quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Menos a Luiza....

Existe um fenômeno internético que chama meme. De acordo com a explicação de J., que me mantém conectada com o mundo fora da academia, meme é qualquer coisa que se espalha como um vírus (pode ser um vídeo, uma foto ou uma frase) e de repente todos os internautas estão usando. As origens de um meme são variadas, mas com frequência são uma sátira do que seria uma tentativa bem intencionada de mostrar algo não hilário na internet. Meu conhecimento do assunto acaba aqui e, no momento, está muito tarde para eu pesquisa isso e trazer exemplos. 

A explicação do que é um meme, todavia, é necessária para que meu leitor entenda esse post. Parece que hoje o meme da internet era "exceto a Luiza, que está no Canadá". Usuários do Twitter passaram o dia circulando piadas, do tipo: vamos todos tomar uma cerveja, exceto a Luiza, que está no Canadá." Ou "estamos todos na chuva, exceto a Luiza, que está no Canadá". Etc. Como qualquer outro meme, a frase não faz o menor sentido, a não ser que você saiba da origem da mesma. 


Nesse caso, a origem foi curiosa, um comercial de TV paraibano: 



Um sujeito que mora no Canadá colocou no blog dele que isso não tem a menor graça (veja aqui). Eu discordo dele. Não apenas acho cômico, mas acho o meme muito útil. O meme claramente ironiza o ridículo da situação: o sujeito menciona, de repente, a filha no exterior. Qual a conexão com a propaganda? Aparentemente nenhuma. A não ser que você pense, com cuidado na classe média brasileira e seu deslumbramento com "o estrangeiro". Ter alguém da sua família no exterior, para muitas pessoas, é sinal de status. Ou seja, a mensagem da propaganda é: se sua família é rica o suficiente para mandar a filha para o exterior, você provavelmente é rico o suficiente para comprar um apê nesse "condomínio de alto padrão".


Alguém pode me explicar, por gentileza, em que mundo essas pessoas que fizeram o comercial vivem? Eles sabem que uma boa parte dos imigrantes são pessoas com diplomas universitários que estão ralando como lavador de pratos, empregadas, ou qualquer outro tipo de subemprego? E os que estão estudando? Esses são bancados pelos pais, com certeza, argumentariam alguns. Redondamente enganados. Fiz meu mestrado e doutorado nos Estados Unidos sem ter que pedir um tostão para meus pais. Tudo aqui se faz com empréstimos e bolsas (e muita ralação, devo acrescentar). 

Ou seja, uma propaganda dessas é trágica. O que me consola é que o meme revela que uma parte da sociedade brasileira está abandonando essa mentalidade de colonizado, segundo a qual o exterior é sempre melhor que o Brasil. Bendito o sujeito que criou o meme, e todos os que espalharam ele na internet. Eu não dou bola pra a maioria das baboseiras e mensagens pessoais que circulam na internet. Mas esse meme, pra mim, foi um ato político. Um protesto internético contra a mentalidade tacanha e retrógrada da "alta sociedade" brasileira. Ainda bem que há no Brasil essas pessoas não deslumbradas com o exterior.

E eles não estão sozinhos. Em agosto do ano passado, o N.Y Times publicou uma reportagem mostrando como jovens profissionais estão, cada vez mais, considerando o Brasil como um possível destino (veja aqui). No Brasil não só tem emprego, mas alguns dos salários, segundo a reportagem, são 50% mais altos do que nos Estado Unidos. A Luiza, portanto, deveria estar mesmo é no Brasil, se tivesse que trabalhar.

Está mais do que na hora de se rebelar contra o mito "do estrangeiro", meu povo. Aproveitem o momento, tanto o político quanto o econômico! As únicas pessoas que não vão fazer isso somos eu e a Luiza, pois estamos aqui -- freezing our asses -- no Canadá. Vou ligar pra ver se ela não quer tomar uma cerveja comigo...

Um comentário:

Mr. M. disse...

Mas quem quiser vir para cá tem que se preparar para umas coisinhas, particulares do impávido Colosso. Tive a pachorra de ler inteira a condenação do comediante Rafael Bastos (era do CQC, da Bandeirantes) por um juiz de nome sinfônico, aqui de SP. O Rafael Bastos havia feito - não sei se você se inteirou do caso - uma "piada" terrível, em resposta a uma observação do apresentador de que a cantora Wanessa, embora cantando e dançando mal como nunca, estivesse "uma gracinha grávida". Ele disse: " eu comia ela e o bebê". O insuportável na frase não era a demonstração do apetite sexual do comediante pela cantora, embora grávida, mas a sugestão (verdadeira mas repugnante) de que o bebê havia de participar da ação - tomar uns cascudos na cabeça, conforme C. Bukowski. Pois bem: o juiz se negou a citar a frase, e destrinchá-la naquilo que é de fato ofensiva, e construiu sua sentença em torno de citações literárias (Shakespeare, etc, não Bukowski), e frases grandiloquentes - e concluiu que houve dano moral. Pô, se não quer falar da coisa bruta, não seja juiz! Obs: também gostei do meme, e também quase fiquei com pena de você. Beijo.