Depois de ler muitas retrospectivas do ano, resolvi fazer minha própria. Elenquei três motivos importantes para dedicar um espaço a isso no blog: 1) os eventos da minha vida são tão relevantes quanto os eventos que "mudaram o mundo", afinal eles mudaram meu mundinho; 2) preciso escrever um artigo sobre privatização no Brasil e estou procurando formas aceitáveis de procastinação -- escrever no blog, nesse momento, me parece mais atraente do que lavar a louça e ir no supermercado; 3) ficar listando as coisas boas que aconteceram na sua vida durante o ano deve ter algum benefício psicológico e, no meio do inverno, me pareceu apropriado gozar desse benefício.
Dadas as razões, vamos à minha ego trip:
1. Esse ano terminei de escrever um livro (em co-autoria com um colega) e comprei violetas. Dizem que toda pessoa precisa em algum momento escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore. Pensei que estando em um ambiente urbano, comprar violetas poderia perfeitamente substituir a idéia de plantar uma árvore. Sobre ter um filho, estou pensando em substituir esse item por outro livro, a ser escrito durante meu sabático. Acreditem: o mundo vai ser melhor com meus livros do que com meus filhos...
2. Corri meia maratona em outubro (21 Km), que ainda será devidamente relatada em um post.
3. Li três livros fantásticos: Eat, Pray, Love (sobre o qual escrevi em outro post), Everything is obvious (que foi recentemente traduzido para o português e já está a venda no Brasil) e Meio Intelectual, Meio de Esquerda (leia aqui a crônica que dá título ao livro). Além de serem escritos por gente com um humor e uma inteligência de tirar o chapéu, cada um dos livros me marcou por estar diretamente relacionado com algum aspecto da minha vida.
O primeiro livro está ligado às minhas viagens. Assim como a autora de Eat, Pray, Love viajei para três destinos que começam com a letra "i". Estive na Índia em janeiro, na Itália no meio do ano e fui para Israel agora em dezembro. A única diferença entre a autora e eu é que ela foi pra Indonésia ao invés de ir para Israel, mas estávamos ambas nessas viagens em busca de inspiração para escrever algo decente. A cada viagem, produzi uma nova versão de um paper sobre a privatização no Brasil (esse mesmo paper que eu precisaria estar revendo agora, enquanto procastino escrevendo este post...). Apesar da semelhança entre nossos destinos, tenho certeza que meu paper não vai ter o sucesso bombástico do livro de Liz Gilbert. Talvez parte da razão seja o fato de que eu decidi ir para três outros lugares ainda esse ano: Califórnia, Costa Rica e Cambridge (em Massachussets, não na Inglaterra). Notem que, apesar de viajar mais do que deveria, ao invés de trabalhar no paper, mantive a aliteração nos destinos das viagens. Afinal, é preciso ter prioridades na vida!
O segundo livro, Everything is Obvious [Tudo é Óbvio], está ligado ao meu trabalho. O autor argumenta que a gente fica tentando montar narrativas coerentes do passado, a fim de prever o futuro, mas todo esse exercício é uma grande ilusão. É fácil encontrar aparente racionalidade em uma série de eventos que já ocorreu, mas é praticamente impossível prever o que virá. Isso torna fútil qualquer tentativa de planejamento ou previsão. Por isso, as empresas que estão fazendo sucesso hoje são aquelas que tem flexibilidade para mudar rapidamente estratégias e se adaptar ao inesperado. O modelo mais marcante que o autor usa para demonstrar isso é a Zara, que muda toda sua produção de roupas em questão de uma ou duas semanas, a partir da demanda. Por exemplo: eles lançam duas blusas no mercado. Se uma vende muito e a outra vende pouco, eles passam a produzir mais da blusa bem-sucedida e interrompem imediatamente a produção daquela que não saiu. Diferentemente de outras empresas de roupa, que não tem flexibilidade na produção, a Zara consegue colocar e tirar um produto no mercado em duas semanas. Passando da estratégia de negócios para o plano acadêmico, o livro explica porque meu paper sobre a privatização no Brasil não vai ser um sucesso: eu estou tentando fazer exatamente o que o autor demonstra -- por A mais B -- que é uma grande farsa intelectual...
