comentário sobre minha vida. Talvez os dois...)

Melhor momento 4: N&N mostrando que acadêmicos podem ser chamosos e elegantes!




Melhor momento 5: "Girls day out" num dia de verão

Tudo começa com um passeio nas Toronto islands






passa por compras de sapatos novos depois do almoço, e termina com café gelado.





É isso aí, pessoal!

Música do dia

(e trilha sonora de uma filme super bacana).


domingo, 22 de novembro de 2009

O segredo da felicidade

Enquanto eu estava no Brasil, meus pais me convidaram para assistir um dos programs favoritos deles, o programa da Oprah. Por coincidência, essa semana a Oprah anunciou que vai parar de fazer o "talk show". Achei, portanto, que valia a pena relatar aqui minha experiência. Afinal, essa foi provavelmente a primeira e a única vez em que vou ver ela em ação.

No dia em que eu assisti o programa, o tema eram as cidades que se auto-declararam as mais felizes do mundo. Segundo uma pesquisa da revista Forbes, o Rio de Janeiro não só estava na lista, mas estava no topo da lista. Portanto, não era um show comum - havia todo um alvoroço sobre o fato de que o Brasil ia aparecer no show. Mas o mais interessante (ao menos pra mim) não foi ver meu país retratado no famoso "talk show", mas foi pensar, ainda na metade do programa, que eu tinha descoberto a fórmula da felicidade.

A Oprah tinha entrevistado uma médica em Dubai que estava explicando como era a vida lá. A médica disse que eles não pagavam impostos. A Oprah perguntou como que eles não pagavam impostos. A médica explicou que eles não pagavam impostos lá por que eles ganhavam menos que em outros países.

(pausa para meus leitores relerem a frase anterior. Sim, ela disse isso.)

Vale ressaltar que a mulher tinha uma boa educação: falava inglês fluentemente e tinha diploma universitário.
E ela não apenas era médica, mas morava em uma mansão com vários empregados, babás, etc. Ainda assim, era ignorava o fato de que qualquer estado, em qualquer país, precisa recolher impostos para funcionar. Alguém tem que pagar o salário dos servidores públicos e ninguém precisa de diploma universitário pra entender que dinheiro não cai do céu. Portanto, se Dubai não cobra impostos dos seus cidadãos, é porque tem alguma outra fonte de renda (petróleo, no caso).

Daí chegou o tão esperado momento de ver o Rio. Aparece uma carioca de classe média mostrando a casa, os filhos, a empregada, etc. Daí vem a entrevista com a Oprah. A Oprah pergunta sobre as várias mortes que ocorreram alguns dias antes, em um confronto entre policiais e traficantes em um dos morros. A carioca responde que todos os cidadãos sentiam muito pelas famílias das vítimas e que as mortes tinham sido uma tragédia. Daí a Oprah pergunta como o Rio é feliz com tanta violência. E a carioca explica que violência não é uma coisa do dia-a-dia da cidade. Notem que tem um não na frase. Eu só consegui me perguntar em que ano essa mulher parou de ler os jornais. Deve ter sido há pelo menos uma década atrás. Ou a mulher considera que Rio quer dizer Zona Sul, e que as mortes que ocorrem diariamente fora da Zona Sul não contam nas estatísticas. Precisamos só avisar o prefeito que a cidade encolheu e ele não precisa mais se preocupar com o resto...

Enfim, as cidades mais felizes do mundo têm uma coisa em comum: a distância entre a fantasia e a realidade é tão grande que as pessoas conseguem ser felizes. Afinal, elas não vivem naquelas cidades de fato, mas no mundo de fantasia que elas criaram.

Estava eu feliz com minha conclusão sobre o segredo da felicidade até ler um artigo alguns dias depois do show que me fez perguntar se a relação de causalidade é essa mesmo.
O artigo falava de uma pesquisa recente, segundo a qual pessoas mal-humoradas tem melhor memória e melhor percepção da realidade. Ou seja, a dúvida que surgiu na minha cabeça é a seguinte: se todas as pessoas que são felizes ignoram a realidade, o que é causa o que é consequência? Pode ser que as pessoas sejam felizes porque ignoram a realidade, como eu sugeri há pouco. Mas pode ser o contrário, como sugere essa pesquisa:

The study, authored by psychology professor Joseph Forgas at the University of New South Wales, showed that people in a negative mood were more critical of, and paid more attention to, their surroundings than happier people, who were more likely to believe anything they were told.

