domingo, 20 de janeiro de 2013

Don't Do It Yourself

O americano tem uma sigla DIY (Do It Yourself, Faça Você Mesmo) para se referir à idéia de que você pode se encarregar das tarefas da casa, mesmo as mais complicadas. Eu estou propondo aqui a sigla D2IY, Don't Do It Yourself, Não Faça Você Mesmo. Há ao menos duas razões para adotarmos essa segunda sigla como lema para nossas vidas, uma teórica e outra prática. 

A razão teórica é simples: há inúmeras vantagens na especialização e poucos benefícios na falta de especialização. Alguém no mundo se propõe a ser seu próprio encanador, médico, dentista e advogado? Não. Por que? Porque você vai precisar de mais tempo para se especializar em cada uma dessas coisas do que precisaria para se especializar em uma só. E ainda que você tope a empreitada, você ainda vai far um serviço inferior ao que faria uma pessoa que só faz aquilo, pois a experiência conta muito, como todos sabemos. É por isso que a gente passa anos se especializando em um determinada profissão e usa o dinheiro que conseguimos com aquela profissão para contratar os profissionais que necessitamos. 

Ou seja, as regras básicas segundo as quais organizamos nossa sociedade sugerem que a última coisa que queremos é DIY. Ao contrário, deixe para os especialistas, e gaste seu tempo fazendo o que você faz bem. Assim todo mundo ganha. 

A segunda razão -- a prática -- complementa a primeira. No mundo acadêmico, em geral pensamos assim: formulamos uma hipótese de como funciona o mundo. Daí discutimos essa hipótese teórica até chegarmos a conclusão de que ela parece lógica o suficiente para fazer sentido. Uma vez feito isso, passamos para o teste: basicamente verificamos se a hipótese teórica se confirma na prática. Caso não se confirme, precisamos voltar e reformular a hipótese. Portanto, tudo que eu disse até aqui era apenas teórico, ou seja, uma hipótese. Precisamos agora de evidências empíricas que confirmem a hipóteses.

O teste da hipótese eu mesma conduzi. Quando voltei de viagem encontrei dois problemas na casa onde moro (que foi construída em 1903 e tende a dar alguns probleminhas por causa da idade...). O primeiro era que não parava de correr água pela privada, mesmo quando ela não tinha sido acionada. Ou seja, havia algum tipo de vazamento. O segundo era no encanamento. Quando eu ligava a pia, saia água pelo ralo da banheira. Resolvi tentar resolver tudo sozinha, no melhor estilo DIY. 

Primeiro, tentei descobrir o problema da privada. Para isso, o You Tube é uma fonte insaciável de informação sobre como funcionam as privadas americanas (não sei sobre as brasileiras...). Com isso, foi fácil criar uma nova hipótese: acho que o problema está no que eles chamam de "flapper valve", que é relativamente fácil de trocar. Basta apenas comprar uma válvula nova, e seguir as instruções abaixo:



O problema é que minha tentativa de seguir as instruções foi frustrada. Comprei uma nova, vim pra casa, instalei ela seguindo as instruções e a água continuava vazando... 

Enquanto eu estava na loja de ferramentas para comprar a válvula, perguntei para o vendedor se ele podia me vender algo bem pesado para tapar o ralo da banheira. Ele perguntou se a água da pia estava subindo pela banheira. Quando respondi entusiasmadamente que sim, ele explicou que em casas muito antigas, o encanamento é todo interligado, e os canos são bastante estreitos (acho que era porque eles não usavam tanta água quanto usamos hoje em dia...). Portanto, eles tendem a entupir. Ele me deu uma solução ácida para jogar dentro do ralo e desobstruir o cano e me garantiu que ia resolver o problema.