O terceiro está ligando ao meu tempo livre. O livro Meio Intelectual, Meio de Esquerda representa tudo o que eu quero ser quando crescer (mas, no momento, faço apenas nas horas vagas). Quero viver de crônicas. Crônicas bem escritas, espirituosas e bem humoradas como as do Antônio Prata. E, se vocês pensarem na mensagem do livro Everything is Obvious, escrever crônicas é um projeto mais digno. Ao invés de fazer isso, estou eu aqui dedicando minha vida profissional a escrever coisas intelectualmente elaboradas que criam falsas verdades e fazem instituições como Banco Mundial gastar milhões de dólares com projetos que vão dar com os burros n'água...
Conclusão: parece que a retrospectiva não foi tão animadora quanto se esperava e fiquei sem o benefício psicológico de me gabar das minhas conquistas. Eu estava indo bem até o ponto 2, mas a coisa degringolou a partir do 3. Ainda assim, no fim, teve algo de útil: estou devidamente convencida de que parar para escrever esse post ao invés de trabalhar no meu artigo foi um excelente uso do meu tempo.
E, dada as lições da retrospectiva 2011, minha resolução para o ano novo é escrever mais no blog. Daí eu vou fazer como a Zara: ver qual dos dois faz mais sucesso (meus papers ou o blog) e investir todo meu capital naquilo. Vocês sabiam que a maioria dos artigos acadêmicos são lidos por uma média de cinco pessoas, além do autor? Se contarmos meu pai, minha mãe, minha irmã, meu primo, meu tio, J., N. e T. (que são os leitores que marcam sua presença, de quando em quando, com comentários) meu blog já tem uma audiência maior que a maioria dos artigos que vou escrever na vida...
Estou até ponderando se seria uma boa idéia trocar a academia pela literatura em 2012. Se vocês pensarem comigo, é um projeto bastante factível. Depois que eu terminar de escrever meu segundo livro acadêmico (que vou substituir pelo filho), completo a listinha de coisas que uma pessoa tem que fazer na vida. Seguindo os passos da Liz Gilbert, com certeza já acumulei viagens o suficiente para escrever uns três romances. Daí, só falta passar a frequentar bares com a mesma frequência que o Antônio Prata.
Ok. Estou convencida da minha resolução para 2012: mais blog, mais bares e menos baboseiras acadêmicas!
Dadas as razões, vamos à minha ego trip:
1. Esse ano terminei de escrever um livro (em co-autoria com um colega) e comprei violetas. Dizem que toda pessoa precisa em algum momento escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore. Pensei que estando em um ambiente urbano, comprar violetas poderia perfeitamente substituir a idéia de plantar uma árvore. Sobre ter um filho, estou pensando em substituir esse item por outro livro, a ser escrito durante meu sabático. Acreditem: o mundo vai ser melhor com meus livros do que com meus filhos...
2. Corri meia maratona em outubro (21 Km), que ainda será devidamente relatada em um post.
3. Li três livros fantásticos: Eat, Pray, Love (sobre o qual escrevi em outro post), Everything is obvious (que foi recentemente traduzido para o português e já está a venda no Brasil) e Meio Intelectual, Meio de Esquerda (leia aqui a crônica que dá título ao livro). Além de serem escritos por gente com um humor e uma inteligência de tirar o chapéu, cada um dos livros me marcou por estar diretamente relacionado com algum aspecto da minha vida.
O primeiro livro está ligado às minhas viagens. Assim como a autora de Eat, Pray, Love viajei para três destinos que começam com a letra "i". Estive na Índia em janeiro, na Itália no meio do ano e fui para Israel agora em dezembro. A única diferença entre a autora e eu é que ela foi pra Indonésia ao invés de ir para Israel, mas estávamos ambas nessas viagens em busca de inspiração para escrever algo decente. A cada viagem, produzi uma nova versão de um paper sobre a privatização no Brasil (esse mesmo paper que eu precisaria estar revendo agora, enquanto procastino escrevendo este post...). Apesar da semelhança entre nossos destinos, tenho certeza que meu paper não vai ter o sucesso bombástico do livro de Liz Gilbert. Talvez parte da razão seja o fato de que eu decidi ir para três outros lugares ainda esse ano: Califórnia, Costa Rica e Cambridge (em Massachussets, não na Inglaterra). Notem que, apesar de viajar mais do que deveria, ao invés de trabalhar no paper, mantive a aliteração nos destinos das viagens. Afinal, é preciso ter prioridades na vida!