Isso sugere que talvez as pessoas não percebem a realidade porque são felizes e não o contrário. Se isso for verdade, continuamos sem saber o que pode fazer algumas pessoas mais felizes que outras, já que a ignorância é consequência (e não causa) da felicidade. Mas eu ainda tenho certeza que a médica que ignora o tipo de governo que eles tem em Dubai, e a carioca que ignora a violência no Rio são ainda mais felizes por viverem numa ilha da fantasia que elas mesmas criaram.

O que fazer com esse povo? Como diz minha sábia prima: "Tá feliz? Deixa". Um dia os pobres vão descer armados do morro no Rio pra contar umas verdades para as classes média e alta. Ou, como parece prever a The Economist, se a desigualdade continuar a diminuir, os pobres vão virar classe média, entrar no consumismo pouco sensato dessa classe, e o país vai crescer ainda mais. Para isso acontecer, todavia, a atual classe média precisa perceber que políticas de redução da desigualdade como bolsa família aumentam as chances da segunda hipótese, e reduzem a probabilidade da primeira hipótese acontecer. Se eles não perceberem isso a tempo, meu conselho pra classe média brasileira é: aproveitem bastante, que a felicidade vai ser eterna enquanto durar.


Subindo na vida

Rcentemente, meus pais mudaram para um apartamento novo e eu também. E, sem perceber, escolhemos apartamentos no mesmo andar. Meus pais compraram um apartamento no 13o. andar. No prédio deles, todavia, antes do térreo, há três andares de garagem. Eles estão, portanto, no 16o., se contarmos o térreo como andar zero.

Eu, por outro lado, estou no 18o. andar, mas meu prédio não tem 13o. (eles chamam o 13o. de 14o.). Não tem botão para 13o. no elevador... Portanto, se contarmos os andares, estou na verdade no 17o. Além disso, aqui no Canadá o térreo é o primeiro andar. Ou seja, quando eu entro no elevador pra ir para o térreo eu aperto o 1o. Portanto, se contarmos o andar térreo como zero, eu estou tecnicamente no 16o.

Mas o mais importante disso tudo é que nós dois casos a habitação anterior era uma casa térrea. Estamos todos, portanto, subindo na vida. E estamos subindo com qualidade: o ap. dos meus pais dá vista para o mar enquanto o meu tem vista para o lago Ontario (que é basicamente equivalente ao mar, de tão grande)!

P.S. - Caso você esteja se perguntando como eu parei para pensar nisso tudo, minha resposta é ócio. Puro, completo, e absoluto ócio. O ditado diz que mente vazia é oficina do diabo, mas acho que o diabo devia estar de férias e deixou um engenheiro ou um matemático que estava por lá dando bobeira encarregado do inferno por uns dias...


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Música do dia

Onde ir (não achei a versão da Monica Salmaso, que é a que eu ouço, mas essa versão da Vanessa da Mata não fica muito atrás. Ironicamente, o vídeo foi feito por uma brazuca que mora em Toronto...).

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Por favor, não se mirem no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Semana passada, enquanto eu caminhava pelas ruas de Santos com a minha mãe, tivemos a oportunidade de ouvir a seguinte conversa entre uma mãe e sua filha, de uns nove anos:

- Mãe, porque você não fala com o Pedrinho?
- Ah, minha filha. Acho que não vai resolver o problema falar com o Pedrinho. Você sabe que o Pedrinho não fala muito e não gosta de conversar.
- Por que o Pedrinho não gosta de conversar?
- Porque os homens são assim, minha filha. Eles não falam. Eles se entendem, de alguma forma, sem se falar.
- E as mulheres, mãe?
- Ah, minha filha, as mulheres adoram falar. Você não vê? Quando junta um monte de mulher, elas não param de falar.

