Minha irmã não se convenceu da minha teoria cultural de desenvolvimento. Ela argumentou que não era um problema de cultura, mas sim da estrutura da sociedade em que vivemos. O argumento dela era o seguinte: como os motoboys de São Paulo vão parar para fazer um protesto, se eles sabem que aquelas horas vão ser descontadas do pagamento deles e eles podem até ser demitidos se faltarem no emprego? E, ainda que eles assumam o risco de fazer o protesto, qual o incentivo que eles têm, se eles sabem que o governo não vai se sentir pressionado para pensar em políticas públicas adequadas (ou seja, ainda que o custo seja mínimo, o benefício provavelmente será nenhum)? E ela questionou ponto a ponto minha teoria cultural, mostrando que absolutamente tudo que eu estava falando podia ser descrito do ponto de vista da estrutura da nossa sociedade.
A resposta da minha irmã é muito mais esperançosa que a minha, pois é muito mais fácil mudar essas estruturas sociais do que mudar hábitos e costumes arraigados na nossa sociedade ao longo dos séculos. Mas o que mais me impressionou na resposta foi o fato dela ter formulado um argumento que muitos teóricos e acadêmicos formulam, sem nunca sequer ter lido nada sobre o assunto. Minha irmã articulou com precisão o que é conhecido como teorias institucionais de desenvolvimento, sem sequer saber que tal coisa existia. Isso é exatamente o que as escolas no Brasil não ensinam as pessoas a fazer.
As pessoas no Brasil não sabem que há dois tipos de inteligência. Uma inteligência está ligada ao acúmulo de informações. A outra está ligada à habilidade da pessoa de receber uma informação e processá-la analiticamente. Por exemplo, meu pai disse que quando eles estavam fazendo a mudança, o pessoal que estava carregando as caixas ficou impressionado com a quantidade de livro da Mariana. Um dos sujeitos falou:
- Nossa, essa Mariana deve ser um gênio. Acho que dá pra perguntar qualquer coisa pra essa tal de Mariana, que ela deve ter resposta pra tudo.
Ou seja, para esse sujeito, ser um gênio significa que eu tenho a habilidade de armazenar e reproduzir as informações contidas em livros escritos por outras pessoas. Isso, todavia, é um tipo de inteligência que têm muito pouco valor em países como os Estados Unidos e Canadá. Com internet, bancos de dados magníficos, uma produção acadêmica de fazer inveja a qualquer um, e bibliotecárias que encontram tudo que você precisa em questão de horas, as escolas aqui não perdem tempo valorizando memorização. Ao invés disso, as instituições de ensino aqui estão em busca de pessoas que conseguem fazer o que a Sarah fez: ao receber uma informação, elas conseguem analisar e pensar criticamente sobre aquela informação, e articular o pensamento de maneira coerente e sólida. Pra fazer isso, as pessoas não precisam ler. Elas precisam pensar. E quem é inteligente pensa coisas interessantes. E são essas pessoas que escrevem livros. O resto dos mortais são os que lêem livros e conseguem repetir o que os eles disseram. E os gênios são aqueles que pensam alguma coisa que ninguém -- absolutamente ninguém -- tinha pensado antes.
Mas o mais legal é que a minha irmã não é só inteligente assim, mas ela também tem estilo. Ela sabe vestir roupas legais, comprar móveis com desenhos inacreditáveis, e ter uma vida social saudável. Ou seja, minha irmã é cool. E mais do que isso, minha irmã é muito divertida (quem recebeu o e-mail convite pra festa de aniversário dela ontem, sabe do que estou falando). Ou seja, minha irmã é, de longe, uma versão aprimorada de mim.
Por causa disso, ontem eu participei de uma prova da Nike de 10Km em homenagem a ela. Afinal, não é todo mundo que tem a sorte de ter uma irmã assim.
E fica aqui minha 1 hora e 11 minutos de corrida (sem parar para caminhar) todos dedicados a ela.
Feliz Aniversário, S.!
2 comentários:
Com uma homenagem dessas, nem preciso falar quem é a versão aprimorada da história, né?!
Obrigada, irmã querida, pela generosidade dos seus elogios!
E pela 1 hora e 11 minutos de corrida (sem caminhar)...
Te espero para um brinde ao vivo e a cores!
Um beijão
Meninas, vocês duas são umas gracinhas!!!
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