O segundo livro, Everything is Obvious [Tudo é Óbvio], está ligado ao meu trabalho. O autor argumenta que a gente fica tentando montar narrativas coerentes do passado, a fim de prever o futuro, mas todo esse exercício é uma grande ilusão. É fácil encontrar aparente racionalidade em uma série de eventos que já ocorreu, mas é praticamente impossível prever o que virá. Isso torna fútil qualquer tentativa de planejamento ou previsão. Por isso, as empresas que estão fazendo sucesso hoje são aquelas que tem flexibilidade para mudar rapidamente estratégias e se adaptar ao inesperado. O modelo mais marcante que o autor usa para demonstrar isso é a Zara, que muda toda sua produção de roupas em questão de uma ou duas semanas, a partir da demanda. Por exemplo: eles lançam duas blusas no mercado. Se uma vende muito e a outra vende pouco, eles passam a produzir mais da blusa bem-sucedida e interrompem imediatamente a produção daquela que não saiu. Diferentemente de outras empresas de roupa, que não tem flexibilidade na produção, a Zara consegue colocar e tirar um produto no mercado em duas semanas. Passando da estratégia de negócios para o plano acadêmico, o livro explica porque meu paper sobre a privatização no Brasil não vai ser um sucesso: eu estou tentando fazer exatamente o que o autor demonstra -- por A mais B -- que é uma grande farsa intelectual...
O terceiro está ligando ao meu tempo livre. O livro Meio Intelectual, Meio de Esquerda representa tudo o que eu quero ser quando crescer (mas, no momento, faço apenas nas horas vagas). Quero viver de crônicas. Crônicas bem escritas, espirituosas e bem humoradas como as do Antônio Prata. E, se vocês pensarem na mensagem do livro Everything is Obvious, escrever crônicas é um projeto mais digno. Ao invés de fazer isso, estou eu aqui dedicando minha vida profissional a escrever coisas intelectualmente elaboradas que criam falsas verdades e fazem instituições como Banco Mundial gastar milhões de dólares com projetos que vão dar com os burros n'água...
Conclusão: parece que a retrospectiva não foi tão animadora quanto se esperava e fiquei sem o benefício psicológico de me gabar das minhas conquistas. Eu estava indo bem até o ponto 2, mas a coisa degringolou a partir do 3. Ainda assim, no fim, teve algo de útil: estou devidamente convencida de que parar para escrever esse post ao invés de trabalhar no meu artigo foi um excelente uso do meu tempo.
E, dada as lições da retrospectiva 2011, minha resolução para o ano novo é escrever mais no blog. Daí eu vou fazer como a Zara: ver qual dos dois faz mais sucesso (meus papers ou o blog) e investir todo meu capital naquilo. Vocês sabiam que a maioria dos artigos acadêmicos são lidos por uma média de cinco pessoas, além do autor? Se contarmos meu pai, minha mãe, minha irmã, meu primo, meu tio, J., N. e T. (que são os leitores que marcam sua presença, de quando em quando, com comentários) meu blog já tem uma audiência maior que a maioria dos artigos que vou escrever na vida...
Estou até ponderando se seria uma boa idéia trocar a academia pela literatura em 2012. Se vocês pensarem comigo, é um projeto bastante factível. Depois que eu terminar de escrever meu segundo livro acadêmico (que vou substituir pelo filho), completo a listinha de coisas que uma pessoa tem que fazer na vida. Seguindo os passos da Liz Gilbert, com certeza já acumulei viagens o suficiente para escrever uns três romances. Daí, só falta passar a frequentar bares com a mesma frequência que o Antônio Prata.
Ok. Estou convencida da minha resolução para 2012: mais blog, mais bares e menos baboseiras acadêmicas!
Um comentário:
parabéns pelo livro - transmita-o ao seu colega também, se puder. mal consigo vislumbrar a complexidade da empreitada, e como deve ter sido difícil não se contaminar pelos clichês e pelo humor político peculiar que esses últimos anos trouxeram. é trabalho duro, lenha braba. mas não seja tão exigente, a questão é intelectual mesmo, e o repertório do pensamento soma, mesmo quando não acerta. e foda-se o banco mundial, cada um que se vire com os seus fracassos. acho que você deve ir pela literatura também, é um caminho natural e tem tudo para dar certo, mas o conflito não será menor nessas paragens. temos todos por cá muito orgulho por suas conquistas intelectuais. e cuidado com os bares, podem ser umas arapucas. ás vezes é melhor beber em casa mesmo. beijo!
Postar um comentário