Tanto eu quanto minha mãe achamos graça da conversa, mas provavelmente por razões distintas. Minha mãe deve ter achado graça da menina curiosa descobrindo as complexidades do mundo em que vivemos. Em contrapartida, eu achei engraçado que, enquanto a menina estava descobrindo as complexidades do mundo aos 9 anos, eu só estou descobrindo elas agora.

Recentemente eu comecei a participar de um clube de corrida com mulheres e foi só então que eu percebi que existe uma dinâmica bastante única quando se está em um grupo só de mulheres. Fala-se muito. Fala-se de todos os assuntos. Todas falam ao mesmo tempo e os tópicos não seguem qualquer ordem lógica. O assunto começa, se perde, aparece de novo e de repente já foi atropelado por alguma outra coisa. E fala-se de coisas pessoais. Para quem não foi treinada na dinâmica, como eu, é difícil acompanhar o ritmo. Os homens, em contrapartida, têm conversas mais lineares, mais ordenadas, mais contidas e certamente menos pessoais. As diferentes dinâmicas se devem, em parte, ao fato de que a estrutura do pensamento dos homens é diferente da estrutura de pensamento das mulheres.

Daí eu comecei a pensar por que diabos eu não era treinada naquela dinâmica. E não foi difícil descobrir: na maior parte da minha vida adulta, eu interagi primordialmente com homens. Já no segundo grau, o número de de professores homens superava em muito o de mulheres. Na faculdade, o número de professoras mulheres era irrisório. No escritório de advocacia, havia uma única sócia, em outro departamento (ou seja, nossa interação se limitava a um "oi" quando nós nos encontrávamos no banheiro). Todo mundo que podia me dar ordens (sócios e advogados sêniors) eram homens. No centro de pesquisa, de quarenta pesquisadores, eu era uma dentre duas mulheres.

Os números melhoraram um pouco quando fui morar nos Estados Unidos e depois no Canadá (minha orientadora no doutorado era uma mulher e a diretora da faculdade de direito aqui também é). Mas, ainda assim, aqui em Toronto eu trabalho primordialmente com colegas homens. Ou seja, no dia-a-dia, eu lido mais com homens do que com mulheres, desde que entrei no segundo grau até hoje. E o mais interessante é que eu nunca tinha percebido isso.

Eu podia facilmente ter virado uma feminista, mas curiosamente eu não virei. E hoje eu descobri que não estou sozinha. Uma jornalista que foi editora do Wall Street Journal publicou um artigo interessantíssimo no New York Times falando que tem uma geração inteira de mulheres como eu. Segundo ela, essa geração de mulheres assumiu que igualdade era um fato da realidade. Muitas olharam com desprezo para o movimento de liberação das mulheres (movimento feminista). Isso era considerado uma coisa que mulheres histéricas, mal-humoradas e rancorosas tinha feito no passado. Essas mulheres acharam que já tinham superado isso. Eram pós-feministas. Afinal, elas viviam em pé de igualdade com os homens.

Porém, quando elas saíram para o mundo, descobriram que as coisas não eram bem assim. E não eram mesmo. Eu, pessoalmente, tenho uma história pra adicionar à lista de histórias no artigo. Um professor, ao ouvir sobre meus planos de estudar no exterior, perguntou porque eu queria ir para os Estados Unidos. Eu disse que o mestrado lá tinha mais prestígio e era mais valorizado pelos escritórios de advocacia no Brasil. Ele imediatamente respondeu que eu devia era fazer mestrado no Brasil pois isso era suficiente para garantir uma vaga na academia jurídica brasileira. Quanto ao escritório de advocacia, o conselho ele era aproveitar o privilégio de ser mulher, pois isso significava que eu podia ser acadêmica em tempo integral, sendo sustentada pelo meu marido. Os homens, infelizmente, não tinham essa "privilégio". Vocês podem imaginar que minha resposta não foi humilde, e muito menos educada...

