quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cachinhos dourados vai viajar

Lembro vagamente de um história infantil em que uma menina de cachinhos dourados se perdia na floresta e de repente achava uma casa. Dentro da casa, ela achava três pratos de sopa na mesa. Um estava muito quente, outro estava muito frio e o terceiro estava perfeito. Depois de saciar sua fome, a menina subia para o quarto, onde encontrava três camas. Uma era muito dura, outra muito mole e a terceira era perfeita. E assim ia o conto.

Nesses últimos 15 dias, estou me sentindo um pouco como a personagem dessa história. No início de junho, embarquei para San Francisco, onde fui a uma conferência em um hotel cheio de frescura. A diária de 250 dólares por noite sugeria que eu ia ter uma estadia digna de chefe de estado, ou quiçá chefe da casa civil que faz "consultorias" milionárias em ano de eleição. E a entrada do hotel era de fato impressionate. Pé direito altíssimo, mármore pra todo lado, iluminação sofisticada, e tudo mais. Porém, ao chegar no quarto, tive a maior decepção. Pela bagatela de 250 dólares, me deram um quarto em que cabia uma cama e nada mais. Eu mal conseguia me mexer lá dentro. Além disso, a janela ficava de frente com outra janelas do hotel, me impedindo de abrir as cortinas a qualquer momento do dia ou da noite. Um horror.

Depois da conferência, mudei para um hotel mais barato, dado que os dias extras na Califórnia iam sair do meu bolso. Optei pela recomendação do Lonely Planet, que nunca falha. Por 85 dólares, consegui um quarto do tamanho do anterior, com uma decoração um pouco mais antiqüada e antiga, mas com uma janela que dava pra rua que eu podia abrir e fechar ao meu bel prazer. Uma evolução, sem dúvida, exceto pelo fato de que o quarto tinha dois grandes problemas. Um, que eu sabia quando fiz a reserva, era que os banheiros eram compartilhados. Tudo limpo e impecável, sem filas, mas ainda assim uma inconveniência. Não sei quantas vezes levantei sonolenta de manhã e descobri no meio do banho que deixei o sabonete ou o shampoo no quarto. O segundo problema, do qual eu não sabia quando fiz a reserva, era que as paredes eram de papelão. Ou seja, quando o hóspede do quarto ao lado chegava no hotel, parecia que estávamos dividindo o quarto, pois eu conseguia ouvir o sujeito até quando ele suspirava.

Assim como a Cachinhos Dourados, só na terceira tentativa eu achei o hotel perfeito. Fui da Califórnia para Costa Rica, para uma segunda conferência, e lá decidi passar uns dias a mais, por minha conta. Mas dessa vez fiquei hospedada no hotel da conferência. Foi perfeito. O quarto era grande, com mobília nova -- mas sem frescura --- e super iluminado. O banheiro era dentro do meu quarto (!) e era duas vezes o tamanho do banheiro do primeiro hotel em San Francisco. O hotel tinha um restaurante a beira da piscina,  onde serviam o café da manhã que estava incluído na diária, e eu não ouvi um pio dos meus vizinhos de quarto. Definitivamente uma das diárias de 170 dólares mais bem gastas na minha vida...

Nos três hotéis, a experiência se repetiu com o acesso a internet. No primeiro hotel, o acesso era cobrado (15 dólares por dia!) e era lento e quebrado. No segundo hotel também era lento e quebrado, mas era de graça... No terceiro hotel, em contrapartida, era rápido, eficiente e - pasmem - gratuito! 

E a história se repetiu no check-in. No primeiro hotel, uma atendente sorridente, eficiente e prestativa encheu minha paciência para eu subscrever ao cartão de fidelidade do hotel. Quase apelei pra mentira, para ela parar de insistir. Pensei em dizer que era minha primeira viagem, que eu nunca tinha viajado de avião e começar a chorar enquanto lamentava que eu não sabia quando ia ter outra oportunidade como essa. Também pensei em falar que eu só estava hospedada naquele hotel por causa de atividades ilícitas que estavam financiando minha estadia. Mas fiquei com medo dela insitir ainda assim. Era tarde, eu queria dormir, e acabei aceitando, contrariada. 

No segundo hotel, o sujeito mal falou comigo. Pediu meu nome, me deu a chave e apontou onde ficava o quarto. Achei melhor que no primeiro hotel -- afinal, antes ficar sem interação do  que ter uma desagradável. Mas nada bate o terceiro hotel. Nesse, além da recepcionista sorridente e prestat iva, eu ganhei um cookie quentinho, com pedacinhos de chocolate que derretiam na boca. Ganhei um cookie e eles ganharam meu coração. Passei todos os dias da minha estadia pensando em fazer o check-out e fazer o check-in de novo, só pra ganhar outro cookie. 

Não lembro qual foi o final da história da Cachinhos Dourados. Acho que o urso pai, a ursa mãe e o urso filho chegavam em casa e não ficavam nada felizes com o fato  de que alguém tinha comido a comida deles e deitado na cama deles. Todos os hotéis em que fiquei, em contraste, ficaram muito felizes com o fato de eu ter feito tudo que a Cachinhos Dourados fez e com o dinheiro que tive que pagar por isso. Eu, em contrapartida, vou pensar três vezes antes de me hospedar em hotéis super luxuosos ou tentar economizar dinheiro da próxima vez.

E definitavemente meu critério número um para selecionar hotéis a partir de agora é cookies no check-in. O resto é detalhe!

Um comentário:

Maria Regina disse...

Que memória , Mariana!!!