Eu já havia confessado antes que sou viciada em Angry Birds. Ainda não sei porque eu gosto tanto do joguinho. Nunca fui muito apegada a jogos. E, se você pensar, é um jogo de aves contra porcos... Ou seja, qualquer profissional com mais de trinta anos que se preze teria vergonha de confessar que passa suas horas vagas se entretendo com isso. Entretanto, pela febre que viraram os bichinhos eu imagino que não estou sozinha. E minha intuição me diz que seria ostracizado quem declarasse que não gosta do jogo, e não o contrário.
Por que? De onde vem essa febre? O Malcom Gladwell, um dos meus escritores favoritos, escreveu um livro sugerindo que não passa de sorte ou acaso. O livro chama O Ponto da Virada e analiza vários fenômenos como esse dos Angry Brids. Gladwell chega à conclusão de que um jogo não fica famoso porque é necessariamente melhor que outros. Apenas acontece, de maneira inexplicável.
Apesar de gostar muito do Gladwell, eu não consigo engolir a idéia de que tenha sido apenas acaso que esse jogo tenha feito tanto sucesso. Vejo por mim mesma: sou absolutamente viciada no jogo. E tenho, para explicar isso, algumas hipóteses.
A primeira é moral. É uma questão de justiça. Você usa aves que estão prontas para perder a vida para matar porcos malvados que roubaram os ovos dessas aves. É o mal contra o bem. E quando você não consegue matar os porcos, aqueles vilões verdes riem da sua cara e da cara das pobres aves injustiçadas, que foram indevidamente privadas de seus ovos. Há que se buscar um mundo mais justo. Já que não podemos fazer nada sobre a invasão do Pinheirinho, lutemos por essas pobres aves. Ou seja, it is a feel good game.
A segunda hipótese é lógica. É um jogo que exige conhecimento de física. Ângulos e velocidade contam muito. Se a ave bater no ângulo errado, você não mata o vilão, o porco. É quase como jogar sinuca. Na verdade, se você pensar que você bate bolinhas coloridas (disfarçadas de aves) em bolinhas verdes (disfarçadas de porcos), a coisa se assemelha muito à sinuca. Exceto que há alguns obstáculos no caminho. Trata-se, portanto, de uma versão ainda mais sofisticada da sinuca. Enquanto na sinuca é como você tivesse fazendo cálculos de física newtoniana, aqui você se sente fazendo física quântica. Ou seja, é um jogo de inteligência.
A terceira hipótese é mais instintiva, diria até psicológica. O jogo envolve aves kamikazes que abdicam de suas vidas e porcos que são alvos imóveis, mas ainda assim nada fáceis de ser atingidos. E há muita destruição nesse processo. Prédios desabam e bombas explodem. Ou seja, o jogo apela para algo muito primitivo dentro de nós. O mesmo senso de destruição que faz jogos de guerra parecerem atraentes para meninos na pré-adolescência. E o melhor é que toda a destruição é mascarada com cores, sons e figurinhas que fazem você se sentir melhor do que você se sentiria se tivesse atirando com uma metralhadora no soldado do exército inimigo. Afinal, nessa épocas em que impera o politicamente correto, poucas pessoas conseguem confessar que sentem prazer ao ver sangue inimigo na tela. Angry Birds não tem sangue visível, mas não é muito diferente não. Ou seja, é um jogo catártico.
Por fim, há as razões históricas. Acho que não é mera coincidência que os alvos sejam porcos malvados e mal intencionados. Esses eram os comunistas no livro do Orwell, a Revolução dos Bichos. Por outro lado, o símbolo dos Estados Unidos é uma ave, a águia. Ou seja, mais de vinte anos após a queda do muro de Berlim e a desintegração da União Soviética, estamos aqui revivendo e recriando um momento histórico. Afinal, sempre é bom reafirmar que, sim, o capitalismo venceu e os comunistas que comiam criancinhas desapareceram da face da terra... Ou seja, jogar Angry Birds é quase como escrever um posfácio para a Revolução dos Bichos, intitulado "A Contra-Revolução dos Bichos".
Escolha a que melhor lhe apetecer, mas aviso de antemão: qualquer que seja a razão, não há como vencer. Se você tentar resistir ao jogo, nunca vai ganhar. Portanto, faça como eu: se não pode vencê-los, una-se a eles.
A luta continua, companheiro!
Um comentário:
Infelizmente ainda se comem criancinhas aqui e acolá. São os porcos gordos às custas do povo miserável, como em Cuba e na Coreia do Norte. E há os proto-comedores-de-criancinhas, como o Chavez. Você viu a foto da filha dele, com um leque de dólares a cobrir-lhe a face com pudicícia? E a explicação da mãe, perfeita e reveladora do autêntico bolivarismo: “Eu disse a ela que o erro não foi tirar a foto. Foi publicá-la num meio onde há pessoas ignorantes que não respeitam os outros.” Ou o gesto da presidência da república, às vésperas da visita da Dilma à Cuba, e sob o fedor de mais um morto (por greve de fome), preso por crime de opinião: fornecer à Yoane Sanchez um visto para que livremente vagueie caso adentre o Brasil – e não seja deportada ipso facto, como ocorreu com os pugilistas cubanos. Todos sabem que o busílis é SAIR de Cuba... Pois bem, mas se ela por aqui se instalar, não poderá continuar o seu blog: “ O exilado político não pode ter atividade política no país que o recebe”, assevera Marco Aurélio Garcia. Então tá bom!
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1039837-se-pedir-asilo-ao-brasil-cubana-tera-que-deixar-blog.shtml
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