De novo, eu não estava sozinha. O artigo do NYT mostra que essa geração batalhou para mudar as coisas e, de fato, não só paramos de ouvir desaforos, mas os números mudaram. Vivemos hoje em um mundo dominado por mulheres. Elas ocupam posições importantes em cargos públicos ao redor do mundo e, ao menos nos Estados Unidos, já compõem metade da população econômicamente ativa e provêm o sustento da família em 40% dos lares. Nada mal pra quem não era sequer considerada pessoa há algumas décadas atrás...

Mas o mais interessante do artigo é que ele também mostra que esse sucesso é, em grande parte, ilusório. O números mudaram, mas as atitudes não. O problema não é só de número, mas também de percepções que, segundo a autora, só vão ser mudadas se nós mudarmos os termos da conversa. Nesse sentido, ela sugere três medidas:

1. Meninas precisam assumir riscos.

Precisamos falar para as meninas que elas precisam ter auto-confiança, e que elas não precisam ser sempre "boas meninas". Meninas precisam ser agressivas no mercado de trabalho. Precisam pedir promoção. Precisam brigar por seu espaço, como os homens fazem. Meninas também precisam aprender a apostar. Elas precisam rejeitar essa cultura que celebra a perfeição das mulheres em manter sua aparência física e sua casa em perfeita ordem. Elas precisam aprender que vão falhar, as vezes, e suceder outras, mas no processo de assumir riscos vão aprender muito.

2. Meninas precisam aprender a ter senso de humor

Nesse mundo cruel, isso é imprescindível não só para se sobreviver como também para manter sua sanidade mental. Para os que lêem inglês, não percam a história do cartão de Natal que a Martha Stewart mandou para amigos e conhecidos quando estava na prisão.

3. Meninas precisam perder o medo de serem meninas.

E aqui nós voltamos à Santos. A mãe estava fazendo exatamente isso: mostrando que mulheres têm uma cultura diferente dos homens. O que ela podia fazer também é enfatizar que essas diferenças nos dão várias vantagens sobre os homens. Segundo a autora do artigo, mulheres são mais capazes de suportar dificuldades e sofrimento. Mulheres também definem sucesso de forma diferenciada e muito mais relativizada que os homens. Por exemplo, poder ficar em casa com seus filhos também pode ser uma medida de sucesso. Em suma, mulheres não apenas são capazes de ocupar posições importantes e ter salários altos como homens, mas elas também têm uma capacidade de lidar com tempos difíceis que podem dar a elas uma grande vantagem em tempos de crise, como os tempos atuais.

E, como não poderia deixar de ser, essa conversa toda aconteceu em uma roda virtual de mulheres: a mãe na rua, falando com a filha, a editora escrevendo no New York Times, e eu blogando sobre o assunto depois de ter presenciado a conversa com a minha mãe. Acho que isso só prova que além de sermos mais resistentes a tempos difíceis, nós continuamos sendo mais tagarelas. E talvez essa capacidade de se comunicar é exatamente o que nos dá forças para suportar tempos difíceis. Se algum cientista provar que isso é verdade, acho que merecia uma manchete de jornal: "Mulheres provam que quem tem boca não só vai, mas também conquista Roma."

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Churrasco na Laje

Esse fim de semana tanto eu quanto a L. tivemos nosso primeiro churrasco na laje, um ritual brasileiro de longa data que é explicado em detalhe aqui. Nossa atitude no evento, todavia, foi diametralmente oposta. Eu ganhei uma garrafa de cachaça de Parati de presente, enchi a lata e desmaiei no sofá (as fotos foram devidamente vetadas). Enquanto isso, a L., como uma pessoa adulta, madura e responsável, se encarregou de várias questões de suma importância para a família. Achei que valia a pena documentar a atitude dela, pra que isso sirva de modelo para as futuras gerações da família Pinto (piada interna. Se você não faz parte da família, não pergunte de onde vem o nome, please).

