sábado, 5 de janeiro de 2013

Cada Escolha, uma Renúncia

Ainda lembro do dia em que ouvi essa frase pela primeira vez. Era agosto, fazia muito sol, e eu estava na praia de Ipanema falando de algo muito mais sério do que o ambiente ao meu redor permitia (provavelmente alguma política pública recentemente implementada no Brasil). Daí eu travei quando alguém me perguntou o que era um tradeoff. Depois de morar tantos anos fora, a gente começa a usar palavras em inglês sem notar. A gente se torna insensível ao fato de que nossos interlocutores não conhecem termos que são tão corriqueiros para nós, até sermos pegos de surpresa com um: 

- O que significa isso?

Uns cinco minutos tinham se passado e eu ainda tentava atabalhoadamente traduzir a palavra tradeoff no meio da praia de ipanema sem sucesso. Estava quase desistindo quando um dos meus interlocutores disse: 

- "Cada escolha, uma renúncia". 
- É isso mesmo! Eu disse, vibrando com a tradução. 
- Como você chegou nessa tradução? Perguntei. 
- É um verso de uma música de Charlie Brown Jr. 
 
E hoje a frase vem como título do primeiro post de 2013 porque fui relembrada dela, com bastante intensidade, nesses últimos dias de 2012.

Basicamente, meus dias no Brasil para as festividades de fim de ano foram caracterizados por três coisas: calor, caipirinhas e corridas. O problema é que, por mais que eu ame cada uma dessas três coisas, não dava para curtir as três ao mesmo tempo. 

Quando está muito quente, não dá para correr. Quase passei mal um dia que tentei correr as 10 da manhã na orla de Santos. Os termômetros marcavam 33 graus, e meu corpo protestava por todos seus poros contra minha insistência em fazer exercício físico naquelas condições. Como eu estava de férias, acordar antes das 10 da manhã não era uma opção muito atraente. Portanto, a corrida tinha que ser postergada para tarde da noite, quando o sol tinha desaparecido e a temperatura estava mais amena (28 graus....). 

O problema é que eu não corro muito bem depois de ter consumido umas caipirinhas. Portanto, para preservar a corrida da noite, eu era obrigada a passar o dia privada dessa deliciosa invenção brasileira. Só me restava o calor. Se não tivesse calor, eu podia correr quando acordasse, e tomar minha caipirinha logo depois. Todavia, por causa do calor, eu tinha que escolher: caipirinha ou corrida. Como a corrida era tarde da noite, eu estava muito cansada para sair atrás de uma caipirinha depois disso. Portanto, não rolava caipirinha e corrida no mesmo dia. 

Tenho certeza que o Charlie Brown Jr. pensou nessa frase em um dos muitos verões que ele deve ter passado na sua cidade natal, Santos. Mais do que isso, aposto que a frase apareceu enquanto ele enfrentava as mesmas agruras que eu estava passando nesse fim de ano por lá. Talvez ele tenha uma preferência por andar de skate ao invés de correr, e talvez prefira cerveja a caipirinha, mas o problema é o mesmo. Portanto, fica aqui meu agradecimento a ele, por essa contribuição para minha vida, ainda que eu não tenha tido a curiosidade de ouvir a música de onde veio o verso. Afinal, ainda preciso de muito mais maturidade do que tenho atualmente para apreciar verdadeiramente a poesia do Chorão... Mas um dia eu chego lá! 

2 comentários:

Marcelo disse...

Teve um dia desses aí que eu tomei três caipirinhas, mas não lembro se tive que correr depois... Mais fácil encontrar palavras em que se descreve a troca ou a tentativa de trocar com vantagem (barganhar, regatear) - trocar equilibrando perdas e ganhos, abrindo mão de alguma vantagem, requer oração completa e explicação.

M. disse...

Marcelo, caso não tenha lido, recomendo o livro Payback, de Margareth Atwood. O documentário não é tão bom, mas o livro é fascinante.

http://en.wikipedia.org/wiki/Payback:_Debt_and_the_Shadow_Side_of_Wealth