Tem algumas coisas que precisam ser eternas. Eternas de verdade. Não aquele eterno pra inglês ver do Vinícius de Moraes, “eterno enquanto dure…” A frase é bonita, mas, no fundo, no fundo, todo mundo quer que seja eterno de verdade, não? Portanto, ponha-se a poesia de lado: ou é eterno ou não é eterno. Ponto.
Em homenagem a falta de poesia e ao excesso de pragmatismo na minha vida, aqui vai minha lista de coisas que eu queria que fossem eternas de verdade.
1. Os Angry Birds. Queria que fosse eterno, com infinitas fases. Mas as fases acabam. Você baixa a versão livre e um dia ela acaba. Daí você compra a versão “Angry Birds Rio”, inspirada na animação com o mesmo nome, e ela acaba também. Demora um pouco mais que a versão gratuita, mas acaba. Estou agora com a versão “Angry Birds Seasons”, mas já acabei o “Ano do Dragão” e não vai demorar pra acabar o resto. O Seasons é uma versão mais difícil que as anteriores, o que faz ela durar um pouquinho mais. Mas ainda assim, um dia eu vou passar todas as fases, e vai acabar. E vai chegar o dia em que eu não vou ter uma versão nova pra baixar. E só isso que temo. Não temo “a morte, angústia de quem vive”, mas sim a desilusão de ter que jogar Fruit Ninja…
2. O livro de crônicas do Antônio Prata. Minha irmã me deu o livro de presente de Natal e eu não conseguia parar de ler. O sujeito é muito bom. Talvez ele nem seja tão maravilhoso assim, mas temos exatamente a mesma idade. Portanto, acho que parte da história é que eu me identifico com a maioria das crônicas. Especialmente com as nostálgicas. Rolo de rir, sozinha no sofa. E o cara escreve bem. Cronista de primeira. Mas ler o livro foi doloroso. A cada página virada eu me via mais perto do final. Acho que devorei três quartos do livro em dois dias. Daí eu entrei em crise. Queria devorar o resto, mas se eu fizesse isso não ia ter mais crônicas do Antônio Prata para ler. Parecia um alcóolatra diante de uma garrafa de uísque. Decidi me disciplinar: uma crônica por noite - como um doce, que você guarda e passa o dia inteiro esperando para saboreá-lo. Mas o dia fatídico chegou. Li a última crônica e tive uma crise existencial: o que fazer sem as crônicas do Antônio Prata? Após um breve momento de pânico, comecei de novo. Releio uma crônica todo os dias, exceto nos dias em que sai uma crônica nova na Folha. Eu sei que você vai argumentar que as crônicas novas são produzidas semanalmente. Mas uma por semana não basta. Eu precisava de várias crônicas do Antônio Prata por dia, para consumir ao meu bel prazer. Mas é um bem finito, a ser apreciado com moderação. Um por dia, e uma nova por semana, enquanto durar o estoque. Só espero que Antônio Prata seja imortal, posto que ele não é chama…
3. O banho depois da corrida de sábado. Sábado é o dia que encontro com o pessoal do clube de corrida. Às vezes a gente se encontra durante a semana, mas é difícil coordenar todas as agendas profissionais. Portanto, os encontros durante a semana são ocasionais. Mas sábado é religioso. E fazemos uma longa corrida, de mais de uma hora, com mais uma hora de café, depois da corrida, pra colocar a conversa em dia. O problema é que depois de correr no frio e passar uma hora deixando o corpo esfriar, sentada em um café, chego em casa congelando. E eu não consigo colocar no papel qual é a sensação que sinto ao entrar debaixo do chuveiro quente. Não tem nenhum banho, em nenhuma circunstância, que supere a qualidade do meu banho na manhã de sábado. É quase uma experiência transcendental: os músculos cansados relaxando, a pele fria esquentando. Uma vez ouvi um programa de rádio no qual eles indicavam que moradores de rua passam anos sem dormir numa cama. Imagino que a sensação que sinto é similar a de um morador de rua deitando em uma cama pela primeira vez em vinte anos. E o mais difícil – claro -- é sair do banho. Pois todas aquelas sensações boas não desaparecem, desde que eu fique lá. Mas elas desaparecem quando eu saio debaixo do chuveiro e entro lá de novo mais tarde. Não funciona. Por isso meu dilema. Eu passo todas as minhas manhãs de sábado, debaixo do chuveiro, pensando que eu não queria que aquilo acabasse nunca. Queria ficar ali pra sempre. Por toda minha vida. Mas eu acabo saindo, porque não dá pra jogar Angry Birds ou ler o Antônio Prata no chuveiro…
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