sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um Ano Novo Brasileiro

Enquanto o natal foi canadense, meu ano novo foi bastante brazuca. Minha família decidiu - junto com as outras 70 milhões de pessoas no país -- apostar na loteria. Fizemos um bolão familiar, e compramos um bilhete da "mega-sena da virada".

É incrível como essas coisas mexem com a nossa cabeça. Apesar de saber que, segundo os cálculos estatísticos, nossa chances de ganhar eram mínimas, eu já estava fazendo planos de como ia gastar minha bolada. E a família inteira -- e os outros 70 milhões de apostadores -- estavam fazendo a mesma coisa. Como é possível saber racionalmente que a probabilidade de algo ocorrer é mínima e ainda assim deixar se levar por esse tipo de ilusão de que nós vamos ganhar na mega-sena da virada?

Eu não sei. Para mim é um grande mistério. Imagino que deve ser algo no meu sangue brazuca, dado que o Brasil é um dos países com o maior sistema de loteria no mundo, graças ao alto número de apostadores. Em poucos países a loteria é tão popular quanto no Brasil. O que poderia explicar esse fato de que a população brasileira simplesmente ignora a realidade (apresentada pela probabilidade estatística -- que é mínima -- de se ganhar na loteria), e continua fazendo "uma fezinha"? Não sei. Juro que não sei.

Mas o mais interessante foi ver os números sorteados e descobrir que acertamos só dois números. Esse foi o momento em que a realidade me atingiu como um tijolo na cabeça, e parei de sonhar com um futuro de extravaganças e voltei a pensar com um certo desapontamento que tinha que estar no trabalho na segunda-feira. Lembrei da minha avó. Minha avó sempre dizia que preferia comprar uma coxinha, a comprar um bilhete de loteria. "Bilhete de loteria é dinheiro jogado no lixo!". Sim, minha avó era assim: esses desvaneios não deveriam tomar o lugar da dura e crua realidade do mundo. Ela não precisava olhar para análises estatísticas sofiscadas para saber que não ia acontecer. E o cérebro dela tinha algo de muito sábio para não ignorar (ainda que momentaneamente) a realidade e dar vazão às esperanças vãs de virar milionário de um dia para outro.

E, se conheço bem minha avó, quando saísse o sorteio, ela provavelmente não ia nos poupar. Consigo visulizar ela virando para a família e falando: "Vocês deviam ter gasto esse dinheiro comprando uma ceia para o ano novo. Pelo menos a gente não tinha que cozinhar!". Sim, primeiro natal sem a minha avó e a família já está se metendo em encrenca... Como dizem por aqui, "I guess it is all downhill from here".

Um comentário:

Maria Regina disse...

Mariana:

Com a mega-sena da virada descobri uma coisa : que probabilidade é uma coisa pouco confiável. Os dois vencedores da mega da virada fizeram um jogo simples, de 2 reais, apostando 6 números. Acredite !

Beijos
Mãe