No início do churrasco, L. entrou no seu templo do pensamento, para refletir melhor sobre as coisas.
Com o auxílio de suas bolas de relaxamento, que a ajudam a pensar, ela ouviu cuidadosamente os relatos de diversos membros da família das inúmeras questões em pauta no churrasco



Mesmo para L., que tem uma grande habilidade de lidar com questões complexas, os problemas da família Pinto não são simples



Mas ela não desistiu. Ao invés disso, chamou seu primo, G. que estava, até então, observando atentamente a família Pinto enquanto compunha algumas músicas



Juntos, no templo do pensamento, L. and G. elocubraram e discutiram à exaustão as questões familiares






De vez em quando, L. precisava se certificar que nenhum membro da família estava indevidamente escutando a conversa, mas exceto por isso a deliberação ocorreu sem maiores incidentes


Uma vez finalizado o processo decisório, L. partiu para a ação, enquanto G. estava muito cansado e preferiu não se envolver diretamente dessa vez





A primeira questão que L. teve que resolver foi a discussão sobre o controverso passeio de pedra: será que era de fato esteticamente agradável ou seria preferível algo mais funcional?

L. examinou cuidadosamente a invenção do arquiteto, examinando em detalhe as pedras





E deu seu veredito: o arquiteto deveria ter escolhido um outro tipo de pedra, que deixasse o "caminho" mais suave, criando assim menos riscos para os membros da família Pinto.


A preocupação de L. era que os membros da família não são muito equilibrados, em especial quando bebem um pouco, como ilustra a foto abaixo:



Depois disso, L. passou para uma análise cuidadosa da qualidade da carne servida





E sua conclusão foi que não apenas faltou coração de galinha na seleção de carnes compradas, mas o churrasqueiro não estava mantendo um padrão de qualidade dado que algumas carnes saiam mal passadas, enquanto outras saiam bem passadas. L. vetou, portanto, o selo de qualidade ISO 9000 para o churrasqueiro, que não gostou do veredito


L. passou então para uma discussão sobre psicanálise, dado que a série sobre psicanálise e cinema organizada pela sociedade de psicanálise de Santos precisa, segundo ela, de alguns aprimoramentos. A organizadora do evento ficou agradecida pelas dicas





L. passou então para uma laboriosa explicação sobre a arte de soprar velhinhas em bolos, dada para a aniversariante da semana.





A aniversariante achou que tinha tido uma grande performance mas, segundo L., ela pode ser ainda aprimorada


Mas L. enfatizou que, com o tempo, a aniversariante iria adquirir mais experiência e aprimorar sua técnica. A aniversariante ficou contente com a perspectiva de melhorar seu desempenho soprando velas de bolo no futuro


L. passou então a tratar das questões relativas ao transporte da família. Começou com os membros da família que são famosos por atingir coisas imóveis, como postes e hidrantes. Para esses membros, L. deu uma explicação detalhada das dimensões de uma veículo automotor e da lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço





L. passou então a dar aulas de direção para aqueles que estavam pensando em deixar de usar carros para usar motocicletas, dada a crescente aquisição de motos na família Pinto


L. terminou com uma explanação sobre meios alternativos de transporte, que não poluem o meio ambiente e deveria ser considerados como opções pela família. Ela deu inclusive demonstrações de como esses meios alternativos de transporte funcionam



L. passou então para uma análise do tipo de bebida consumida pela família.


Segundo ela, o tipo de cerveja escolhida fazia mal pra pele e deveria ser trocada por cachaça de Parati da próxima vez


E já que L. estava lidando com questões estéticas , ela reparou que alguns membros da família não estavam usando acessórios adequados e decidiu retirá-los para não manchar a imagem da família




Isso foi seguido de uma explicação sobre o tipo de acessórios adequados para um churrasco na laje



Depois desse dia intenso de trabalho, L. estava exausta


L. decidiu, então partir em um transatlântico para repousar e se recompor




Os membros da família Pinto se aglomeraram na laje, tentando visualisar o transatlântico e ficaram acompanhando o navio até o mesmo desaparecer no horizonte



Os que ficaram sobem todos os dias na laje para admirar o entardecer e a lua, aguardando o retorno da nossa guru.