Enfim, depois de trocar a válvula da privada, coloquei as luvas e as máscaras e joguei o ácido (ou o que quer que fosse aquilo), no ralo da banheira. Esse é um processo que exige que você não pense no meio ambiente, pois caso você pare para refletir sobre o impacto ambiental daquela substância que exige luvas e máscara para ser manipulada, você acaba desistindo...Afinal, a água do ralo para vai algum lugar. Torci para que fosse uma estação de tratamento super bem equipada (ou seja, apta a lidar com todos os químicos que eu estava mandando ralo abaixo) e mandei ver. Depois de meia hora, como recomendado nas instruções, liguei a torneira. A água ainda estava voltando. 

E foi assim que o encanador foi devidamente chamado, e me explicou que o problema da minha privada não era na válvula, mas no nível de água. A privada tem que encher até um certo ponto para que haja pressão d'água suficiente para a válvula fechar direito. A minha privada não estava enchendo e portanto a válvula não estava debaixo da quantidade exigida de pressão. O encanador abriu uma torneirinha lá dentro (que supostamente ajustava o nível de água), a privada encheu e tudo voltou ao normal. 

E o meu cálculo foi o seguinte:

Mariana: 30 minutos navegando na internet para entender como funciona a privada + 30 minutos indo até a loja comprar a válvula e voltar + 10 minutos para instalar a nova válvula + 5 minutos de frustação que não funcionou, acompanhado do pensamento, e agora?  = 1 hora e 15 minutos. 

Em contraste, com o encanador foi assim:

Mariana: 5 minutos procurando o telefone do encanador + 5 minutos dando oi para o encanador e explicando o problema + 5 minutos para ele virar a torneirinha e me explicar o que estava acontecendo = 15 minutos. 

Ou seja, eu poderia ter economizado uma hora da minha vida, se tivesse simplesmente ligado para o encanador. O mesmo cálculo funciona para a banheira, exceto que o encanador teve que passar meia hora desentupindo o cano no braço. Mas o benefício de chamar o encanador é que ele gasta meia hora fazendo isso, enquanto eu faço o meu trabalho. A outra alternativa seria: eu passo três horas fazendo que ele demoraria meia hora para fazer (pois eu ia ter que assistir vídeos no you tube, ir na loja, descobrir o que tinha dado errado com a primeira tentativa, tentar de novo, etc, etc). Além disso, eu ia ter que olhar e cheirar todas as coisas nojentas que saíram daquele cano. Quando eu penso nisso, eu fico absolutamente convencida de que o preço que eu paguei para o encanador fazer o serviço foi uma pechinça. 

Ainda não está convencido/a do D2IY? Pois aqui vai minha terceira evidência empírica. Eu e minha locadora decidimos pintar a sala intermediária, que liga os quartos na minha casa. A sala tinha uma tinta cinza que dava ao ambiente um ar de hospital público abandonado e me deixava deprimida. Como minha locadora é artista, ela se sensibilizou com minha sensibilidade a cores e veio ajudar. Usamos uma lata de tinta que ela tinha aberto antes para pintar as extremidades com pincéis e depois abrimos outra lata para pintarmos a parede com o rolo, como recomendam os vídeos do You Tube:



Demoramos 4 horas para passar uma mão de tinta. Os vídeos recomendam passar mais de uma mão, para evitar manchas. Mas parecia tudo muito bom quando terminamos a primeira mão e, sinceramente, ninguém queria ficar mais pintando. Então deixamos como estava. Resultado? Uma série de manchas, pois aquela segunda mão de tinta é de fato necessária. Mas o pior é que não notamos que a primeira e a segunda lata de tinta eram cores muito próximas, mas distintas. Então a parede está multi-colorida. O problema agora é que não estou disposta a gastar mais quatro horas da minha vida tentando corrigir o estrago. Lição do dia? Se eu tivesse chamado um pintor, nada disso tinha acontecido e eu ainda tinha 4 horas da minha vida de volta...

Começa aqui, portanto, minha campanha: D2IY, já!   

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai, M...
Deixe as paredes aí que eu dou um jeito qdo for visitar vcs!

Anônimo disse...

Ops, não era para ser Anônimo não!!! rsrsrs Viviane!